Avanço histórico: Vacinação contra o HPV e teste de DNA-HPV impulsionam a erradicação de uma das doenças mais letais entre mulheres no Brasil
O Brasil estabelece um marco significativo na saúde pública com a projeção de eliminação do câncer de colo do útero, uma das neoplasias mais letais entre as mulheres. A iniciativa, impulsionada pela vacinação contra o HPV e a recente incorporação do teste molecular de DNA-HPV nas novas Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento, representa um esforço coordenado para reduzir drasticamente a incidência e mortalidade da doença em todo o território nacional. Essa abordagem estratégica visa proteger especialmente as mulheres em idade reprodutiva e as adolescentes, que se beneficiam da imunização precoce, e promover a detecção precoce.
Contexto
O câncer de colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil, excluindo o câncer de pele não melanoma, e a quarta causa de morte por câncer entre o público feminino. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a doença é diretamente associada à infecção persistente por subtipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV), transmitido principalmente por via sexual.
Anualmente, o país registra cerca de 17 mil novos casos e mais de 6 mil óbitos em decorrência dessa condição, números que ressaltam a urgência de medidas preventivas eficazes. A tragédia dessas estatísticas é amplificada pelo fato de que o câncer de colo do útero é quase totalmente evitável, uma realidade que motivou a reformulação das políticas de saúde no Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu ambiciosas metas globais para a eliminação do câncer de colo do útero até 2030, incluindo 90% das meninas vacinadas contra o HPV, 70% das mulheres rastreadas com testes de alta performance e 90% das mulheres diagnosticadas com a doença recebendo tratamento adequado. O Brasil alinha-se a essa visão com a atualização de suas diretrizes.
A Relação Indissociável entre HPV e Câncer
Apesar de nem todas as infecções por HPV evoluírem para câncer, a presença do vírus é um pré-requisito quase universal para o desenvolvimento da doença. Compreender essa relação é crucial para a estratégia de prevenção, que tem na vacinação sua principal arma. O vírus pode permanecer latente por anos, tornando o rastreamento essencial.
Historicamente, o exame de Papanicolau foi a principal ferramenta de rastreamento no Brasil. Embora importante, sua sensibilidade limitada para detectar lesões precoces impulsionou a busca por métodos mais avançados e precisos, como o teste de DNA-HPV, que identifica o próprio vírus antes mesmo de alterações celulares se manifestarem.
Impactos da Decisão
A incorporação do teste molecular de DNA-HPV nas novas Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero representa uma verdadeira “revolução silenciosa”, como apontado por especialistas. Este teste oferece uma sensibilidade superior ao Papanicolau na detecção de lesões pré-cancerígenas e cancerígenas, permitindo intervenções mais precoces e eficazes.
Conforme Dr. Eduardo Batista Cândido, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia), a nova diretriz prioriza o teste de DNA-HPV para mulheres a partir dos 30 anos, com periodicidade de cinco anos, enquanto o Papanicolau permanece como método complementar em casos específicos ou para triagem em faixas etárias mais jovens, ou onde o teste de DNA-HPV não é amplamente disponível.
A vacina contra o HPV, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, além de grupos específicos com condições de saúde, tem se mostrado altamente eficaz. Estudos internacionais, como os realizados no Reino Unido e na Suécia, demonstram uma redução drástica na incidência de lesões pré-cancerígenas e no próprio câncer de colo do útero em populações vacinadas.
5 Motivos para a Imunização Contra o HPV
A importância da vacinação contra o HPV é inegável, e especialistas reforçam os múltiplos benefícios da imunização:
- Prevenção Primária: A vacina protege contra os tipos de HPV que causam a maioria dos casos de câncer de colo do útero, além de outros tipos de câncer (ânus, orofaringe) e verrugas genitais.
- Eficácia Comprovada: Estudos clínicos e de mundo real atestam a alta eficácia da vacina na prevenção da infecção pelo HPV e das doenças associadas.
- Segurança: A vacina é amplamente testada e considerada segura, com efeitos colaterais leves e transitórios.
- Proteção a Longo Prazo: A imunização confere proteção duradoura, sendo mais eficaz quando aplicada antes do início da vida sexual.
- Saúde Pública: A alta cobertura vacinal gera um efeito de “imunidade de rebanho”, protegendo também aqueles que não foram vacinados e contribuindo para a eliminação da doença na população.
A Dra. Luciana Nicastro, especialista do Hospital e Maternidade Sepaco, destaca que a vacinação é a principal ferramenta para prevenir a doença antes mesmo que ela comece. A Dra. Ana Paula Beck, do Einstein Hospital Israelita, reforça a importância da vacina como um investimento na saúde futura das novas gerações.
Para a Dra. Maria dos Anjos Neves Sampaio Chaves, do Delboni Salomão Zoppi, a combinação da vacinação precoce com o rastreamento molecular representa a estratégia mais robusta para conter o avanço do câncer de colo do útero e, eventualmente, eliminá-lo como problema de saúde pública no país.
Próximos Passos
Apesar dos avanços significativos, o caminho para a eliminação do câncer de colo do útero no Brasil ainda apresenta desafios. Um dos pontos críticos é a necessidade de ampliar a cobertura vacinal contra o HPV, que ainda não atingiu os patamares ideais em todas as regiões do país. Campanhas de conscientização e acesso facilitado são fundamentais para reverter esse quadro.
Outro desafio reside na implementação e disseminação equitativa do teste de DNA-HPV em todo o território nacional, especialmente em áreas remotas e de difícil acesso. A capacitação de profissionais de saúde e a garantia de infraestrutura laboratorial adequada são passos essenciais para que as novas diretrizes alcancem seu pleno potencial.
O Ministério da Saúde e as entidades de saúde, como a Febrasgo, continuarão com o monitoramento e a avaliação contínua da efetividade dessas políticas, ajustando estratégias conforme necessário. A colaboração entre governo, sociedade civil e profissionais de saúde é vital para sustentar o progresso e garantir que nenhuma mulher seja privada do direito à prevenção e ao tratamento adequado.
A meta de eliminação do câncer de colo do útero no Brasil é ambiciosa, mas se torna cada vez mais tangível com a união da ciência, da tecnologia e de políticas públicas assertivas. O futuro da saúde feminina no país se desenha com mais esperança e menos casos de uma doença que pode e deve ser evitada.
Reportagem de Mônica Ermírio.
Fonte:
UOL – Outubro Rosa: Além do câncer de mama, por que prevenir HPV é tão importante. UOL
Terra – Após novas diretrizes, vacina contra o HPV se torna essencial, especialista explica. Terra
TNH1 – Outubro Rosa: Tumores ginecológicos afetam 13% das mulheres. TNH1
