A aprovação do cessar-fogo entre Israel e Hamas, seguida pelos primeiros movimentos de retirada militar e pelo retorno gradual de milhares de palestinos às áreas devastadas da Faixa de Gaza, marca uma inflexão rara — e frágil — numa guerra que reconfigurou a segurança regional por quase dois anos. À direita, a leitura central é pragmática: o acordo só existe porque a campanha militar de Israel e a pressão diplomática coordenada criaram os incentivos necessários para que o Hamas aceitasse uma troca de reféns por prisioneiros sob um cronograma verificável. É uma pausa conquistada a duras penas, não um fim de conflito. Qualquer otimismo precisa vir acompanhado de critérios rígidos de verificação, mecanismos de responsabilização e linhas vermelhas claras — especialmente quanto à reconstituição de capacidades militares do Hamas e à fiscalização da ajuda que entra no enclave. New York Post+1
O desenho do primeiro estágio é conhecido: libertação escalonada de reféns israelenses — com uma combinação de vivos e, tragicamente, restos mortais — em troca da soltura de milhares de prisioneiros palestinos, inclusive centenas cumprindo prisão perpétua, além de um afrouxamento gradual do dispositivo militar israelense em porções de Gaza e um aumento massivo do fluxo de ajuda. O texto e os mapas anexos discutidos por negociadores desde o início do ano já previam um teto diário de caminhões de suprimentos, janelas sem sobrevoos e procedimentos para retorno de civis desarmados a áreas específicas, tudo amparado por monitoramento internacional. Aqui está a chave do viés de direita: o sucesso ou fracasso do cessar-fogo não depende de boas intenções, e sim de compliance mensurável e de uma estrutura que impeça a reciclagem de recursos humanitários em capacidade de combate. Sem isso, a pausa vira incubadora de uma nova rodada de violência. Times of Israel+1
O início do retorno de deslocados — cenas de famílias caminhando sobre escombros rumo ao norte de Gaza — é poderoso e humano. Mas, do ponto de vista de segurança, traz dilemas operacionais: como permitir a volta com dignidade e, ao mesmo tempo, evitar que combatentes se misturem a fluxos civis, que túneis sejam retomados e que áreas “desmilitarizadas” se tornem zonas cinzas? A resposta conservadora aponta para uma tríade: corredores humanitários fortemente inspecionados, presença de observadores internacionais com mandato técnico real e o direito de Israel realizar interdições cirúrgicas diante de violações comprovadas. Uma paz que impede Israel de neutralizar ameaças — inclusive redes remanescentes de foguetes e células com mando-controle — não é paz; é convite ao colapso do acordo. The Guardian
A liberação de reféns é o coração moral e político do arranjo. Famílias israelenses viveram 24 meses de espera e luto; algumas receberão entes queridos, outras, apenas confirmação de óbitos. À direita, há duas convicções que caminham juntas: nenhuma barganha vale a vida dos reféns e nenhum governo responsável pode trocar sua segurança estratégica por um alívio momentâneo de opinião pública. O acordo aprovado prevê um cronograma com marcos claros para cada grupo de reféns a ser libertado e condiciona o próximo passo à entrega anterior — evitar “pagamento adiantado” sempre foi lição duramente aprendida por Israel. A contrapartida do lado israelense — soltar prisioneiros, inclusive condenados por ataques — é o preço político mais difícil de justificar. O argumento aqui é de estrita necessidade: se o Hamas cumpre fases subsequentes sem violações, paga-se o preço; se descumpre, o gatilho de reversão deve ser automático, inclusive com a retomada de forças em áreas críticas. New York Post
A ajuda humanitária precisa chegar — e chegar rápido. Fome e colapso sanitário em Gaza são realidades inaceitáveis. Mas a direita insiste que volume não pode substituir controle. Pede-se rastreabilidade por lote, leitura de cadeia logística (da fronteira ao destinatário), tecnologia de verificação (selos, QR codes, auditorias amostrais), participação de organizações com histórico operacional e um papel mais ativo de países mediadores para destravar passagens e, simultaneamente, coibir desvio de insumos. A expansão de corredores e o “boom” de caminhões devem ser acompanhados de métricas diárias: quantos kits médicos chegaram a quais hospitais, quanto combustível foi a geradores civis e quanto alcançou padarias e dessalinizadores. Esse nível de granularidade não é burocracia; é a garantia de que a pausa salva vidas sem rearmar quem jurou repetir 7 de outubro. The Guardian+1
A governança do “dia seguinte” é o ponto mais sensível — e onde visões se distanciam. À direita, a premissa é simples: nenhum arranjo é sustentável se permitir que o Hamas permaneça como autoridade de fato, arrecade, recrute e doutrine. Modelos em discussão falam em uma administração interina com participação palestina não vinculada ao Hamas, com apoio técnico internacional e forte condicionalidade: financiamento e projetos em troca de desmilitarização verificável, reforma de currículos escolares, combate a incitamento e monopólio legítimo da força por forças policiais treinadas e auditadas. O papel de países árabes moderados e de mediadores deve ir além de cheques e fotos — é preciso assumir a copaternidade do enforcement: qual mecanismo expulsa milícias das instalações civis, quem responde por violações sistemáticas, qual o protocolo para sanções automáticas? Sem respostas, a ideia de “governança” desmancha em boas intenções. The Guardian
Também é essencial discutir verificação e violações. O histórico de cessar-fogos no conflito é repleto de incidentes: foguetes disparados durante janelas de trégua, usinas civis transformadas em escudos, prisioneiros recém-libertados retomando atividades em células armadas. O texto-base deste acordo prevê um comitê de monitoramento com mediadores e observadores capazes de atestar violações e acionar remédios proporcionais. O viés conservador advoga que os remédios precisam ser rápidos e previsíveis: violação relevante acarreta suspensão parcial do fluxo de prisioneiros, congelamento de ajuda não essencial e, se necessário, operações de precisão contra alvos que voltarem a ser militarizados. Tudo documentado, com bodycams, imagens de drone e logs de inspeção, para que a disputa de narrativas não corroa a credibilidade do processo. Times of Israel
No plano regional, o cessar-fogo reduz, por ora, o risco de uma guerra aberta com outros atores — Hezbollah no norte, milícias apoiadas pelo Irã em múltiplos teatros. Mas a janela pode ser curta. Para a direita, a lição é que dissuasão funciona quando demonstrações de capacidade e vontade são inequívocas. A aprovação do acordo depois de meses de operações duras e de tentativas de mediação fracassadas reforça uma mensagem: quando o custo militar e reputacional cresce, o Hamas negocia. Manter essa relação de forças — inclusive com interceptações preventivas a lançadores e redes de contrabando — é pré-condição para que a fase um evolua para as seguintes, que incluem retirada mais ampla e compromissos estruturais de desarmamento. New York Post
Outro ponto que a leitura conservadora sublinha é o papel dos mediadores. A convergência de Estados Unidos, Egito, Catar e atores europeus foi decisiva para alinhar cronogramas, garantias e listas. Há quem destaque a diplomacia de pressão de Washington na reta final — um empurrão que, somado ao cálculo militar no terreno, desbloqueou o voto no gabinete israelense e arrancou de Gaza a anuência a um roteiro de trocas e retirada gradual. Não se trata de louros partidários: trata-se de reconhecer que mediação com tração usa incentivos e ameaças críveis. É assim que se obtêm concessões, é assim que se cobram resultados. A direita apoia esse realismo: interlocução intensa, sim; ingenuidade, não. The Guardian+1
No campo interno israelense, o acordo é politicamente caro. Libertar prisioneiros com histórico de violência provoca repulsa legítima em parte da sociedade; famílias de vítimas se sentem traídas. O governo precisará explicar que a equação “reféns por prisioneiros” não é “capitulação”, mas resgate de cidadãos sob uma arquitetura que reduz — e não aumenta — as chances de repetição do horror. Isso exige transparência: quem será liberado, com quais restrições, sob que regime de vigilância; quais salvaguardas existem para evitar que egressos voltem ao terrorismo; qual é o plano para impedir “fábricas de mártires” em homenagens oficiais e propaganda. Sem esse cuidado, a fratura interna vira munição para os sabotadores do acordo. Times of Israel
Já para os palestinos, a volta para casa é ao mesmo tempo alívio e choque: lares destruídos, bairros irrecognoscíveis, escassez crônica. À direita, reconhecer esse sofrimento humano não contradiz a defesa firme da segurança israelense. O caminho responsável é socorrer sem armar, reconstruir sem recompensar violência, empoderar lideranças locais que rejeitem o domínio de milícias. Planos de reconstrução devem vir com cláusulas rígidas: auditorias independentes, desembolsos por marcos, prioridade a infraestrutura civil e a projetos que gerem emprego não militarizado. Os recursos precisam ser condicionais, não incondicionais. Isso protege civis e evita que cimento e aço virem bastiões clandestinos. The Guardian
A pergunta inevitável é se o acordo “acaba a guerra”. Não por ora. O que se tem é uma trégua operacional com roteiro para troca de reféns, retirada parcial e aumento da ajuda, mais um capítulo ainda indefinido sobre governança. Para que a trégua vire paz duradoura, três compromissos terão de coexistir: (1) desmilitarização efetiva do Hamas — sem eufemismos; (2) monopólio legítimo da força por instituições que aceitem critérios mínimos de responsabilidade e transparência; (3) garantias de segurança para Israel que incluam o direito incontestável de neutralizar ameaças antes que elas se consolidem. Qualquer solução que ignore um desses pilares é ilusão de curto prazo. The Guardian
Por fim, um alerta essencial: já houve cessar-fogos que ruíram por violações cumulativas e por leituras distintas de cláusulas. A diferença agora será a capacidade de mensurar e agir. Se os mediadores publicarem boletins diários com dados verificáveis — número de caminhões, destinos, energia entregue, trechos liberados, incidentes, respostas —, a opinião pública regional e internacional terá base para separar propaganda de fato. E se, diante de violações sérias, a resposta for rápida e proporcional, o incentivo para cumprir supera o ganho de sabotar. Esse é o espírito do viés de direita: paz com dentes, que protege civis de ambos os lados e não confunde compaixão com credulidade. The Indian Express
Fontes
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The Guardian — “Palestinians displaced to southern Gaza begin journey home as ceasefire comes into effect” (10.out.2025). The Guardian
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The Guardian (live) — “Israel’s government approves hostage and ceasefire deal — as it happened” (09–10.out.2025). The Guardian
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New York Post — “Israeli cabinet approves Gaza hostage release deal after hours of debate” (09.out.2025). New York Post
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The Times of Israel — “Full text of the hostage-ceasefire agreement reached between Israel and Hamas” (16.jan.2025). Times of Israel
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Indian Express (live) — “Israel–Hamas Ceasefire Live Updates: Ceasefire now into effect; what next for Gaza” (10.out.2025). The Indian Express
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Wikipedia (resumo histórico e disposições do acordo 2025; usar com cautela e cruz-checagem) — “2025 Gaza war ceasefire” (atualizado recentemente). Wikipedia
