Caracas denuncia ‘fabricação de conflito’ e ‘ameaças à paz’ após intensa movimentação de bombardeiros B-52 e navios de guerra norte-americanos próximo à sua costa.
O governo da Venezuela, liderado pelo presidente Nicolás Maduro e representado pelo embaixador Samuel Moncada, denunciou formalmente os Estados Unidos e solicitou ao Conselho de Segurança da ONU uma investigação aprofundada. As acusações são de “assassinatos”, “execuções extrajudiciais” e “operações clandestinas” atribuídas a Washington. Esta medida diplomática ocorre em resposta direta à escalada da presença militar norte-americana na região do Caribe, que inclui o sobrevoo de bombardeiros estratégicos B-52 e a aproximação de navios de guerra e helicópteros próximos à costa venezuelana. A movimentação das forças armadas dos EUA tem sido reportada com maior intensidade desde meados de outubro de 2025, conforme noticiado pelo G1/Globo. Caracas classifica as ações como uma “agressão” visando uma “mudança de regime” e a “apropriação de petróleo” venezuelano, enquanto Washington justifica sua presença como parte de operações antidrogas. Em meio a este cenário, a Venezuela tem reagido armando sua população e realizando exercícios militares permanentes, intensificando a retórica de defesa nacional diante do que considera uma ameaça iminente à sua soberania.
Contexto
A tensão entre Estados Unidos e Venezuela não é um fenômeno recente, mas tem se acentuado drasticamente nos últimos anos, marcada por sanções econômicas impostas por Washington e acusações de interferência na política interna venezuelana. A presença militar americana no Caribe é frequentemente justificada como parte de esforços para combater o narcotráfico na região, uma narrativa que o governo venezuelano refuta veementemente, alegando que serve como pretexto para uma agenda de desestabilização. A escalada atual atingiu um novo patamar com a detecção de bombardeiros B-52, aeronaves com capacidade nuclear, e uma crescente frota naval e aérea próximas à soberania marítima venezuelana, conforme destacado pela Gazeta do Povo.
O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, tem sido a voz principal de Caracas no cenário internacional. Ele afirmou que os EUA estão “fabricando um conflito” e que há “um assassino à solta” na região, referindo-se às supostas operações clandestinas e execuções. A solicitação ao Conselho de Segurança da ONU visa, portanto, legitimar a preocupação venezuelana e buscar uma condenação internacional para as ações que considera desestabilizadoras. A France Presse (AFP) e outros veículos internacionais têm reportado a constante movimentação de tropas e equipamentos americanos, alimentando a percepção de uma ameaça crescente por parte do governo de Maduro.
Em resposta ao que descreve como uma iminente agressão, o presidente Nicolás Maduro tem mobilizado suas forças armadas e incentivado a organização de milícias civis, conforme revelado pelo G1/Globo, posicionando tropas e colocando a defesa do país “nas mãos do povo”. Essa estratégia visa não apenas dissuadir um possível ataque, mas também reforçar a coesão interna e a narrativa de resistência contra uma potência externa. As declarações do ministro do Interior, Diosdado Cabello, também ressaltam a seriedade com que Caracas percebe a ameaça, mantendo a população e as forças armadas em estado de alerta permanente, com exercícios militares contínuos por toda a nação caribenha.
Impactos da Decisão
A decisão da Venezuela de acionar o Conselho de Segurança da ONU e as ações militares subsequentes têm profundas implicações geopolíticas para a região do Caribe e para as relações internacionais. A formalização da queixa na ONU eleva o conflito a um patamar global, exigindo que as grandes potências membros do Conselho tomem posições, o que pode acirrar as divisões já existentes ou, em um cenário otimista, abrir caminhos para a diplomacia e a desescalada. A instabilidade gerada por essa tensão pode afetar diretamente a segurança energética, dado o papel da Venezuela como um dos maiores detentores de reservas de petróleo do mundo, impactando os mercados globais de commodities.
No âmbito econômico, a persistência ou agravamento da tensão militar no Caribe pode afastar investimentos e prejudicar o comércio na região, que já lida com fragilidades estruturais e a dependência do turismo. A perspectiva de um conflito armado, mesmo que de baixa intensidade, gera incerteza, o que é um veneno para a estabilidade econômica. Além disso, as sanções econômicas já em vigor contra a Venezuela poderiam ser intensificadas, resultando em maior sofrimento para a população venezuelana, que já enfrenta uma grave crise humanitária e econômica. A apropriação de petróleo, mencionada por Caracas, seria um cenário catastrófico de instabilidade regional.
Socialmente, a militarização da resposta venezuelana, com o armamento da população, cria um ambiente de apreensão e pode ter consequências humanitárias significativas em caso de confrontos. A retórica inflamada de ambos os lados aumenta o risco de incidentes e erros de cálculo. Para os atores regionais, como o Brasil e outros países da América Latina, a crise representa um dilema diplomático complexo, exigindo posições cuidadosas que evitem escalar o conflito, mas que também defendam princípios de soberania e não-intervenção. A comunidade internacional observará atentamente os próximos movimentos de Washington e Caracas, bem como a resposta da ONU, que terá um papel crucial na mediação.
Próximos Passos
O foco imediato estará na reação do Conselho de Segurança da ONU à solicitação formal da Venezuela. O Conselho pode convocar sessões emergenciais para debater a questão, solicitar relatórios independentes ou até mesmo considerar a adoção de resoluções que condenem as ações militares ou exijam a desescalada. A capacidade da Venezuela de angariar apoio entre os membros do Conselho, especialmente entre aqueles com poder de veto, será determinante para o impacto de sua denúncia. Um silêncio da ONU ou uma resposta morna poderia ser interpretado por Caracas como um sinal verde para a intensificação das ações diplomáticas ou, por Washington, como validação de suas operações.
No plano militar, a observação das movimentações de tropas e equipamentos no Caribe continuará sendo um indicador-chave da direção da crise. A presença de bombardeiros B-52 e navios de guerra americanos é um sinal claro da projeção de força dos EUA. A Venezuela, por sua vez, manterá seus exercícios militares e a vigilância sobre suas fronteiras, enquanto a população armada representa uma camada adicional de complexidade e risco. É fundamental que ambos os lados evitem quaisquer atos que possam ser interpretados como provocação, a fim de não deflagrar um conflito maior, cujas consequências seriam imprevisíveis para a estabilidade regional.
Diplomaticamente, a busca por canais de diálogo e mediação por parte de países neutros ou organizações regionais pode se tornar essencial. A história recente mostra que a comunicação direta entre EUA e Venezuela tem sido esporádica e frequentemente tensa. A reabertura de negociações ou a atuação de mediadores pode ser a única via para encontrar uma solução pacífica e evitar uma escalada ainda maior da tensão militar e diplomática. A comunidade internacional aguarda por sinais de desescalada e pela priorização da diplomacia em detrimento da demonstração de força, visando a proteção dos direitos humanos e a manutenção da paz na região.
Fonte:
Terra – Venezuela denuncia ações dos EUA no Caribe e diz que há ‘um assassino à solta’ na região. Terra
G1/Globo – Governo Maduro posiciona tropas e coloca ‘nas mãos do povo’ diante de avanço de embarcações dos EUA no Caribe. G1/Globo
Gazeta do Povo – B-52: o avião de poder nuclear dos EUA perto da Venezuela. Gazeta do Povo
