Grupo Ambipar mergulha em turbulência sem precedentes com pedido de recuperação judicial, processo do Bradesco contra diretores por suspeita de fraude contábil e embate com fundo Opportunity por venda de participação.
O Grupo Ambipar, gigante brasileiro em gestão ambiental e resposta a emergências, está imerso em uma grave crise financeira e jurídica. Recentemente, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, um movimento que expôs fragilidades já agravadas por uma série de desdobramentos. Paralelamente, o Bradesco acionou judicialmente diretores da companhia, incluindo Thiago da Costa Silva, por suspeitas de fraude contábil e abuso de personalidade jurídica, buscando o bloqueio de bens para garantir um crédito de R$ 390 milhões. No epicentro dessa turbulência, o fundo Opportunity realizou vendas significativas de ações, provocando uma disputa com o controlador Tércio Borlenghi Júnior, que contesta a legalidade das operações. A situação, que já levou à queda de 96,5% nas ações da Ambipar no ano e ao rebaixamento da nota de crédito pela Fitch Ratings, revela múltiplos flancos de uma crise que abala o mercado financeiro e corporativo.
Contexto
O Grupo Ambipar, uma das maiores companhias do Brasil nos setores de gestão ambiental e resposta a emergências, encontra-se no olho de um furacão financeiro e jurídico sem precedentes, culminando em seu recente pedido de recuperação judicial. Este movimento estratégico, mas doloroso, veio à tona em um cenário de profunda incerteza e questionamentos sobre a real saúde financeira da empresa. Uma das maiores incongruências que motivaram o alerta do mercado foi a disparidade entre o vultoso caixa de R$ 4,7 bilhões declarado pela companhia em seus balanços e uma dívida que, embora de R$ 60 milhões segundo os autos, foi suficiente para precipitar o pedido de reestruturação. Tal discrepância, conforme apurado por nossa reportagem, tem sido um dos pilares para a crescente desconfiança sobre a veracidade e a transparência das demonstrações financeiras da Ambipar, colocando em xeque a credibilidade de seus registros contábeis e a gestão de seus ativos.
No epicentro das batalhas jurídicas que agora afligem o grupo, destaca-se a ação judicial movida pelo Bradesco, um dos gigantes do setor bancário e um credor de peso da Ambipar. O banco, por meio do renomado escritório Warde Advogados, acionou judicialmente diversos diretores da companhia, com particular ênfase em Thiago da Costa Silva, sob acusações extremamente graves de fraude contábil e abuso de personalidade jurídica. Segundo a tese defendida pelo Bradesco e detalhada nos documentos judiciais a que nossa reportagem teve acesso, a empresa teria supostamente inflado artificialmente seus balanços financeiros ao realizar lançamentos indevidos de créditos como “caixa”. Essa prática, se comprovada, teria o objetivo de criar uma falsa imagem de robustez e solidez financeira, enganando investidores e credores. O banco busca, com essa ação, o imediato bloqueio de bens dos diretores envolvidos para garantir um crédito substancial de R$ 390 milhões, refletindo a dimensão do prejuízo alegado e a seriedade das acusações de má-fé na gestão.
Adicionando complexidade ao já intrincado quadro, o mercado presenciou um movimento estratégico do fundo Opportunity, que realizou vendas massivas de ações da Ambipar. Essas operações tiveram um impacto direto e significativo na participação acionária do controlador da companhia, Tércio Borlenghi Júnior, reduzindo sua influência e poder de voto. Borlenghi Júnior, por sua vez, contesta veementemente a legalidade e a forma como essas vendas foram conduzidas, alegando que houve um claro desrespeito a uma medida cautelar previamente estabelecida, que deveria reger transações de grande volume de ações e proteger a estabilidade da estrutura de controle da empresa. Este embate entre grandes players do mercado financeiro adiciona uma camada de instabilidade e questionamentos sobre a governança corporativa da Ambipar. Em nota oficial, o Opportunity esclareceu que “todas as operações foram realizadas em estrita conformidade com as normas do mercado e as condições contratuais”, mas a controvérsia persiste, prometendo novos capítulos na saga judicial e corporativa.
Rebaixamento de Notas e Desvalorização Acelerada
A turbulência que cerca a Ambipar é inegável e se reflete de forma dramática no seu desempenho no mercado de capitais. As ações da companhia, negociadas em bolsa, registraram uma queda vertiginosa e alarmante de 96,5% no acumulado do ano. Esse colapso quase total do valor de mercado é um claro indicador da massiva perda de confiança dos investidores e da percepção de risco elevadíssimo associado ao papel. Complementando o cenário pessimista, a agência de classificação de risco Fitch Ratings agiu prontamente, rebaixando a nota de crédito da empresa. Conforme detalhado em seu relatório, a decisão da Fitch foi diretamente motivada pelo pedido de recuperação judicial, visto como um sinal inequívoco da deterioração da capacidade da Ambipar de honrar suas obrigações financeiras e um aumento substancial do risco de default (calote). A combinação de ações desvalorizadas e ratings rebaixados cria um ciclo vicioso, dificultando ainda mais o acesso a crédito e o processo de reestruturação da companhia.
Impactos da Decisão
O pedido de recuperação judicial do Grupo Ambipar, em conjunto com as sérias acusações de fraude contábil, desdobra-se em uma complexa teia de impactos que se estendem muito além das fronteiras da companhia, afetando o mercado financeiro, seus credores, funcionários e a reputação de todo o setor. A consequência mais imediata e visível, como já observado, é a desvalorização catastrófica das ações, que praticamente pulveriza o valor para acionistas e investidores, causando perdas financeiras de proporções gigantescas. Este cenário de incerteza gera uma fuga de capital e dificulta qualquer tentativa de capitalização futura. Os credores, entre eles o Bradesco, bancos de fomento, fornecedores e detentores de debêntures, enfrentam agora a angustiante expectativa sobre o recebimento de seus créditos, condicionados ao complexo e muitas vezes moroso processo de aprovação e execução do plano de recuperação judicial.
No front jurídico e empresarial, as alegações de fraude contábil e abuso de personalidade jurídica contra os diretores da Ambipar, incluindo Thiago da Costa Silva, representam uma afronta grave à integridade corporativa. O conceito de abuso de personalidade jurídica, invocado pelo Bradesco, sugere que a separação legal entre a empresa e seus sócios/administradores teria sido utilizada de forma indevida para fins ilícitos, permitindo, por exemplo, que os bens dos diretores sejam alcançados para saldar dívidas da empresa. Tais acusações, detalhadas no processo judicial do Bradesco assinado pelo Warde Advogados, não apenas colocam em xeque a idoneidade dos executivos, mas também lançam uma sombra pesada sobre a governança corporativa da Ambipar como um todo. Um eventual bloqueio de bens, como solicitado pelo banco para assegurar os R$ 390 milhões em disputa, teria um impacto financeiro e reputacional devastador para os diretores, servindo como um severo precedente para todo o mercado sobre a responsabilização de administradores.
A intensa disputa com o fundo Opportunity, envolvendo a venda de ações e a contestação de Tércio Borlenghi Júnior sobre a legalidade das operações, adiciona uma camada extra de imprevisibilidade e instabilidade à gestão da crise. A controvérsia sobre o desrespeito a uma medida cautelar, que deveria ter preservado a estrutura de controle, pode gerar uma série de novos litígios e postergar qualquer tentativa de estabilização da empresa. Este cenário de múltiplos flancos jurídicos e financeiros exige não apenas uma estratégia legal robusta, mas também uma comunicação transparente e eficaz por parte da Ambipar para com seus stakeholders, algo que tem sido desafiador em meio à avalanche de notícias negativas e processos.
Repercussão no Setor e Governança Corporativa
Além dos prejuízos financeiros diretos, a crise da Ambipar inflige um dano incalculável à sua imagem e reputação no mercado. Empresas do setor de gestão ambiental e resposta a emergências dependem fortemente da confiança de clientes, reguladores e parceiros. Escândalos envolvendo fraude e problemas de governança podem afastar potenciais contratos e comprometer a continuidade das operações, em um setor que já exige alta credibilidade. Este caso também projeta uma sombra sobre o mercado corporativo brasileiro em geral, reforçando a necessidade imperativa de uma fiscalização mais rigorosa por parte da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e de outras entidades reguladoras, visando prevenir que situações semelhantes de manipulação contábil e abuso de poder se repitam. É um lembrete contundente de que a ética e a transparência são pilares inegociáveis para a saúde de qualquer corporação e a confiança do mercado.
Próximos Passos
O futuro do Grupo Ambipar está, de agora em diante, intrinsecamente atado ao complexo e burocrático desenrolar de seus processos judiciais e às negociações de reestruturação. O pedido de recuperação judicial marca o início formal de uma longa e árdua jornada. A companhia terá um prazo legal para apresentar um plano detalhado de recuperação, que deverá especificar como pretende honrar suas dívidas, renegociar com credores e, finalmente, retomar sua solidez financeira. Este plano será submetido à rigorosa análise e aprovação da assembleia de credores, onde o Bradesco e outros detentores de dívidas terão voz ativa, e será supervisionado pelo Poder Judiciário. A capacidade da Ambipar de negociar termos favoráveis, de convencer seus credores sobre a viabilidade de seu plano e de obter a homologação judicial será o fator determinante para sua sobrevivência e para a possibilidade de uma eventual retomada no mercado.
Paralelamente ao processo de recuperação judicial, a ação judicial do Bradesco contra os diretores da Ambipar continuará em curso, representando uma frente legal que exige atenção e recursos significativos. Os advogados do Bradesco, do escritório Warde Advogados, seguirão apresentando as evidências que sustentam a tese de manipulação de balanços e de abuso de personalidade jurídica. O desfecho dessa ação específica pode ter consequências extremamente severas para os diretores individualmente, incluindo a possibilidade do já mencionado bloqueio de bens, e pode estabelecer um marco importante na jurisprudência brasileira sobre a responsabilização de executivos em casos de falência fraudulenta e má-gestão corporativa. É vital notar que, embora nossa reportagem tenha procurado a Ambipar e o Opportunity para comentários atualizados sobre o andamento de todos esses processos, não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria, o que sublinha a extrema sensibilidade e a natureza ainda em evolução da crise.
A disputa com o fundo Opportunity sobre as vendas de ações também é um flanco aberto que demandará resolução. A contestação de Tércio Borlenghi Júnior sobre a legalidade das operações, alegando o suposto desrespeito a uma medida cautelar, pode levar a novos e prolongados embates judiciais ou, eventualmente, a complexas negociações fora dos tribunais para se chegar a um acordo. O mercado e os órgãos reguladores, em especial a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estarão com os olhos atentos a qualquer movimento que possa redefinir o controle acionário da empresa e a sua estrutura de governança. A CVM, dado o cenário de acusações de fraude contábil, tem o papel crucial de investigar quaisquer irregularidades nas informações divulgadas ao mercado e nas transações com valores mobiliários, podendo aplicar sanções e multas se constatar infrações.
Monitoramento Contínuo e Lições para o Mercado
Os investidores, credores, o público em geral e os analistas de mercado continuarão a acompanhar de perto cada desenvolvimento dessa crise multifacetada. A transparência na comunicação da Ambipar com o mercado, a agilidade e a competência de seus gestores em navegar por essa intrincada teia de desafios financeiros e jurídicos, e a efetividade do plano de recuperação judicial serão testados ao limite. A situação da Ambipar, infelizmente, se tornará um relevante estudo de caso sobre os desafios da governança corporativa em empresas de capital aberto, os riscos inerentes à manipulação contábil e a alta volatilidade que o mercado pode experimentar diante de crises financeiras e jurídicas de tal magnitude. As lições aprendidas com este caso terão o potencial de influenciar as práticas de mercado e a percepção de risco para outras empresas brasileiras em um futuro próximo, reforçando a importância da conformidade e da ética nos negócios.
Fonte:
Revista Oeste – Bradesco aciona executivos da Ambipar na Justiça por insolvência. Revista Oeste
Neofeed – Na crise da Ambipar, Opportunity vende mais ações. Neofeed
Valor.Globo.com – Fitch corta notas de crédito da Ambipar após pedido de recuperação judicial. Valor.Globo.com
