Organização Mundial da Saúde condena veementemente o ataque devastador ao centro de saúde vital em meio à tomada da cidade por forças paramilitares e crescentes temores de uma catástrofe humanitária em Darfur.
No último dia, a cidade de al-Fashir, capital de Darfur do Norte, no Sudão, foi palco de um massacre chocante quando o último hospital em funcionamento da região foi atacado, resultando na morte de ao menos 460 pessoas, incluindo pacientes e acompanhantes, e no sequestro de seis profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) condenou o ato brutal, atribuído à força paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido) em meio à violenta tomada da cidade, embora a RSF negue responsabilidade, desencadeando um novo capítulo de horror na já crítica crise humanitária sudanesa.
Contexto
O Sudão tem sido palco de um conflito devastador desde abril de 2023, quando irromperam hostilidades entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF), leais ao governo, e as Forças de Apoio Rápido (RSF), um poderoso grupo paramilitar. A disputa por poder mergulhou o país em uma guerra civil, resultando em milhões de deslocados e uma das piores crises humanitárias do mundo.
A cidade de al-Fashir, no estado de Darfur do Norte, assumiu uma importância estratégica crucial. Historicamente uma região já marcada por conflitos, Darfur tornou-se o epicentro de uma violência renovada, com al-Fashir sendo a última grande cidade do estado sob controle do exército regular e um refúgio para centenas de milhares de civis deslocados.
Antes do ataque recente, a situação em al-Fashir já era insustentável. As forças da RSF cercavam a cidade há semanas, intensificando os combates e o bloqueio de rotas de suprimentos, o que levou a uma severa escassez de alimentos, água e medicamentos. Este cerco sistemático precedeu a invasão do hospital, elevando as tensões a níveis alarmantes.
A Escalada da Violência em Darfur
A ofensiva da RSF sobre al-Fashir é parte de uma campanha mais ampla para consolidar seu controle sobre a região de Darfur. O avanço das forças paramilitares tem sido acompanhado por relatos de pilhagens, violência sexual e assassinatos em massa, com autoridades dos EUA acusando a RSF de cometer atos que se assemelham a limpeza étnica, especialmente contra comunidades não-árabes.
A dificuldade de obter verificação independente dos fatos é um obstáculo constante na cobertura do conflito. A agência de notícias Reuters, por exemplo, mencionou as interrupções de comunicação na região como um impedimento para confirmar detalhes específicos dos eventos. Essa falta de conectividade agrava a vulnerabilidade da população e dificulta a documentação de atrocidades.
Segundo o Governador do estado de Darfur, Minni Minawi, que se manifestou via plataforma X, o número de mortos é alarmante e reflete a brutalidade do confronto. Médicos e ativistas locais, citados pela Reuters, descreveram a invasão do hospital com detalhes que apontam para uma completa desconsideração das leis de guerra e proteção a instalações médicas.
Impactos da Decisão
O ataque ao último hospital em funcionamento em al-Fashir representa um golpe devastador para a já fragilizada infraestrutura de saúde do Sudão. Com mais de 460 mortos — pacientes, acompanhantes e civis que buscavam refúgio —, e o sequestro de seis profissionais de saúde, a população restante da cidade fica sem acesso a cuidados médicos básicos em um momento de extrema necessidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado oficial, condenando veementemente o massacre e exigindo a imediata libertação dos trabalhadores da saúde sequestrados. A agência da ONU ressaltou que ataques a hospitais e equipes médicas são violações graves do direito internacional humanitário e podem constituir crimes de guerra.
Este evento chocante aprofunda a crise humanitária no Sudão, que já enfrenta um dos maiores deslocamentos internos do mundo. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) reportou que milhões de sudaneses foram forçados a abandonar suas casas, buscando segurança em outras partes do país ou em nações vizinhas. O ataque em al-Fashir irá, sem dúvida, acelerar esse êxodo.
Desmantelamento da Infraestrutura de Saúde
A perda do último hospital em al-Fashir não significa apenas a interrupção de cirurgias e tratamentos complexos. Ela implica na impossibilidade de tratar feridos de guerra, pessoas com doenças crônicas e gestantes, aumentando exponencialmente a taxa de mortalidade por causas evitáveis. Surtos de doenças como cólera e sarampo já são uma preocupação latente devido às condições precárias de saneamento e aglomeração em campos de deslocados.
Além da falta de capacidade de atendimento, a escassez de medicamentos essenciais e suprimentos médicos é crítica. Com as rotas de acesso bloqueadas e a insegurança generalizada, a entrega de ajuda humanitária torna-se uma tarefa quase impossível. Isso deixa a população à mercê da violência e das doenças, sem esperança de socorro imediato.
O trauma psicológico imposto por tal brutalidade é imenso. Testemunhos de sobreviventes e de ativistas locais descrevem cenas de horror e desespero. O sequestro de profissionais de saúde, que já trabalham sob condições extremas e risco constante, envia uma mensagem aterrorizante e desmotivação a qualquer um que tente oferecer assistência.
Próximos Passos
Diante da gravidade do ataque em al-Fashir, a comunidade internacional enfrenta uma pressão crescente para agir. Apelos por uma investigação independente sobre os eventos e pela responsabilização dos culpados se intensificam. A ONU e outras organizações esperam que a Corte Penal Internacional (CPI) possa eventualmente processar os responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
No curto prazo, a prioridade máxima é garantir o acesso humanitário seguro e desimpedido a al-Fashir e outras áreas afetadas em Darfur. A reabertura de corredores humanitários para a entrega de alimentos, água, medicamentos e o estabelecimento de unidades de saúde temporárias são cruciais para evitar uma escalada ainda maior da catástrofe.
O futuro de al-Fashir e, por extensão, de grande parte do Sudão, permanece incerto. Sem um cessar-fogo duradouro e um compromisso genuíno com a paz, os cenários futuros preveem mais violência, deslocamento e sofrimento. A pressão diplomática sobre a RSF e as Forças Armadas Sudanesas para que retornem à mesa de negociações é fundamental, mas tem se mostrado um desafio enorme.
O Chamado por Justiça e Ajuda Humanitária
A Organização Mundial da Saúde, juntamente com outras agências humanitárias, continua a exigir a proteção dos civis e da infraestrutura essencial. “Ataques contra cuidados de saúde são inaceitáveis e uma violação flagrante das leis humanitárias,” afirmou um porta-voz da OMS em seu comunicado, enfatizando a necessidade de respeito aos princípios da neutralidade médica.
A comunidade internacional, incluindo os EUA, que já haviam levantado acusações de limpeza étnica, precisa coordenar esforços para impor sanções mais eficazes e pressionar os atores do conflito a cessar as hostilidades. A inação pode levar a um genocídio, ecoando os horrores passados de Darfur.
O destino dos seis profissionais de saúde sequestrados é uma preocupação urgente. Organizações de direitos humanos e a OMS estão trabalhando para garantir sua libertação segura. A vida desses indivíduos, que dedicam suas vidas a salvar outras, é um símbolo da resiliência e da vulnerabilidade da população médica em zonas de conflito.
Fonte:
CNN Brasil – Ataque a hospital no Sudão deixa mais de 460 mortos; OMS condena massacre. CNN Brasil
