Maior Apreensão de Cocaína em Águas Portuguesas Envolve Colaboração Internacional e Expõe Fragilidades na Governabilidade de Rotas Marítimas Sul-Americanas
Portugal anunciou nesta segunda (24) a prisão de dez brasileiros que transportavam quase oito toneladas de cocaína em dois barcos pesqueiros interceptados no Oceano Atlântico, a mil milhas náuticas de Lisboa. A carga, avaliada em €400 milhões, é a maior já feita pelas autoridades portuguesas.
Os navios partiram de Santa Catarina no início de outubro, disfarçados de pesca de atum. Foram localizados entre a Madeira e os Açores. Cinco tripulantes já estão em prisão preventiva; os demais aguardam decisão judicial.
Nos bastidores de Lisboa, interlocutores da Polícia Judiciária celebram a operação como vitória da inteligência multinacional. Em Brasília, a PF destaca cooperação com DEA, NCA britânica e Marinha Portuguesa.
Como aconteceu
- 17 de novembro – Primeiro barco abordado: 4,5 toneladas.
- 20 de novembro – Segundo barco: mais 3,5 toneladas.
- Total: 7.980 kg de cocaína pura, em fardos camuflados nos porões.
A ação envolveu 210 militares portugueses, drones e aviões de patrulha. O rastreamento começou ainda no litoral catarinense.
Redes de poder por trás
A PF liga os presos ao Primeiro Grupo Catarinense (PGC), facção que domina o tráfico em SC. Pescadores endividados são recrutados com promessas de €50 mil por viagem.
Santa Catarina é porta de saída preferida: frota pesqueira grande, fiscalização limitada e proximidade com Paraguai (principal produtor via Bolívia e Peru).
Correlação de forças no combate
A operação mostra força da base aliada internacional, mas expõe fragilidades brasileiras. Apesar de radares e satélites, o Brasil tem apenas 12 embarcações de patrulha para 8.500 km de costa.
Nos bastidores do Planalto, movimentos indicam prioridade para compra de drones e navios, mas orçamento 2026 trava na tramitação de emendas do centrão.
Impacto econômico
A apreensão dá prejuízo de €400 milhões ao crime organizado. Na Europa, o quilo de cocaína pura vale €35-50 mil. Em SC, o ambiente de negócios pesqueiro sofre estigma: exportações legais de R$ 2 bilhões/ano agora sob suspeita.
A curva de riscos geopolíticos no Atlântico Sul sobe. Analistas precificam alta de 8-12% no preço da cocaína nas ruas europeias nas próximas semanas.
Dados para decidir
Europol: Brasil responde por 42% da cocaína que chega à Europa via marítima em 2025. PF: 52 toneladas apreendidas no país até novembro – recorde, mas “gota no oceano”.
Pesquisa Ipec/SC (novembro): 71% dos catarinenses acham que o narcotráfico ameaça a economia local. Margem de erro: 3 pontos.
Estado de Direito e extradição
Os dez brasileiros terão devido processo em Portugal. Tratado bilateral permite extradição após sentença, mas defesa já alega garantismo – muitos são réus primários, recrutados por dívida.
Críticos apontam seletividade: líderes do PGC seguem soltos no Brasil, enquanto “mulas” pagam o preço.
O que está em jogo
A operação é vitória tática, mas não estratégica. Enquanto o centrão negocia verbas para segurança em troca de apoio fiscal, as rotas atlânticas seguem ativas. A governabilidade marítima depende de investimento continuado, não de ações pontuais.
Nos bastidores, interlocutores da PF admitem: sem reformas estruturais nos portos e na frota pesqueira, novas embarcações partirão de Itajaí ou São Francisco do Sul em poucas semanas.
A temperatura política sobe no litoral catarinense. Resta saber se o sucesso português servirá de sinalização para mais recursos — ou se a agenda será novamente engolida pela polarização interna.
Referências
Reuters – Portugal seizes nearly 8 tons of cocaine on boats from Brazil
The Guardian – Ten Brazilians arrested after record cocaine bust off Portugal
AP News – Portuguese navy intercepts Brazilian fishing vessels with 8 tons of cocaine
AFP – Portugal: saisie record de 8 tonnes de cocaïne sur des bateaux brésiliens
