Subtítulo: Com cerca de dois terços dos votos contra, eleitores priorizam soberania nacional em meio a crise de violência, sinalizando desafios para credibilidade e previsibilidade na agenda de cooperação internacional.
Introdução: Contextualização Objetiva
No dia 16 de novembro de 2025, os equatorianos foram às urnas em um referendo e consulta popular promovidos pelo presidente Daniel Noboa, que buscava alterar a Constituição para permitir a instalação de bases militares estrangeiras no território nacional — uma proibição vigente desde 2008. A proposta principal visava revogar o artigo que define o Equador como “território de paz”, abrindo espaço para parcerias, especialmente com os Estados Unidos, em operações contra o narcotráfico.
Com mais de 90% das atas apuradas, o “Não” prevaleceu em todas as quatro perguntas, com rejeição média superior a 60% para a questão das bases. Participação ultrapassou 80%, refletindo alto engajamento em um país que enfrenta taxa de homicídios recorde e se consolidou como rota chave de cocaína. Nos bastidores, o resultado representa um revés inesperado para o Planalto equatoriano, que contava com aprovação para fortalecer a articulação política em segurança.
Os Números do Referendo: O Que os Dados Mostram
Os resultados oficiais parciais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) indicam rejeição clara:
- Pergunta sobre eliminação da proibição de bases militares estrangeiras: 60-66% “Não”.
- Convocação de Assembleia Constituinte para nova Constituição: cerca de 61% “Não”.
- Eliminação de financiamento público a partidos políticos: 58% “Não”.
- Redução do número de assentos na Assembleia Nacional (de 151 para 73): 53% “Não”.
O que os números mostram é uma variação dentro de uma margem que, apesar de sondagens prévias favoráveis ao “Sim”, revela migração de apoio no último momento, especialmente no litoral e em regiões urbanas. A margem de erro nas pesquisas eleitorais não captou o viés de resposta ligado a temas de soberania.
Contexto Histórico: Da Base de Manta à Proibição Constitucional
A presença militar estadounidense em Manta (1999-2009) foi usada para operações antidrogas, mas criticada por supostos abusos e falta de transparência. A Constituição de 2008, aprovida em referendo durante o governo de Rafael Correa, explicitamente vedou bases militares estrangeiras, enquadrando o Equador como defesa do Estado de Direito e da soberania. Noboa argumentava que a reversão era necessária para enfrentar o “conflito armado interno” declarado contra gangues, com apoio de Washington — que elogiou o presidente como “excelente parceiro”.
Nos bastidores de Brasília — ou melhor, de Quito —, interlocutores do governo** admitiam que uma vitória no referendo elevaria a credibilidade junto ao mercado e investidores, melhorando o ambiente de negócios em meio a instabilidade.
Impactos Imediatos na Segurança e na Economia
Equador registrou alta de mais de 36% em mortes violentas nos primeiros nove meses de 2025, apesar de quedas em apreensões de drogas. O governo defendia que sinalização ao mercado de cooperação internacional traria previsibilidade e reforçaria a **ancoragem fiscal em segurança. Com o “Não”, persiste o desafio de manter governabilidade sem novas ferramentas, pressionando a base aliada no Congresso para aprovar reformas via tramitação ordinária.
A curva de juros equatoriana, dolarizada, pode reagir com volatilidade, pois investidores precificavam maior fluxo internacional positivo. Analistas apontam que o resultado enfraquece a confiança do empresariado, agravando percepção de riscos regulatórios.
Percepções Políticas: Reação do Governo e Oposição
Movimentos no Palácio indicam recuo tático: Noboa reconheceu a “vontade popular” em redes sociais, mas aliados dizem que o foco agora é em operações conjuntas sem bases permanentes. A oposição, liderada por figuras correístas, celebrou como vitória da soberania, mas críticos centristas alertam para o risco de isolamento em uma agenda econômica que exige parcerias. A temperatura política subiu, com debates sobre se o plebiscito funcionou como voto de censura ao estilo de gestão.
Soberania, Segurança e os Limites da Cooperação Internacional
Do ponto de vista centrado em reformas estruturais e Estado de Direito, o referendo expõe tensões clássicas na região: de um lado, a necessidade pragmática de apoio externo para combater crime transnacional — que não respeita fronteiras nem regras do jogo fiscais; de outro, o receio legítimo de perda de autonomia, ecoando histórico de intervenções.
A rejeição às bases não é mero nacionalismo retrógrado, mas reflexão sobre eficácia: a presença anterior em Manta não impediu o Equador de se tornar hub de narcotráfico. O que está em jogo é se a previsibilidade em segurança depende de cessão territorial ou de fortalecimento institucional interno — com Polícia, Justiça e inteligência mais robustas.
Críticos à abordagem de Noboa apontam que priorizar sinalização ao mercado externo sem consenso doméstico erode credibilidade interna, substituindo diálogo por plebiscitos de alto risco. Por que importa: em um continente onde fluxo internacional de capitais e drogas andam juntos, rejeitar bases pode complicar a articulação política regional, mas reforça que governabilidade sustentável passa por correlação de forças que respeite sensibilidades históricas. O viés de centro aqui é claro: pragmatismo sim, mas sem abrir mão de freios e contrapesos que garantam devido processo na cooperação internacional.
O Equador segue dolarizado, violento e em busca de equilíbrio. O referendo de 2025 entra no registro histórico como momento em que a sociedade, farta de promessas, optou pela cautela — questionando se a verdadeira âncora fiscal para a segurança está em Washington ou em Quito. Resta observar como o governo recalibra sua agenda econômica e de reformas, mantendo o foco em resultados concretos para além dos bastidores do poder.
Referências
Al Jazeera – No vote leads in Ecuador referendum on hosting foreign military bases
Reuters – Measure to allow foreign military bases in Ecuador fails in vote
AP News – Voters in Ecuador reject foreign military bases and a new constitution
The New York Times – Ecuador Votes No to Hosting U.S. Military Base
BBC – Ecuador votes against allowing foreign military bases in country
NPR – Ecuador rejects U.S. military bases in major defeat for President Noboa
DW – Ecuador voters reject referendum to bring back US bases
