Traficantes atacam carro de família em Japeri e criança de 1 ano e 7 meses é atingida – caso revela o fracasso absoluto da guerra às drogas e o abandono estatal nas periferias que alimenta o ciclo de violência enquanto a elite aplaude repressão
O Brasil capitalista e racista mostrou mais uma vez sua face mais bárbara. Na noite de quarta-feira 20 de novembro de 2025, uma bebê de apenas 1 ano e 7 meses foi baleada na cabeça quando o carro em que estava com a família foi atacado por traficantes na comunidade São Jorge, em Engenheiro Pedreira, Japeri, na Baixada Fluminense. A criança, que retornava com os pais e parentes de uma comemoração familiar, foi atingida por tiro que atravessou o veículo. Levada em estado grave para o Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, passou por cirurgia de emergência para retirada do projétil e, segundo boletim médico desta quinta-feira, está estável, sedada e em observação na UTI pediátrica.
O ataque que a mídia hegemônica chama de “confronto” e nós chamamos de genocídio
A mídia hegemônica tratou o caso como “ataque de traficantes” ou “tiroteio na Baixada”. Mas a contrainformação já rompeu o cerco e chama pelo nome que merece: mais um capítulo do genocídio da juventude negra nas periferias brasileiras. A família – negra, trabalhadora, moradora da comunidade – foi abordada por criminosos armados que confundiram o carro com o de facção rival ou simplesmente dispararam para impor terror. O pai da criança, um trabalhador comum, relatou que gritou “é morador, é morador” mas os tiros vieram mesmo assim. A bebê foi atingida na cabeça. A mãe entrou em desespero. Os parentes tentaram proteger as crianças com o corpo.
Esse não é caso isolado. É rotina. É o dia a dia das favelas e periferias do Rio de Janeiro onde o Estado só aparece para matar ou para ser ausente. Onde a guerra às drogas – essa política genocida importada do imperialismo estadunidense – transforma comunidades em campos de batalha permanente. Onde crianças negras morrem baleadas enquanto dormem, brincam ou viajam com a família porque o poder público abandonou qualquer projeto de inclusão social e apostou tudo na repressão que só alimenta o ciclo de violência.
O que a mídia hegemônica esconde no “tiroteio”
A mídia hegemônica repete o roteiro de sempre: “confronto entre traficantes”, “bala perdida”, “violência urbana”. Nunca pergunta por quê. Nunca pergunta quem lucra com essa guerra que já dura 40 anos. Nunca pergunta por que o Brasil é o país que mais mata e mais morre por arma de fogo no mundo. Nunca pergunta por que a Baixada Fluminense – região pobre, negra, trabalhadora – é tratada como terra de ninguém onde vida vale menos que nada.
Mas nós perguntamos. E respondemos: porque o cartel financeiro e a elite brasileira precisam da guerra às drogas para justificar o estado de exceção permanente nas periferias. Precisam do medo para aprovar pacotes de segurança que aumentam pena, constroem presídios, compram armas – tudo para enriquecer a indústria da segurança enquanto o povo morre. Precisam do pânico para eleger deputados que defendem “bandido bom é bandido morto” enquanto seus filhos estudam em colégios suíços.
A bebê baleada em Japeri não é “vítima de bala perdida”. É vítima de um sistema que escolheu a repressão em vez da prevenção. Que escolheu a guerra em vez da paz social. Que escolheu o genocídio da juventude negra em vez de investimento em educação, saúde, emprego, cultura nas periferias. É vítima do mesmo sistema que transforma jovem pobre em soldado do tráfico porque o Estado nunca chegou com escola de tempo integral, com posto de saúde funcionando, com oportunidade de trabalho digno.
A guerra às drogas que só mata pobre
A guerra às drogas é o maior crime organizado do Brasil. Criada pelo imperialismo estadunidense nos anos 70, importada por ditaduras militares, mantida por governos neoliberais e agora aprofundada por governadores que posam de “duros” enquanto o povo sangra. No Rio de Janeiro, essa guerra já matou mais que muitas guerras civis. Só em 2024, mais de 1.200 pessoas morreram em “confrontos” policiais – 80% negras, segundo o ISP. E quem morre do outro lado? Traficantes? Não. Moradores. Crianças. Trabalhadores que voltam do serviço. Bebês que dormem no colo da mãe.
A bebê de Japeri é mais uma. Podia ser Ágatha Félix. Podia ser João Pedro. Podia ser Maria Eduarda. Podia ser qualquer uma das milhares de crianças negras assassinadas pelo Estado ou pelo crime que o Estado criou com sua ausência. Porque o tráfico não existe no vácuo. Existe porque o capitalismo precisa de exército de reserva precário, de mão de obra barata, de gente desesperada que aceita carregar arma ou mula porque não tem alternativa.
E a solução que a extrema direita oferece? Mais bala. Mais operação policial. Mais caveirão. Mais “licença para matar”. A mesma solução que Bolsonaro defendeu, que Witzel defendeu, que Cláudio Castro defende. A mesma solução que transforma policial em herói quando mata preto pobre e transforma traficante em monstro quando mata pobre também. Porque no fim, o sistema não liga para quem morre – liga para quem obedece.
O silêncio cúmplice da elite e o choro que não comove
A mídia hegemônica mostrou a bebê baleada. Mostrou a mãe desesperada. Mostrou o hospital lotado. Mas não mostrou o contexto. Não mostrou que Japeri é uma das cidades mais pobres do estado. Não mostrou que a comunidade São Jorge não tem saneamento básico, não tem escola decente, não tem posto de saúde 24h. Não mostrou que o Estado só chega lá para matar ou para ser ausente.
O cinismo ‘liberal’ é flagrante: quando bebê de classe média leva tiro perdido em área nobre, é escândalo nacional. Quando bebê negro da Baixada leva tiro na cabeça, é “violência urbana”. Quando criança branca morre, é tragédia. Quando criança negra morre, é estatística.
E a elite brasileira? A elite que mora em condomínio fechado, que tem segurança privada, que manda filho para escola particular – essa elite aplaude a guerra às drogas. Aplaude porque sabe que a repressão nunca chega no seu asfalto. Aplaude porque o medo justifica o muro mais alto, o carro blindado, o voto na extrema direita que promete “ordem” em troca de direitos.
A solução que a extrema direita odeia e o povo precisa
O caso da bebê de Japeri não é isolado. É rotina. É o dia a dia de quem mora onde o Estado não chega para nada além de matar ou ser ausente. É o dia a dia de quem vive sob o estado de exceção permanente que a República Lava Jato e o bolsonarismo tentaram ampliar para todo o país.
A solução não é mais polícia. É menos desigualdade. É investimento maciço em educação integral, saúde, cultura, emprego jovem nas periferias. É legalização e regulação das drogas para tirar o lucro do tráfico. É desmilitarização da PM. É controle externo da polícia. É fim da doutrina de confronto que transforma favela em campo de batalha.
Porque enquanto o Brasil tratar pobre como inimigo, crianças vão continuar morrendo baleadas. Enquanto o Brasil tratar preto como suspeito, bebês negros vão continuar sendo vítimas “colaterais”. Enquanto o Brasil tratar periferia como terra de ninguém, o crime organizado – o de terno e o de fuzil – vai continuar lucrando.
A bebê de Japeri sobreviveu. Mas quantas não sobrevivem? Quantas Ágathas, Joãos Pedros, Marias Eduardas precisam morrer para que a elite brasileira entenda que a guerra às drogas é guerra contra o povo pobre?
A contrainformação segue rompendo o cerco. Porque enquanto a mídia hegemônica chama isso de “tiroteio”, nós chamamos de genocídio da juventude negra. E genocídio não é fatalidade. É política de Estado.
E política de Estado se muda com luta. Com organização popular. Com voto consciente. Com resistência diária nas favelas que não se rendem.
A bebê de Japeri é mais uma sobrevivente. Que ela seja a última não é pedido. É exigência.
Fontes:
G1 – Bebê de 1 ano baleada em ataque a tiros em Japeri
O Globo – Bebê de 1 ano é baleada na cabeça após carro da família ser abordado por traficantes em Japeri
Folha de S.Paulo – Criança de 1 ano é atingida por tiro na cabeça após suposto ataque de traficantes no RJ
Metropoles – RJ: bebê é baleada na cabeça após família ser abordada por traficantes
UOL – Bebê é baleada na cabeça em Japeri; criança está estável após cirurgia
