Presidente da Comissão Europeia defende reciprocidade comercial na cúpula com Xi Jinping, mas discurso revela pânico com o avanço chinês e incapacidade da UE de romper com o imperialismo estadunidense que a condena à irrelevância
Ursula von der Leyen desembarcou em Pequim nesta quinta-feira 21 de novembro de 2025 para a cúpula UE-China com o discurso pronto na ponta da língua: “reequilíbrio”. A presidente da Comissão Europeia repetiu à exaustão que a relação com a China precisa ser “mais equilibrada”, que a parceria estratégica compreensiva”. Traduzindo do jargão bruxelense: queremos vender mais para vocês, mas vocês não podem vender tanto para nós – especialmente carros elétricos, painéis solares e tudo o que a China produz melhor e mais barato.
O pânico disfarçado de firmeza
Em entrevista coletiva ao lado de Xi Jinping e do presidente do Conselho Europeu Charles Michel, von der Leyen foi direta: “A Europa não pode absorver a enorme sobra de capacidade produtiva chinesa subsidiada pelo Estado”. Falou em “acesso recíproco aos mercados”, em “redução de riscos” e em “competição leal”. Xi Jinping, sereno como sempre, respondeu que a China está aberta ao diálogo, defende o multilateralismo e rejeita “mentalidade de soma zero”.
A mídia hegemônica – Reuters, Financial Times, Le Monde – vendeu a visita como “Europa mostra firmeza”. Mas quem acompanha a contrainformação sabe ler o que está entre as linhas: é desespero. É a constatação de que a China já é o maior parceiro comercial da UE, que os carros elétricos chineses estão conquistando o mercado europeu mesmo com tarifas punitivas, que a Europa perdeu competitividade industrial irreversivelmente enquanto se ajoelhava às sanções americanas contra a Rússia e pagava gás liquefeito yankee três vezes mais caro.
A Europa que não existe mais
O que von der Leyen chama de “reequilíbrio” é, na verdade, tentativa patética de preservar privilégios que o Ocidente perdeu no terreno econômico. A China não precisa mais da Europa para crescer. Cresce com África, com América Latina, com Ásia, com o bloco anti-imperialista que coordena cada vez melhor enquanto o G7 se desintegra em russofobia e submissão a Trump. A UE, que já foi o maior mercado do mundo, agora é o continente que encolhe – demograficamente, economicamente, politicamente.
E o pior: von der Leyen foi a Pequim com o pires na mão. Pediu que a China “use sua influência sobre a Rússia” para encerrar a guerra na Ucrânia. Pediu moderação nas exportações de tecnologia de uso duplo. Pediu, pediu, pediu. Xi Jinping ouviu educadamente e respondeu com a mesma frase de sempre: “A China sempre esteve do lado da paz”. Traduzindo: não vamos trair aliados só porque a Europa, vassala de Washington, pede.
Porque é isso que a UE hoje: vassala. Aceitou destruir sua economia em nome de sanções que só beneficiaram os EUA. Aceitou ser hub logístico da guerra por procuração na Ucrânia. Aceitou ver sua indústria automobilística alemã ser esmagada pela concorrência chinesa enquanto Berlim gasta 5% do PIB em defesa para agradar a OTAN. E agora, quando Trump ameaça tarifas de 60% sobre produtos chineses e força a Europa a escolher lado, von der Leyen vai a Pequim falar em “reequilíbrio” como se a China fosse obrigada a aceitar as regras do clube dos ricos que ela própria já superou.
O cinismo que não engana mais ninguém
A mídia neoliberal chama isso de “pragmatismo”. Nós chamamos de cinismo ‘liberal’ em estado puro. A mesma Europa que impõe tarifas de 100% sobre carros elétricos chineses agora pede “competição leal”. A mesma Europa que mantém sanções contra metade do planeta agora pede que a China “modere” suas exportações. A mesma Europa que se ajoelhou a Trump em 2018 quando ele impôs tarifas sobre aço europeu agora finge que pode negociar de igual para igual com Pequim.
Mas o mundo mudou. A China não é mais a fábrica barata do Ocidente. É a maior economia em paridade de poder de compra, líder em veículos elétricos, energia renovável, 5G, inteligência artificial. É o país que constrói infraestrutura na África enquanto a Europa discute se pode ou não comprar vacina russa. É o país que coordena o bloco anti-imperialista enquanto a UE coordena… o quê? A submissão?
Xi Jinping foi cristalino: “Não há vencedores em guerra comercial”. Von der Leyen respondeu com o discurso ensaiado sobre “redução de riscos”. Mas o risco real para a Europa não é a China. É continuar sendo quintal do imperialismo estadunidense que a usa, explora e descarta quando não serve mais.
O reequilíbrio que a Europa realmente precisa
O reequilíbrio que a Europa precisa não é com a China. É com a realidade. É romper com o entreguismo que transformou o continente em vassalo de Washington. É entender que o futuro não está em alinhamento automático com o império em declínio, mas em coordenação com o Sul Global que cresce. É parar de ver a China como ameaça e começar a vê-la como parceiro em um mundo multipolar onde ninguém dita regras sozinho.
Porque enquanto von der Leyen pede “reciprocidade” em Pequim, Trump prepara tarifas que vão atingir também produtos europeus. Enquanto a UE ameaça sanções contra empresas chinesas, Washington negocia em segredo com Putin o fim da guerra ucraniana sem convidar Bruxelas. A Europa virou coadjuvante no próprio continente.
A cúpula de Pequim não mudou nada. Von der Leyen voltou de mãos abanando, com promessas vagas de “diálogo contínuo”. Xi Jinping voltou com a certeza de que o tempo joga a seu favor. E a Europa voltou com a certeza de que, se não romper com o imperialismo que a sufoca, será irrelevante antes do fim da década.
A contrainformação segue rompendo o cerco. Porque enquanto a mídia hegemônica chama isso de “reequilíbrio”, nós chamamos pelo nome que merece: tentativa desesperada de salvar privilégios de um Ocidente que já perdeu a hegemonia e agora só sabe mendigar.
A China não vai ceder. E a Europa, se quiser sobreviver como ator global, precisa parar de mendigar e começar a construir sua própria caminho – ao lado do Sul Global, não de joelhos perante Washington.
Fontes
Reuters – EU’s von der Leyen calls for rebalancing of relations with China
The Guardian – Von der Leyen urges China to help end Ukraine war during Beijing visit
Financial Times – Von der Leyen seeks ‘rebalancing’ in EU-China relations at Beijing summit
AP News – EU chief von der Leyen urges China to help end Ukraine war in Beijing visit
BBC – Von der Leyen in China: EU leader calls for fair competition
