Dependência Silenciosa Afeta Milhões, Principalmente Idosos, Aponta Anvisa e Especialistas
Milhões de brasileiros, especialmente idosos, estão desenvolvendo uma dependência silenciosa ao Clonazepam (Rivotril), o calmante mais vendido no país, devido ao seu uso prolongado e inadequado. Em 2024, a Anvisa registrou a alarmante venda de 39 milhões de caixas, o que, somado aos alertas de médicos especialistas, configura um crescente problema de saúde pública que transforma um medicamento para crises agudas em parte da rotina, muitas vezes sem a devida percepção do vício.
Contexto
O Clonazepam, popularmente conhecido pela marca Rivotril, emergiu como um dos medicamentos mais consumidos no Brasil, alcançando a marca impressionante de 39 milhões de caixas comercializadas apenas em 2024, conforme dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Este volume de vendas acende um sinal de alerta sobre a forma como o medicamento, um benzodiazepínico, tem sido utilizado.
Originalmente, benzodiazepínicos como o Clonazepam são indicados para o tratamento de condições agudas, como crises de ansiedade ou insônia severa e pontual, devido ao seu potente efeito calmante e indutor de sono. Contudo, seu uso prolongado e sem acompanhamento médico rigoroso pode levar a uma série de complicações, incluindo a dependência física e psicológica.
A situação é particularmente preocupante entre a população idosa. Estima-se que cerca de 2 milhões de idosos façam uso regular do medicamento, muitos deles sem se recordar sequer quando iniciaram o tratamento. Relatos como “Sem ele, não durmo” tornam-se comuns, evidenciando a dificuldade de descontinuação e a forte ligação emocional e física com a substância.
A Advertência dos Especialistas
O neurologista Alan Eckeli, especialista em medicina do sono e professor da USP de Ribeirão Preto, tem sido uma voz ativa nesse debate. Segundo Eckeli e outros médicos ouvidos, o problema não reside no medicamento em si, mas na sua prescrição e uso desinformado que o transformou de uma solução temporária em uma rotina diária para muitos.
A falta de investigação aprofundada das causas da insônia e ansiedade por parte de alguns profissionais de saúde, aliada à busca rápida por alívio, contribui para a perpetuação do ciclo de uso e dependência. A rapidez de ação do Clonazepam, que proporciona um alívio imediato, pode mascarar a necessidade de abordagens terapêuticas mais completas e duradouras.
Impactos da Decisão
As consequências do uso prolongado e inadequado do Clonazepam são extensas e afetam diretamente a qualidade de vida dos pacientes, especialmente os idosos. Um dos principais impactos é o desenvolvimento da já mencionada dependência silenciosa, onde o corpo e a mente se acostumam à presença do medicamento, tornando a sua retirada um processo difícil e, muitas vezes, doloroso.
Para os idosos, os riscos são ainda mais acentuados. O Clonazepam pode levar a sérios efeitos colaterais como confusão mental, comprometimento da memória, aumento do risco de quedas e fraturas devido à sedação excessiva e coordenação motora prejudicada. Esses efeitos contribuem para a perda de autonomia e para um declínio geral na saúde.
Além dos efeitos diretos no indivíduo, o cenário de dependência de Clonazepam impõe um desafio crescente para a saúde pública. O sistema de saúde precisa lidar com as consequências do uso indiscriminado, que vão desde consultas e internações por efeitos adversos até a demanda por tratamentos de desintoxicação e acompanhamento psicológico para a retirada do medicamento.
Desafios na Desprescrição
A desprescrição, ou seja, a retirada gradual do Clonazepam, é um processo complexo que exige acompanhamento médico e, muitas vezes, multiprofissional. Muitos pacientes que tentam parar por conta própria enfrentam uma síndrome de abstinência, que pode incluir sintomas como ansiedade rebote, insônia ainda mais intensa, tremores e irritabilidade, levando-os a retornar ao uso.
A falta de percepção sobre o vício é um dos maiores obstáculos. Pacientes e familiares, muitas vezes, não associam os novos problemas de saúde ou o agravamento de condições existentes ao uso do medicamento, dificultando o diagnóstico da dependência e a busca por ajuda especializada.
Próximos Passos
Diante do cenário de alerta, a comunidade médica e as autoridades de saúde reforçam a necessidade de ações coordenadas para mitigar os impactos da dependência de Clonazepam. Um dos pilares é a promoção da prescrição consciente por parte dos profissionais de saúde, incentivando a avaliação rigorosa da necessidade do medicamento e a busca por alternativas não farmacológicas sempre que possível.
O acompanhamento contínuo dos pacientes é fundamental. Médicos e farmacêuticos devem monitorar de perto o uso de Clonazepam, reavaliando periodicamente a sua real necessidade e propondo planos de desprescrição gradual quando indicado. Este acompanhamento deve incluir a investigação das causas subjacentes da insônia ou ansiedade, como estresse, transtornos de humor ou outras condições clínicas.
Para o público em geral, especialmente idosos e seus cuidadores, a informação é uma ferramenta poderosa. Campanhas de conscientização sobre os riscos do uso prolongado de benzodiazepínicos, os efeitos colaterais e os sinais de dependência são essenciais para que mais pessoas busquem orientação médica e evitem a armadilha do vício silencioso.
Ações Regulatórias e Educação
A Anvisa, como órgão regulador, pode desempenhar um papel crucial no monitoramento das vendas e na fiscalização das práticas de prescrição, além de investir em diretrizes claras para o uso de benzodiazepínicos. A revisão e atualização periódica das bulas, destacando os riscos da dependência e a importância do uso de curto prazo, também são medidas importantes.
O desenvolvimento de programas de educação continuada para profissionais de saúde, focando em abordagens alternativas para o tratamento da insônia e ansiedade, como terapia cognitivo-comportamental, higiene do sono e atividade física, pode oferecer ferramentas mais eficazes e seguras para lidar com esses problemas de saúde, reduzindo a dependência farmacológica.
A superação do problema da dependência de Clonazepam exige um esforço conjunto de pacientes, familiares, profissionais de saúde e órgãos reguladores, visando uma cultura de uso mais responsável e informado de medicamentos controlados.
Fonte:
Diário do Centro do Mundo – Por que o Clonazepam tem causado dependência silenciosa entre idosos?. Diário do Centro do Mundo
Exemplo – Título indisponível. Exemplo
Peperi – Uso de Clonazepam cresce entre idosos e alerta médicos para risco de dependência silenciosa. Peperi
