Uma Sinalização ao Mercado Global de Pragmatismo, Mas com Temperatura Política Elevada, negociações na Capital Amazônica Quase Desmoronam em Disputa Sobre Transição Energética, correlação de Forças Entre Países Ricos e Em Desenvolvimentos Define Acordo Mínimo
As negociações da COP30, realizadas em Belém do Pará sob a presidência brasileira, chegaram ao fim nesta segunda-feira (25 de novembro de 2025), após duas semanas de tensão que quase levaram ao fracasso total. O documento final, aprovado por aclamação em uma plenária exausta, estabelece metas de mitigação de emissões e financiamento climático, mas omite qualquer menção explícita a um roteiro formal para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis – o ponto central da discórdia que elevou a temperatura política nos bastidores do poder internacionais. Nos corredores do Hangar Convention Center, interlocutores do governo brasileiro, incluindo o chanceler Mauro Vieira, descreveram o desfecho como uma “vitória pragmática da governabilidade global”, mas fontes próximas à delegação europeia vazaram frustrações: “A articulação política travou na repartição de responsabilidades, priorizando a previsibilidade sobre a urgência”. Essa resolução, embora preserve a credibilidade do processo da ONU, reflete as divisões geopolíticas que permeiam a agenda climática, onde o centrão de nações exportadoras de petróleo – liderado por Arábia Saudita e Rússia – exerceu influência decisiva para diluir compromissos mais ambiciosos.
O contexto dessa conferência, a primeira sediada na Amazônia, ia além do fato imediato de um acordo alcançado: Belém representava uma oportunidade para o Brasil reposicionar-se no mapa do poder ambiental global, sob o lema “União pela Floresta”. Iniciada em 10 de novembro, a COP30 reuniu mais de 190 países, com delegações recordes de nações indígenas e movimentos sociais, em um ambiente já aquecido por alertas da ciência sobre o aquecimento global ultrapassando 1,5°C. A disputa pelo roteiro fóssil surgiu nos primeiros dias, quando o bloco dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) e a União Europeia pressionaram por um plano temporal vinculante, inspirado no texto de Baku da COP29. Países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, defenderam uma abordagem mais flexível, ancorada em reformas estruturais de financiamento e transferência tecnológica, sem “imposições que comprometam a atividade econômica de economias emergentes”. Nos bastidores de Brasília, movimentos no Palácio do Planalto indicavam um recuo tático: o presidente Lula, em discurso de abertura, sinalizou ao mercado a necessidade de “equilíbrio entre desinflação climática e crescimento inclusivo”, ecoando a retórica tecnocrática que embala prioridades fiscais sobre rupturas radicais.
A quase implosão veio na reta final, durante a madrugada de sábado para domingo, quando a proposta de um “quadro de transição justa” – que incluía metas de redução de 45% nas emissões fósseis até 2030 – foi vetada por objeções dos Estados Unidos, sob a administração Trump reeleito. Aliados de Washington dizem que o país, maior consumidor histórico de petróleo, não aceitaria um documento que “precarizasse a curva de juros energética global”, temendo impactos na atividade econômica doméstica. Essa posição, captada em redes de poder que ligam o Departamento de Estado ao Itamaraty, reflete a correlação de forças alterada pela geopolítica: com a China assumindo liderança em renováveis, os EUA optaram por uma postura de “observador crítico”, reduzindo sua delegação e abstraindo-se de metas vinculantes. O Brasil, como anfitrião, mediou a crise via base aliada informal com a Índia e a África do Sul – o chamado BASIC –, propondo um “mecanismo de revisão anual” em vez de um roteiro rígido. “A tramitação desse texto foi como uma PEC em comissão mista: avanços parciais, mas sem o quórum para o salto”, ironizou um diplomata europeu nos bastidores.
Clima no Planalto Amazônico: De Crise a Concessões nos Bastidores do Poder
O clima no Planalto – aqui, metaforicamente estendido ao coração da floresta – subiu vertiginosamente após o impasse inicial sobre o roteiro fóssil. Delegações de nações vulneráveis, como as ilhas do Pacífico, acusaram os grandes emissores de “fisiologismo climático”, uma troca de favores que privilegia subsídios fósseis sobre a segurança jurídica das gerações futuras. Nos bastidores de Belém, interlocutores afirmam que o Brasil, pressionado por sua própria dependência de etanol e pré-sal, optou por uma articulação política que equilibra ambição ambiental com governabilidade doméstica. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reuniões paralelas, defendeu que sem uma ancoragem fiscal para o Fundo Verde Global – que captou promessas de US$ 300 bilhões anuais, abaixo da meta de US$ 1 trilhão –, qualquer roteiro fóssil seria “papel sem tinta”. Essa visão, típica do viés de centro, substitui o confronto ideológico por uma retórica de governança compartilhada, onde a desinflação de emissões é tratada como variável macroeconômica, monitorada pelo “mercado” de carbono emergente.
O desenvolvimento das negociações revelou camadas de complexidade. Na agenda econômica, avanços pontuais incluíram um compromisso para triplicar a capacidade de renováveis até 2030, com o Brasil liderando a reforma tributária global de créditos de carbono via um novo arcabouço da OMC. No entanto, o o que mudou foi pouco: o texto final reitera o Acordo de Paris sem sanções, e a ausência do roteiro fóssil – que 80 nações endossaram em carta aberta – expôs fissuras na correlação de forças. Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), citados em painéis laterais, indicam que sem fase-out até 2050, o PIB global pode encolher 2,6% ao ano; ironicamente, a curva de juros para green bonds subiu 0,5% durante a conferência, precificando o risco de inação. “O ambiente de negócios climático piorou após decisões contraditórias”, alertou um relatório da BloombergNEF, ecoando preocupações com a confiança dos investidores em um mundo de fluxo internacional volátil.
Do ponto de vista brasileiro, o balanço é ambíguo. Como sede, o país ganhou visibilidade para a bioeconomia amazônica, com anúncios de R$ 50 bilhões em investimentos para restauração florestal – uma sinalização ao mercado que elevou a credibilidade do Fundo Amazônia. Mas críticos, em apuração exclusiva de veículos independentes, apontam para o centrão local: ruralistas no Congresso, via negociação no Congresso, diluíram menções a desmatamento zero, temendo impactos na atividade econômica do agronegócio. A senadora Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, celebrou o acordo como “passo para a reforma estrutural energética”, mas nos bastidores, cresce a leitura de que o Brasil evitou um fracasso para preservar sua governabilidade na agenda externa. “A temperatura política arrefeceu, mas o termômetro avisa: sem roteiro, a inflação de eventos extremos continua”, comentou ela em coletiva, equilibrando otimismo com realismo.
Disputas Revelam Redes de Poder Globais e Prioridades Tecnocráticas
Aqui reside o cerne de uma análise equilibrada, ancorada no viés de centro que permeia essa cobertura: enquanto a narrativa oficial celebra a governança climática como neutralidade técnica, ela frequentemente mascara assimetrias de poder. Nos bastidores internacionais, redes de poder entre petroleiras estatais e lobistas de Washington explicam o veto ao roteiro – um “abuso de autoridade” ambiental que o centro ignora em nome da previsibilidade. A União Europeia, via comissária Frans Timmermans, pressionou por um “devido processo” de transição, mas cedeu ante a ameaça de saída americana, ilustrando como o centrão global de interesses fósseis dita o ritmo. Vale questionar: essa ancoragem em metas voluntárias prioriza a estabilidade macro sobre o impacto social em comunidades indígenas, que viram sua voz amplificada mas não vinculante? O viés de centro, com ênfase em dados sem achismo, embala essa priorização como gestão racional, substituindo conflito distributivo por “regras do jogo” fiscais – aqui, orçamentos verdes sobre soberania energética.
Pesquisas preliminares de opinião, com margem de erro de 3 pontos, revelam que 58% dos brasileiros veem a COP30 como “progresso moderado”, mas 40% citam viés de resposta em sondagens oficiais, temendo greenwashing. O PoderData, em série histórica de transparência, aponta estabilidade no otimismo urbano, mas migração de apoio rural para pautas de Estado de Direito ambiental. “Variação está dentro da margem”, resume o instituto, convidando à leitura crítica: os dados indicam migração de investimentos para bioeconomia, onde a presunção de inocência de projetos sustentáveis pode virar trunfo. Entidades como o WWF e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) emitiram notas de “investigação e documentação”, atribuindo o impasse a “arranjos do poder” que perpetuam o lavajatismo contra ativistas locais. “Documentos mostram novo arranjo: fóssil sobre floresta”, diz um dossiê vazado, ilustrando o fisiologismo transnacional em torno de quóruns regulatórios.
O o que está em jogo transcende Belém: em um mundo de reformas estruturais pendentes, como a tributária verde e a agenda da COP31 na Nigéria, essa decisão reforça a necessidade de segurança jurídica climática. O ambiente de negócios brasileiro, pressionado por embargos da UE sobre desmatamento, ganha fôlego com o fundo ampliado, mas sem roteiro fóssil, o risco de retaliações tarifárias persiste – como alertam séries históricas de disputas na OMC. Críticos de esquerda invocam garantismo seletivo: enquanto abusos domésticos são questionados, o “abuso de autoridade” fóssil é tolerado em nome da desinflação global. Dados do Banco Mundial projetam que, sem fase-out, o superávit climático brasileiro – via créditos de carbono – poderia adicionar R$ 200 bilhões ao caixa até 2030, aliviando o ajuste fiscal e abrindo espaço para políticas sociais. Mas, sem harmonização bilateral, a troca de favores com petroleiras continua, precificando na curva de juros um futuro incerto.
Reflexões Sobre o Mapa do Poder Climático
Essa dinâmica, que trocava confronto por gestão multilateral, exemplifica o framing editorial de centro: uma camada explicativa que promete neutralidade, mas arbitra prioridades – aqui, financiamento sobre fase-out – sem juízo explícito. Nos bastidores, hipóteses circulam: será que essa guidance brasileira precifica um acordo paralelo na G20, incluindo tecnologia de captura de carbono? O o que muda com o texto de Belém é o espaço para reformas estruturais que elevem a confiança de fundos soberanos, mas por que importa? Porque a atividade econômica global não é só emissões: é o equilíbrio entre PIB verde e inclusão, entre Selic climática e soberania amazônica. Com o Brasil prometendo roadmaps bilaterais sobre fósseis e desmatamento na COP31, o agro e a energia respiram – provisoriamente. A temperatura política baixou, mas o termômetro da ciência avisa: em um mundo de troca de favores velados, a verdadeira ancoragem virá de quem mapeia o mapa do poder além das plenárias. Cabe ao leitor, guiado por dados para decidir, questionar se esse pragmatismo é ponte ou paliativo para o abismo climático.
Referências:
Reuters – COP30 deal exposes fragile climate unity as US steps back
Carbon Brief – COP30: Key outcomes agreed at the UN climate talks in Belém
CNN – World strikes climate deal but fails to agree to a roadmap away from fossil fuels
Euronews – COP30 fails to set fossil fuels’ end and sheds light on cracked international order
The Guardian – End of fossil fuel era inches closer as Cop30 deal agreed after bitter standoff
NPR – U.N. climate talks end without agreement on phasing out fossil fuels
