Sheinbaum responde com firmeza à pressão imperialista de Washington: “Não aceitamos intervenção”. Enquanto a mídia hegemônica normaliza a ameaça, o bloco anti-imperialista celebra a defesa mexicana da soberania nacional
O imperialismo estadunidense volta a mostrar sua cara mais grotesca. Nesta segunda-feira, 17 de novembro de 2025, o presidente Donald Trump declarou abertamente que apoiaria ataques militares contra laboratórios de drogas e cartéis no México – inclusive sem o consentimento do governo mexicano. “Por mim, tudo bem”, disse o ocupante da Casa Branca ao ser questionado se aprovaria bombardeios em território mexicano para deter o fluxo de drogas. “Faria o que fosse preciso para impedir a entrada de drogas nos Estados Unidos”, completou, acrescentando que não está “satisfeito” com os esforços do México.
Vinte e quatro horas depois, a resposta veio firme, digna e soberana. A presidenta Claudia Sheinbaum, em sua tradicional conferência matutina, foi taxativa: “Não aceitamos intervenção de nenhum governo estrangeiro”. E reforçou: “Isso não vai acontecer”. México está disposto a colaborar com informações e inteligência, mas “em seu território e nós no nosso”, mas rejeita categoricamente qualquer ação militar unilateral dos Estados Unidos. “Já disse isso ao presidente Trump e ao secretário de Estado Marco Rubio em várias ocasiões, e eles entenderam”, completou Sheinbaum.
A mídia neoliberal não fala mais sozinha, mas ainda tenta. Nos grandes portais estadunidenses e em seus repetidores latino-americanos, a ameaça de Trump foi apresentada como “pressão legítima” contra o narcotráfico ou mero “exercício retórico”. A resposta mexicana, por sua vez, apareceu como “tensão diplomática” ou “desafio inesperado”. Mas a contrainformação rompe o cerco e nomeia as coisas pelo nome: trata-se de mais uma escalada do imperialismo que, derrotado na Ucrânia, humilhado no Indo-Pacífico e em crise interna profunda, busca reafirmar sua hegemonia bombardeando países do quintal que ousam dizer não.
Porque o que Trump quer esconder com essa bravata belicista é exatamente o fracasso histórico da política antidrogas estadunidense. São os Estados Unidos o maior consumidor de drogas do planeta. É o sistema financeiro de Wall Street que lava bilhões dos cartéis. Foram as intervenções estadunidenses na América Central nos anos 1980, o Plano Colômbia, o financiamento de paramilitares que criaram o monstro que hoje ameaça engolir a região. Os cartéis não são um problema mexicano: são um problema imperialista. E a solução nunca será bombardear o México – será enfrentar o consumo interno, regular o mercado, investir em desenvolvimento social no Sul Global.
Sheinbaum sabe disso. Por isso sua resposta não foi apenas diplomática: foi política. “Cooperação sim, intervenção não” é a mesma linha que Cuba sustenta há 65 anos, que a Venezuela repete frente ao bloqueio, que Nicaragua mantém contra as sanções. É a linha do bloco anti-imperialista que ganha corpo na América Latina: México, Brasil, Colômbia, Bolívia, Honduras – países que, sob governos progressistas ou nacionalistas, recusam-se a ser quintal de ninguém. A presidenta mexicana lembrou que já rejeitou ofertas anteriores de Trump para enviar tropas estadunidenses. E deixou claro: México resolve seus problemas em seu território, com suas forças armadas, com sua Guarda Nacional, com inteligência própria.
A ameaça de Trump não surge do nada. Desde janeiro de 2025, seu governo designou seis cartéis mexicanos como “organizações terroristas estrangeiras” – o mesmo rótulo usado contra Al-Qaeda ou Hezbollah. Essa designação abre caminho legal para operações militares sem aprovação do Congresso. Em agosto, Trump assinou ordem secreta autorizando o Pentágono a atacar cartéis em qualquer lugar da América Latina. Já houve ataques a embarcações no Caribe e no Pacífico. Agora, o México é o alvo declarado. E o que a mídia hegemônica chama de “guerra às drogas” é, na verdade, uma guerra contra a soberania nacional dos povos latino-americanos.
No Brasil, a ameaça deve servir de alerta. Governos anteriores demonstraram viralatismo ao flertar com alinhamento automático à OTAN, exercícios militares conjuntos com os EUA, repetição do discurso da “ameaça externa”. O governo Lula, felizmente, mantém distância. Não cabe ao Brasil chancelar o imperialismo nem em sua versão democrata (bombas humanitárias) nem em sua versão trumpista (bombas abertamente). A soberania impõe resistir à pressão imperialista. E resistir significa fortalecer o CELAC, aprofundar o Mercosul, coordenar com México, Colômbia, Venezuela uma resposta regional conjunta contra qualquer tentativa de intervenção.
Porque o que Trump propõe não é novidade. É a Doutrina Monroe repaginada para o século XXI: “América para os americanos” – leia-se: América Latina para os interesses estadunidenses. Foi assim no Chile de 1973, na Guatemala de 1954, em Granada de 1983, no Panamá de 1989, no Haiti de 2004. Sempre com a mesma desculpa: combater o comunismo, o terrorismo, as drogas. Sempre com o mesmo resultado: milhares de mortos, soberania destroçada, pobreza aprofundada, cartéis fortalecidos.
Sheinbaum, ao rejeitar a intervenção, dá uma lição que vai além do México. Mostra que é possível dizer não ao império quando se tem apoio popular, quando se investe em inteligência e não em espetáculo repressivo, quando se entende que segurança pública não se faz com bombas gringas, mas com justiça social, educação, saúde, emprego. México, sob o governo da 4T, reduziu em 20% a taxa de homicídios desde 2018. Não com intervenção estrangeira. Com política interna soberana.
A hora é de dar a cara à tapa. Os povos da América Latina não podem aceitar que o século XXI repita os erros do século XX. A ameaça de Trump deve unir, não dividir. México não está sozinho. Brasil, Colômbia, Bolívia, Cuba, Venezuela – todos os países que resistem ao entreguismo devem cerrar fileiras em defesa da soberania nacional. Porque se hoje é o México, amanhã pode ser qualquer um de nós.
A história ensina que quem resiste à pressão imperialista vence. Cuba venceu o bloqueio. Vietnã venceu as bombas. Venezuela sobrevive às sanções. México, agora, diz não às tropas gringas. Que essa resposta soberana inspire o continente inteiro. Porque a América Latina não será mais o quintal de ninguém.
Fontes
Reuters – Trump says he would launch strikes against Mexico
Politico – Mexican president rejects Trump’s offer of military intervention against cartels
Al Jazeera – Trump says US may strike Mexican drug cartels next
The Washington Post – Mexico rejects Trump’s offer of military strikes against cartels
AP News – Mexico rules out US intervention against drug cartels after Trump remarks
