Diálogo sobre estratégias anti-crime em El Salvador anima apoiadores da direita, mas convida reflexão sobre freios e contrapesos institucionais e previsibilidade em políticas públicas
Brasília – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) divulgou nesta quinta-feira (20/11) uma entrevista com Gustavo Villatoro, ministro da Justiça e Segurança Pública de El Salvador, no governo de Nayib Bukele. Na conversa, o ministro detalhou as táticas que transformaram o país de um dos mais violentos do mundo para o mais seguro do hemisfério ocidental, incluindo prisões em massa, leis rigorosas contra facções criminosas e uso intensivo de tecnologia. Nos bastidores de Brasília, o conteúdo repercutiu imediatamente entre apoiadores da direita brasileira, que veem no “milagre Bukele” uma inspiração para políticas duras contra o crime organizado no Brasil. Interlocutores do governo estaduais, no entanto, alertam para os desafios de adaptar tais medidas a um contexto institucional mais complexo, elevando a temperatura política em torno da governabilidade na área de segurança.
A entrevista, disponibilizada no canal de YouTube de Eduardo Bolsonaro, surge em um momento de debates intensos sobre o combate à criminalidade no Brasil, onde facções como o PCC e o Comando Vermelho controlam territórios e influenciam a atividade econômica em regiões periféricas. Eduardo, acompanhado do irmão senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), visitou El Salvador nos dias 17 e 18 de novembro, em uma missão que misturou aprendizado técnico e sinalização política. O deputado destacou que o sucesso salvadorenho se baseia em três pilares: rompimento com sistemas que protegem o crime, leis que criminalizam a mera pertença a organizações criminosas (com penas de 20 a 45 anos sem progressão) e ação massiva com controle territorial, incluindo prisões de ultra-segurança como o CECOT.
Movimentos no Palácio do Planalto: reações e contexto da visita
Nos movimentos no Palácio do Planalto, a iniciativa dos Bolsonaro não passou despercebida. Embora o governo federal, sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, priorize uma abordagem mais integrada com foco em inteligência e programas sociais, a entrevista de Eduardo gerou ruído entre aliados da oposição. Aliados de X dizem que o material serve como munição para pressionar por reformas estruturais na segurança, como a revisão de leis penais e o fortalecimento de operações conjuntas entre forças federais e estaduais. No entanto, interlocutores do governo federais minimizam o impacto, argumentando que o modelo de Bukele, baseado em estado de exceção permanente, colide com o Estado de Direito brasileiro, onde o devido processo e a presunção de inocência atuam como freios e contrapesos essenciais.
A visita ocorreu em um cenário de crescente admiração pela gestão de Bukele entre setores da direita brasileira. Eduardo postou em suas redes sociais que “o Brasil vive sob um governo que trata o crime organizado como aliado”, contrastando com a “guerra total” declarada em El Salvador. Essa narrativa animou apoiadores, com milhares de curtidas e compartilhamentos, muitos defendendo a cópia do modelo para combater a impunidade. Reflita o leitor: até que ponto importar estratégias radicais não compromete a credibilidade institucional, priorizando soluções de curto prazo sobre uma ancoragem fiscal sustentável para investimentos em prevenção social?
Correlação de Forças no Congresso: inspirações para pautas legislativas
A correlação de forças no Congresso Nacional pode ser alterada por esse episódio. Eduardo, como deputado, já sinalizou que usará o conhecimento adquirido para propor projetos que endureçam penas e facilitem operações anti-facções. O centrão, bloco pragmático conhecido por seu fisiologismo em negociações por emendas e cargos, poderia se alinhar se vislumbrar ganhos em governabilidade, especialmente em ano pré-eleitoral. No entanto, a articulação política no Congresso para votar tais pautas – como a tramitação de PECs para reformar o sistema prisional – enfrenta resistências de setores progressistas, que criticam o modelo salvadorenho por violações de direitos humanos.
O que está em jogo é o equilíbrio entre eficácia e legalidade. Em El Salvador, leis que responsabilizam coletivamente membros de gangues e proíbem comunicação de presos com o exterior reduziram homicídios em mais de 90%, segundo dados oficiais. No Brasil, onde a superlotação carcerária e a influência de facções dentro das prisões são crônicas, adaptar isso demandaria uma reforma tributária para financiar novas estruturas e treinamento policial. Mas, como ponderar sem achismo: dados indicam migração de violência para áreas rurais no Brasil, conforme séries históricas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sugerindo que medidas punitivas isoladas podem não bastar sem investimentos sociais.
Críticos apontam para potenciais abusos de autoridade, ecoando críticas ao lavajatismo em investigações excessivas. Bukele, reeleito com ampla maioria, contornou instituições para declarar guerra às maras (gangues), mas no Brasil, o STF e o Congresso atuam como guardiães do equilíbrio. O leitor deve refletir: priorizar o fiscal sobre o social, endurecendo penas sem reformar o sistema judiciário, resolve ou agrava desigualdades?
O que Mudou nos Arranjos do Poder: impactos na opinião pública e geopolítica
O que mudou nos arranjos do poder com essa entrevista? O mapa do poder na direita brasileira se atualiza, com os Bolsonaro posicionando-se como ponte para modelos internacionais de sucesso. Apoiadores, animados, veem inspiração para 2026, onde pesquisas eleitorais mostram polarização crescente no Sudeste. Série do PoderData aponta estabilidade na aprovação de políticas duras entre eleitores conservadores, mas com margem de erro que permite variações se excessos forem percebidos.
Geopoliticamente, o diálogo com El Salvador – país que atrai atenção global por sua virada na segurança – pode influenciar relações regionais. Bukele, criticado por ONGs por suspensões de direitos, é elogiado por resultados: de 103 homicídios por 100 mil habitantes em 2015 para menos de 3 em 2024. No Brasil, onde a violência impacta o PIB com perdas anuais de bilhões, copiar elementos como o uso de IA em vigilância poderia elevar a confiança no ambiente de negócios. No entanto, decisões contraditórias – como ignorar o contexto de um país menor e com gangues menos transnacionais – poderiam piorar a curva de juros se gerarem instabilidade institucional.
Reflita: em um Estado de Direito maduro, como equilibrar inspiração externa com realidades locais? O entusiasmo da direita convida a uma visão centrista: substituir conflito ideológico por gestão eficiente, arbitrando prioridades sem declarar juízo de valor.
Análise Equilibrada: oportunidades e riscos das políticas inspiradas
A entrevista expõe oportunidades para o Brasil, como o fortalecimento de leis contra organizações criminosas e o investimento em prisões seguras. Villatoro, na conversa, enfatizou que o sucesso veio da confiança popular em Bukele, permitindo mudanças no marco legal sem paralisia institucional. Para o Brasil, isso poderia significar uma sinalização firme ao centrão para aprovar pautas de segurança, melhorando a governabilidade no último biênio de Lula.
Por outro lado, riscos incluem violações ao garantismo, com potenciais abusos de autoridade em prisões em massa. Contexto: por trás do entusiasmo, há uma rede de poder política que usa o exemplo salvadorenho para mobilizar bases, mas ignora diferenças como o tamanho do território brasileiro e a sofisticação das facções. Dados para decidir mostram que, enquanto El Salvador reduziu crimes, relatos de inocentes presos questionam a sustentabilidade.
Importar modelos radicais eleva a credibilidade ou compromete a previsibilidade? Em tempos de polarização, uma abordagem centrista prioriza governança técnica, equilibrando punição com prevenção para um futuro mais estável.
Fontes:
Reuters – Brazil’s Bolsonaro brothers meet El Salvador security minister on crime-fighting trip
AP News – Eduardo Bolsonaro interviews Bukele’s justice minister, highlights anti-gang strategies
The Guardian – Right-wing Brazilians draw inspiration from El Salvador’s Bukele in fight against crime
AFP – Bolsonaro son promotes El Salvador’s ‘miracle’ as model for Brazil’s security woes
BBC News – Eduardo Bolsonaro’s El Salvador visit sparks debate on tough crime policies in Brazil
