Após morte de Paulo Frateschi por filho em surto: Entenda o que é um surto psicótico, suas causas, como identificar os sinais e oferecer ajuda segura, segundo especialistas da USP.
O ex-deputado estadual Paulo Frateschi, de 75 anos, faleceu recentemente em São Paulo após ser esfaqueado por seu filho, Francisco Frateschi, de 34 anos. O trágico incidente, registrado pela polícia como decorrente de um “surto” por parte do agressor, trouxe à tona a urgência de debater e compreender os complexos desafios que envolvem os transtornos mentais, em especial os episódios psicóticos, e a importância de oferecer suporte adequado e seguro.
Contexto
A notícia da morte de Paulo Frateschi, uma figura pública com relevante trajetória política no estado de São Paulo, gerou grande comoção e repercussão. Segundo o registro policial, o crime ocorreu em um momento de aparente descontrole por parte de Francisco Frateschi, cujo estado mental foi descrito como um “surto”, levantando questões cruciais sobre a saúde mental e a necessidade de apoio a indivíduos e famílias que enfrentam essas condições.
O caso sublinha a face mais dolorosa e visível de problemas que muitas vezes permanecem invisíveis ou são estigmatizados na sociedade. A tragédia familiar em São Paulo serve como um doloroso lembrete da importância de discussões abertas e bem informadas sobre condições psiquiátricas, desmistificando-as e capacitando a comunidade a agir de forma mais empática e eficaz.
A investigação sobre os detalhes do ocorrido segue em andamento, com as autoridades buscando clarear as circunstâncias que levaram ao lamentável desfecho. O foco, contudo, se estende para além do evento criminal, abrangendo a discussão sobre o que exatamente caracteriza um episódio de surto psicótico e como a sociedade pode melhor se preparar para lidar com tais situações, minimizando riscos e promovendo a recuperação.
O que é um surto psicótico e como identificá-lo?
Um surto psicótico é, em essência, um episódio agudo em que a pessoa perde o contato com a realidade. Conforme explica o Dr. Mario Louzã, Coordenador do Programa Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, “durante um surto, o indivíduo pode ter delírios, que são crenças falsas e inabaláveis, e alucinações, que são percepções sensoriais sem um estímulo externo real, como ouvir vozes ou ver coisas que outros não veem.”
Os sinais de um surto podem variar, mas frequentemente incluem:
- Alterações bruscas de comportamento e humor.
- Falas desconexas ou sem sentido aparente.
- Isolamento social ou desconfiança excessiva.
- Perda de higiene pessoal e autocuidado.
- Agitação ou apatia incomum.
- Comportamentos bizarros ou perigosos.
A identificação precoce desses sinais é fundamental para buscar ajuda profissional, mas é crucial abordá-los com sensibilidade e sem julgamento, reconhecendo que a pessoa está passando por uma condição médica que afeta profundamente sua percepção da realidade e sua capacidade de julgamento.
Impactos da Decisão
Embora a expressão “Impactos da Decisão” geralmente se refira a políticas ou estratégias, neste contexto, podemos interpretá-la sob a ótica das consequências do não-enfrentamento ou da má gestão da saúde mental, bem como a “decisão” social implícita de negligenciar o tema. O episódio envolvendo Paulo Frateschi e seu filho expõe os impactos devastadores quando os problemas de saúde mental, como os que levam a um surto psicótico, não são adequadamente reconhecidos e tratados. A falta de informação e o estigma social ainda são barreiras significativas.
As famílias são frequentemente as primeiras a sentir o peso desses desafios, vivenciando o sofrimento de seus entes queridos e, em casos extremos, como o de Paulo Frateschi, as consequências mais trágicas. A dificuldade de acesso a diagnósticos precoces, tratamentos eficazes e redes de apoio psicossocial contribui para que situações de crise se agravem, com resultados que afetam não apenas o indivíduo em surto, mas todo o seu entorno.
O caso também repercute no debate sobre a criminalização de indivíduos em surto. É um desafio para o sistema de justiça e para a sociedade como um todo equilibrar a segurança pública com a necessidade de cuidado e tratamento, em vez de apenas punição, para pessoas que agem sob o efeito de uma condição psiquiátrica grave. A Folha de S.Paulo, em seu material sobre surtos psicóticos, enfatiza a necessidade de uma abordagem humana e informada para esses casos.
O desafio da segurança e do apoio familiar
Lidar com uma pessoa em surto psicótico exige paciência, conhecimento e, muitas vezes, intervenção profissional. Famílias frequentemente se sentem isoladas e desamparadas, sem saber como agir para garantir a segurança de todos e buscar o tratamento adequado. A reação instintiva pode ser de medo ou frustração, o que pode agravar a situação.
Segundo o Dr. Mario Louzã, um dos maiores desafios é a resistência do paciente ao tratamento, já que ele não percebe que está doente. “A pessoa em surto não tem crítica da doença. Para ela, o que está vivendo é a realidade. Por isso, é muito difícil convencê-la a buscar ajuda”, afirma o especialista. Essa falta de percepção dificulta o processo de internação ou adesão a terapias ambulatoriais, exigindo uma abordagem cuidadosa e, por vezes, legal.
A ausência de políticas públicas robustas e integradas de saúde mental, que abranjam desde a prevenção e o diagnóstico precoce até o tratamento e a reinserção social, amplifica esses impactos. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece alguns serviços, mas a demanda é imensa e os recursos, muitas vezes, limitados, deixando lacunas críticas no atendimento.
Próximos Passos
Diante da visibilidade conferida ao tema pela tragédia envolvendo Paulo Frateschi, os “próximos passos” urgem no aprimoramento da forma como a sociedade brasileira lida com a saúde mental. É fundamental que se intensifiquem as campanhas de conscientização para desmistificar o surto psicótico e outras condições psiquiátricas, educando a população sobre os sinais de alerta e as vias para a busca de ajuda profissional. O conhecimento é a primeira linha de defesa contra o estigma e o isolamento.
No âmbito da atenção à saúde, é imperativo fortalecer a rede de atendimento psicológico e psiquiátrico, tanto na esfera pública quanto na privada, garantindo acesso facilitado e de qualidade. Isso inclui a capacitação de profissionais de saúde, a ampliação de leitos psiquiátricos quando necessários, e o desenvolvimento de programas de apoio às famílias, que são coadjuvantes essenciais no processo de recuperação dos pacientes.
Para aqueles que se veem diante de um ente querido em surto psicótico, os especialistas da USP e do Hospital das Clínicas enfatizam a importância de uma abordagem calma e segura. O primeiro passo é buscar auxílio emergencial, como o SAMU (192) ou a Polícia Militar (190), que possuem equipes treinadas para lidar com situações de crise, embora a especialização em saúde mental ainda precise ser aprimorada em muitos casos. A segurança do paciente e dos demais é primordial.
Como oferecer ajuda segura e eficaz
O Dr. Mario Louzã reitera que, em um momento de crise, é vital evitar confrontos diretos ou tentar raciocinar com a pessoa em surto. “Mantenha a calma, fale em tom de voz baixo e claro, e não faça promessas que não pode cumprir. O objetivo é acalmar a pessoa e buscar ajuda profissional qualificada o mais rápido possível”, orienta.
Algumas ações recomendadas incluem:
- Remover objetos perigosos do ambiente.
- Manter uma distância segura, mas visível.
- Chamar ajuda profissional (médicos, psiquiatras, equipes de emergência).
- Informar os profissionais sobre o histórico do paciente, se conhecido.
A recuperação de um episódio psicótico é um processo que demanda acompanhamento contínuo, medicação e terapia. É um caminho longo que exige o compromisso do paciente, de sua família e da rede de apoio profissional, visando a estabilização, a prevenção de novos surtos e a melhoria da qualidade de vida.
Ainda que a legislação brasileira preveja a internação compulsória em casos de risco para o paciente ou para terceiros, o ideal é que a abordagem seja o menos invasiva possível e sempre sob orientação médica e legal. A prioridade deve ser sempre o bem-estar e a segurança de todos os envolvidos, buscando soluções que integrem cuidado e proteção, e que minimizem a chance de novas tragédias como a que vitimou Paulo Frateschi.
Fonte:
Folha de S.Paulo – Entenda o que é um surto psicótico e como ajudar o paciente de forma segura. Folha de S.Paulo