Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (MASLD), a nova denominação da gordura no fígado, avança silenciosamente e exige atenção urgente a hábitos saudáveis e exames preventivos para evitar cirrose e câncer.
Especialistas em hepatologia e endocrinologia, como as doutoras Natalia Trevizoli e Karla Maggi, alertam a população sobre a importância de desvendar os sinais de alerta do fígado, um órgão vital que opera em silêncio até que condições como a MASLD (gordura no fígado) atinjam estágios avançados. Este cenário de alerta global e nacional busca prevenir a progressão para cirrose e câncer hepático, incentivando a adoção de uma rotina preventiva com alimentação balanceada, exercícios e acompanhamento médico regular.
Contexto
O fígado, uma verdadeira usina metabólica do corpo humano, é conhecido por sua capacidade de regeneração e por, muitas vezes, não manifestar sintomas evidentes de problemas em seus estágios iniciais. É essa natureza ‘silenciosa’ que torna o alerta de especialistas tão crucial: a necessidade de atenção aos sinais sutis que podem indicar uma disfunção hepática, especialmente a crescente prevalência da Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (MASLD).
A MASLD, antes chamada de Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA ou NAFLD), representa um problema de saúde pública que, de acordo com o Dr. Mario Reis Alvares-da-Silva, professor titular da UFRGS e hepatologista, afeta cerca de 25% da população mundial. No Brasil, essa taxa pode ser ainda maior, alcançando entre 30% e 35% dos adultos. Essa condição é caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado e está intrinsecamente ligada a fatores metabólicos como obesidade, diabetes tipo 2, colesterol alto e pressão alta.
A renomeação de NAFLD para MASLD, conforme destacado pela Associação Europeia para o Estudo do Fígado, reflete uma compreensão mais aprofundada da doença, que vai além da simples esteatose e enfatiza sua conexão com disfunções metabólicas. A mudança visa aprimorar o diagnóstico, a pesquisa e as estratégias de tratamento, reforçando a importância de uma abordagem integrada.
O grande perigo da MASLD reside em sua progressão. Sem intervenção, a gordura pode inflamar o fígado, levando à esteato-hepatite (MASH), fibrose, cirrose e, em casos mais graves, ao câncer hepático ou à necessidade de um transplante. A Dra. Natalia Trevizoli, hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, enfatiza que muitos pacientes só descobrem a doença em estágios avançados, quando os danos já são consideráveis.
Os sinais de problema no fígado são frequentemente inespecíficos nos estágios iniciais, o que dificulta o diagnóstico. Fadiga persistente, mal-estar generalizado, dores abdominais leves no lado superior direito, inchaço e urina escura podem ser indicativos, mas são facilmente confundidos com outras condições. Em fases mais avançadas, podem surgir icterícia (pele e olhos amarelados), ascite (acúmulo de líquido no abdômen) e encefalopatia hepática (confusão mental).
A Dra. Karla Maggi, hepatologista do Hospital Santa Paula, ressalta a importância de estar atento a qualquer mudança no corpo e de procurar um médico para investigar. Ela destaca que o diagnóstico precoce é fundamental para reverter a condição e evitar a progressão para quadros mais severos, onde as opções de tratamento se tornam mais limitadas e complexas.
Impactos da Decisão
A decisão de adotar um estilo de vida saudável e buscar acompanhamento médico preventivo tem um impacto profundo na saúde do fígado e na qualidade de vida geral. A prevenção de doenças hepáticas, especialmente a MASLD, é a chave para evitar um futuro de complicações graves. Sem essa proatividade, os riscos de desenvolver cirrose e câncer aumentam exponencialmente.
A Dra. Marília Bortolotto, endocrinologista, sublinha que a modificação de hábitos é a primeira e mais eficaz linha de defesa contra a gordura no fígado. Isso inclui uma alimentação rica em nutrientes e pobre em ultraprocessados, a prática regular de exercícios físicos, o controle de peso e a garantia de um sono de qualidade. Essas medidas podem não apenas prevenir, mas também reverter a esteatose hepática em seus estágios iniciais.
A nutricionista clínica Sabina Donadelli reforça o papel vital da dieta. Alimentos como aveia, café, abacate, azeite de oliva, castanhas e brócolis são aliados importantes na saúde hepática, auxiliando na desintoxicação e na redução da inflamação. Por outro lado, o consumo excessivo de açúcar, gorduras saturadas e carboidratos refinados contribui diretamente para o acúmulo de gordura.
Um estilo de vida sedentário e o consumo frequente de produtos ultraprocessados são considerados os maiores vilões. A Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e diversas diretrizes internacionais enfatizam que a perda de peso, mesmo que moderada (5-10% do peso corporal), pode promover uma significativa redução da gordura hepática e melhorar os parâmetros metabólicos. Essa é uma decisão pessoal com um impacto coletivo na saúde pública.
Ignorar os sinais de problema no fígado ou adiar a busca por ajuda médica pode ter consequências devastadoras. Quando a cirrose se instala, o fígado perde sua capacidade de funcionamento, afetando múltiplos sistemas do corpo e, muitas vezes, tornando-se irreversível. O câncer de fígado, uma das complicações mais temidas da MASLD, também tem prognóstico melhor quando detectado e tratado precocemente.
Portanto, a escolha por um estilo de vida consciente e preventivo não é apenas sobre o fígado, mas sobre a busca por uma longevidade com qualidade de vida. É uma demonstração de empoderamento do indivíduo sobre sua própria saúde, combatendo uma doença que tem o potencial de ser silenciosa e destrutiva.
Próximos Passos
Diante da natureza insidiosa da MASLD e da importância do fígado, os próximos passos para a população são claros e urgentes. Não se deve esperar os sintomas graves para agir; a proatividade é a melhor ferramenta para manter o fígado saudável e prevenir o avanço da doença.
O primeiro e mais importante passo é a realização de exames de rotina. Mesmo na ausência de sintomas, um check-up anual que inclua testes de função hepática e, se necessário, uma ultrassonografia abdominal, pode detectar a gordura no fígado em estágios iniciais. Para indivíduos com fatores de risco como obesidade, diabetes ou histórico familiar, essa vigilância deve ser ainda mais rigorosa.
A adoção de hábitos saudáveis é a base da prevenção doenças hepáticas. Isso envolve uma reeducação alimentar, com foco em uma dieta mediterrânea ou DASH, ricas em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Reduzir drasticamente o consumo de bebidas açucaradas, fast-food e produtos industrializados é fundamental.
A prática de atividade física regular, com ao menos 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana, contribui significativamente para a perda de peso e a melhora da sensibilidade à insulina, fatores cruciais para reverter a gordura no fígado. Pequenas mudanças, como caminhar mais ou subir escadas, já fazem diferença.
Além disso, é vital controlar outras condições metabólicas. Manter a pressão arterial sob controle, gerenciar o diabetes e regular os níveis de colesterol e triglicerídeos são medidas que impactam diretamente a saúde hepática. A colaboração entre diferentes especialidades médicas — hepatologistas, endocrinologistas e nutricionistas — é essencial para um manejo completo.
Por fim, a conscientização sobre os sinais de problema no fígado e a desmistificação da MASLD são cruciais. A informação empodera o leitor a tomar decisões informadas e a buscar ajuda profissional sem hesitação. O fígado pode ser silencioso, mas a nossa atenção e cuidado não precisam ser. Ao priorizar a saúde do fígado, estamos investindo em uma vida mais longa e plena.
Fonte:
Metrópoles – Fígado alerta: saiba os sintomas de que algo não vai bem com o órgão. Metrópoles
Veja Abril – Doença metabólica do fígado: por que se proteger desse problema silencioso?. Veja Abril
Metrópoles – Gordura no fígado: 5 hábitos essenciais para reverter o problema. Metrópoles
UOL – Gordura no fígado: o que comer e evitar para reverter o problema. UOL
