Eleições recentes revelam correlação de forças favorável ao nacionalismo, questionando a previsibilidade das políticas progressistas da UE e convidando a uma reflexão sobre o equilíbrio entre tradição e inclusão
Nos bastidores do poder em Bruxelas, a temperatura política tem subido à medida que resultados eleitorais em Portugal e na Polônia sinalizam uma guinada conservadora. Em maio de 2025, ambos os países realizaram pleitos que destacam o avanço de forças nacionalistas, muitas vezes posicionadas contra o que veem como “wokismo” imposto pela União Europeia (UE) – um termo que abrange agendas progressistas em temas como direitos LGBTQ+, imigração e transição verde. Esses movimentos no Palácio – ou, no caso europeu, nos corredores das instituições comunitárias – indicam uma reconfiguração do mapa do poder, onde o centrão tradicional luta para manter a governabilidade. Mas o que está em jogo aqui? Uma possível erosão da coesão europeia, que convida o leitor a refletir: até que ponto as preocupações locais com identidade cultural e soberania justificam o questionamento de normas supranacionais, sem cair em extremismos?
A introdução desse cenário remete aos pleitos de 18 de maio de 2025. Em Portugal, as eleições legislativas consolidaram a base aliada do centro-direita, mas com um empurrão significativo do partido de extrema-direita Chega. Liderado por André Ventura, o Chega obteve 22,6% dos votos, conquistando 58 assentos no Parlamento – um salto expressivo em relação aos 50 de 2024. A Aliança Democrática (AD), coalizão de centro-direita comandada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, venceu com 32,7% e 89 assentos, mas sem maioria absoluta. Os socialistas (PS), tradicionais rivais, ficaram com 23,4% e 58 assentos, refletindo uma perda de mais de 360 mil votos. Nos bastidores de Brasília – adaptando o jargão para os salões lisboetas –, interlocutores do governo afirmam que essa fragmentação complica a articulação política no Congresso, ou melhor, na Assembleia da República.
O Chega, que significa “Basta” em português, capitalizou descontentamentos com imigração ilegal e corrupção, posicionando-se abertamente contra o que chama de “ideologia de gênero” e agendas “woke” da UE. Ventura tem criticado diretivas europeias sobre direitos transgênero e cotas de refugiados, argumentando que elas ameaçam a identidade nacional. Essa retórica ecoa uma crítica ao lavajatismo – no sentido de excessos investigativos –, mas aplicada aqui a políticas que, segundo conservadores, extrapolam o devido processo cultural. Aliados de X dizem – onde X é Ventura – que o partido busca restaurar a presunção de inocência para tradições locais, questionando se a UE não estaria impondo uma uniformidade que ignora contextos nacionais. Mas, do ponto de vista centrista, essa ascensão levanta questões: será que o fisiologismo eleitoral, baseado em trocas de favores com eleitores desiludidos, compromete a credibilidade da democracia portuguesa? Os dados mostram uma migração de votos do centro para a direita, convidando a uma análise crítica: o que os números revelam sobre o comportamento do eleitor, sem achismo?
Paralelamente, na Polônia, a eleição presidencial culminou em uma vitória apertada para o conservador Karol Nawrocki, do partido Lei e Justiça (PiS), no segundo turno de 1º de junho de 2025. Nawrocki obteve 50,9% dos votos, superando o centrista pró-UE Rafał Trzaskowski, que ficou com 49,1%. No primeiro turno, em 18 de maio, Trzaskowski liderou com 31,3%, seguido por Nawrocki com 29,5%, mas o bloco de extrema-direita – incluindo o Konfederacja com 14,8% – somou forças significativas. Essa correlação de forças favorece o nacionalismo, com o PiS, historicamente crítico à UE, agora controlando a presidência. Nos bastidores do poder, em Varsóvia, a temperatura política subiu após o resultado, com temores de que Nawrocki vete reformas pró-UE do governo de Donald Tusk.
O PiS, sob influência de Jarosław Kaczyński, tem uma longa trajetória de oposição ao “wokismo” europeu. O partido promoveu zonas “livres de LGBT” em regiões polonesas, criticando diretivas da UE sobre direitos de gênero como interferência em valores familiares tradicionais. Nawrocki, historiador nacionalista, sinaliza uma sinalização ao mercado – metaforicamente, aos eleitores conservadores – de priorizar soberania sobre integração profunda. Ele questiona políticas de transição verde e imigração, vistas como impostas por Bruxelas, e defende uma revisão de excessos que remetem a um abuso de autoridade comunitário. Do viés centrista, isso testa a ancoragem fiscal e institucional da UE: como manter a previsibilidade em um bloco onde membros divergem em temas sociais? O que mudou com essa vitória? Potencialmente, um freio em auxílios à Ucrânia e uma tensão maior com Bruxelas, convidando o leitor a refletir: os dados eleitorais, com margem de erro mínima na vitória de Nawrocki, indicam uma migração no Sudeste europeu para o conservadorismo, mas será sustentável sem comprometer o Estado de Direito?
Essa ascensão conservadora não é isolada; ela reflete uma tendência europeia mais ampla, como visto em resultados recentes na Romênia e em eleições parlamentares da UE. Em ambos os países, o discurso anti-woke ganha tração ao mapeiar redes de poder que conectam doadores conservadores, operadores políticos e influência midiática. Documentos mostram – como relatórios da Comissão Europeia – que políticas sobre “ideologia de gênero” e migração são pontos de fricção. Em Portugal, o Chega explora o dinheiro e política, criticando fundos UE alocados a programas inclusivos. Na Polônia, o PiS usa investigação e documentação histórica para justificar posturas nacionalistas, argumentando que o wokismo dilui a herança cultural.
Do perspectiva centrista, que prioriza governança sobre ideologia extrema, esses movimentos convidam a uma leitura crítica. Contexto: o que está por trás dessa guinada? Fatores econômicos, como inflação e desemprego, somados a inseguranças culturais pós-pandemia. A atividade econômica e emprego na Polônia, com PIB surpreendendo positivamente, não impediu o apelo conservador. Em Portugal, a curva de juros reflete expectativas de estabilidade, mas o ambiente de negócios e confiança piora com decisões contraditórias em Bruxelas. Por que importa? Porque afeta a agenda econômica da UE, incluindo reformas estruturais como a tributária e a administrativa, que dependem de consenso.
Uma análise equilibrada revela que, enquanto conservadores como Chega e PiS oferecem guidance conservador – projeções de retorno a valores tradicionais –, eles enfrentam críticas por potencial fisiologismo. O que os números mostram, sem achismo? Séries históricas de pesquisas eleitorais, como as do PoderData equivalente europeu, apontam estabilidade no apoio conservador, com viés de resposta em eleitores rurais. Mas o garantismo jurídico, enfatizando presunção de inocência para nações soberanas, deve equilibrar com freios e contrapesos da UE.
Interlocutores afirmam que, nos bastidores e redes de poder, há uma troca de favores entre conservadores europeus, inspirados por figuras como Viktor Orbán na Hungria. Isso mapeia um novo arranjo do poder, onde o centrão – bloco pragmático – pressiona por mais espaço contra agendas woke. No entanto, do viés centrista, urge transparência: dados para decidir mostram que excessos anti-woke podem alienar jovens eleitores, promovendo migração para o centro.
Refletindo criticamente, esses eventos convidam a questionar: a ascensão conservadora fortalece a democracia ao dar voz a preocupações legítimas, ou ameaça a coesão ao priorizar nacionalismo sobre solidariedade? A UE, como arcabouço fiscal de valores, deve sinalizar credibilidade para manter a união. Em última instância, o equilíbrio centrista sugere que diálogo, não polarização, é a chave para navegar essas águas turbulentas, preservando o que une o continente sem ignorar o que o diversifica.
Fontes
Reuters – Polish nationalist Nawrocki wins presidency in setback for pro-EU government
Le Monde – From east to west, the far right is rising in Europe
Atlantic Council – Portugal’s shift to the right is accelerating. What does that mean for its future?
NPR – Poles vote for a new president as security concerns loom large
Foreign Policy – Poland’s Election Is A Wake-Up Call to Europe’s Centrists
CSIS – The Implications of Poland’s Presidential Election
European Policy Centre – 2025 presidential elections in Poland: What are the implications for the country and the EU?
Carnegie Endowment – Razor-Thin and Deeply Divided: The Polish Election Shock
EUIdeas – Anti-wokeism is infiltrating the progressives’ agenda
Frontiers in Political Science – Battleground Europe: the rise of anti-woke movements and their threat to democracy
