Encontro bilateral em Kuala Lumpur se torna ponto de inflexão nas relações Brasil-EUA, com Washington buscando minerais estratégicos e Brasília pressionando por remoção de barreiras comerciais e sanções.
Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, têm uma reunião bilateral crucial marcada para este domingo (26.out.2025) em Kuala Lumpur, na Malásia. O encontro, que promete redefinir as relações diplomáticas e comerciais entre as duas maiores economias das Américas, foca em dois pilares principais: o interesse norte-americano em garantir o acesso às valiosas reservas brasileiras de terras raras e a demanda do lado brasileiro pela revisão e derrubada da tarifa adicional de 40% imposta pela Casa Branca a produtos nacionais, além da discussão sobre sanções a autoridades. Este delicado equilíbrio entre geopolítica global e interesses econômicos diretos posiciona o Brasil como um ator central na reconfiguração da cadeia de suprimentos de minerais estratégicos e na política comercial internacional.
Contexto
A pauta que domina o encontro entre Lula e Trump reflete uma conjuntura global de redefinição de alianças e segurança de suprimentos. Os Estados Unidos, preocupados com sua alta dependência da China no fornecimento de terras raras — um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a indústria de alta tecnologia, defesa e transição energética —, veem no Brasil um parceiro potencial para diversificar suas fontes. Essa busca por autonomia foi intensificada por um decreto de Trump em março, visando elevar a produção de minerais críticos em solo americano e de aliados.
Do lado brasileiro, a insatisfação com as barreiras comerciais é palpável. A aplicação de uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros pela administração Trump gerou uma “crise provocada pelo tarifaço”, conforme descrito em apuração jornalística, impactando diversos setores da economia nacional. O vice-presidente Geraldo Alckmin, em entrevista à Record News, destacou a importância de uma resolução para a questão comercial, afirmando que “uma relação comercial justa e equilibrada”.
O cenário é complexo, com o Brasil também interessado em discutir sanções aplicadas a autoridades e o desdobramento do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que adicionam camadas de sensibilidade à diplomacia entre os dois países. O coordenador da DSI-USP e pesquisador do Insper Agro, Alberto Pfeifer, enfatizou que “a negociação transcende o comércio; é sobre posicionamento estratégico do Brasil no tabuleiro global”, fornecendo uma perspectiva de que o encontro pode moldar a política externa brasileira para os próximos anos.
A Geopolítica das Terras Raras
As terras raras são componentes vitais para a fabricação de smartphones, veículos elétricos, turbinas eólicas, equipamentos médicos e sistemas de defesa. Atualmente, a China domina mais de 80% da produção e processamento global desses minerais, o que confere a Pequim uma alavancagem estratégica considerável em um contexto de crescentes tensões comerciais e tecnológicas com Washington. A busca dos EUA por parceiros como o Brasil, que possui significativas reservas ainda pouco exploradas, é um movimento direto para mitigar essa vulnerabilidade e garantir a segurança de sua cadeia de suprimentos.
Impactos da Decisão
A concretização de um acordo entre Brasil e EUA em Kuala Lumpur terá impactos profundos e multifacetados. Para o Brasil, a derrubada da tarifa adicional de 40% sobre seus produtos representaria um alívio significativo para exportadores e para a balança comercial, potencialmente impulsionando setores da economia que foram penalizados pela medida. Além disso, um acordo que envolva as terras raras poderia atrair investimentos substanciais para a infraestrutura de mineração e processamento no país, gerando empregos e desenvolvimento regional.
Do ponto de vista norte-americano, o acesso facilitado às reservas brasileiras de terras raras seria um passo crucial na estratégia de desvincular sua indústria de alta tecnologia da dependência chinesa. Isso não só reforçaria a segurança nacional e econômica dos EUA, mas também poderia reconfigurar o mercado global desses minerais, introduzindo um novo grande fornecedor e potencialmente estabilizando preços e disponibilidade. A médio e longo prazo, a medida fortaleceria a competitividade industrial dos Estados Unidos.
No âmbito geopolítico, o estreitamento dos laços entre Brasil e EUA, especialmente em um setor tão estratégico quanto o de minerais críticos, pode ser interpretado como um realinhamento de forças. O Brasil, ao se posicionar como um fornecedor confiável, ganharia maior relevância no cenário internacional e poderia usar essa vantagem para negociar em outras frentes. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, comentou sobre a importância da parceria, afirmando que “a América busca parceiros que compartilhem valores democráticos e sejam capazes de garantir o suprimento de recursos essenciais”.
Desafios e Oportunidades
Apesar das oportunidades, a negociação não está isenta de desafios. O Brasil precisaria garantir que qualquer acordo sobre terras raras respeite sua soberania e promova o desenvolvimento sustentável, evitando a mera exportação de matéria-prima sem valor agregado. A infraestrutura necessária para a extração e o processamento de terras raras é complexa e exige investimentos significativos, o que tornaria a parceria com os EUA fundamental para o desenvolvimento do setor. A China, por sua vez, observará atentamente os desdobramentos, dado o impacto potencial em seu monopólio.
Próximos Passos
A expectativa para o domingo (26.out.2025) é de que as conversas entre Lula e Trump estabeleçam as bases para um novo capítulo nas relações bilaterais. O presidente Lula expressou otimismo, afirmando a jornalistas na Malásia: “Esperamos um encontro muito produtivo e acreditamos em uma solução para os desafios comerciais”. Essa declaração reflete a esperança de que o diálogo direto possa superar as divergências e abrir caminho para acordos mutuamente benéficos.
Caso um acordo inicial seja alcançado, os próximos passos envolverão equipes técnicas de ambos os países para detalhar os termos e condições, tanto para o acesso às terras raras quanto para a remoção das tarifas. É provável que sejam estabelecidos cronogramas e metas para a implementação das decisões tomadas pelos líderes, incluindo possíveis investimentos e mecanismos de fiscalização. A complexidade do tema das sanções a autoridades exigirá discussões aprofundadas e negociações diplomáticas contínuas.
Independentemente do resultado imediato do encontro, a reunião em Kuala Lumpur solidificará a percepção do Brasil como um ator estratégico na geopolítica global de recursos. A capacidade do país de negociar de forma equilibrada, protegendo seus interesses econômicos enquanto contribui para a segurança de suprimentos mundiais, será um teste para sua diplomacia. Os desdobramentos dessas conversas serão acompanhados de perto por mercados e governos ao redor do mundo, ansiosos por entender o futuro das relações entre duas potências das Américas.
Fonte:
Poder360 – Negociação comercial entre Lula e Trump passa por terras raras. Poder360
G1/Globo – Lula diz esperar encontro com Trump e acredita em solução. G1/Globo
CNN Brasil – Brasil não é prioridade para Trump em viagem à Ásia, diz especialista. CNN Brasil
UOL Notícias – Marco Rubio: encontro Lula-Trump é importante para EUA. UOL Notícias
