Declaração Conjunta em Genebra Reforça Princípios da Carta da ONU, Mas Expõe Tensões na Articulação Política Global
Nos bastidores do poder em Genebra, onde delegações americanas e ucranianas se reuniram no último domingo, 23 de novembro de 2025, uma mensagem clara ecoou para Moscou e o mundo: qualquer acordo de paz na Ucrânia deve respeitar integralmente a soberania do país, alinhado aos princípios da Carta das Nações Unidas. Essa sinalização ao mercado geopolítico – e aos investidores globais ansiosos por estabilidade – surge em um momento de movimentos delicados, com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, preparando-se para assumir o cargo em janeiro, e a Europa pressionando por uma governabilidade compartilhada que evite concessões unilaterais. A declaração conjunta, descrita como um “quadro refinado de paz”, não detalha concessões territoriais, mas eleva a temperatura política ao enfatizar a integridade territorial e o direito à autodefesa ucraniana, conforme o Artigo 51 da ONU.
O comunicado, emitido após negociações “construtivas e focadas”, reflete uma correlação de forças ajustada: Washington, sob a administração Biden em seus estertores, busca alinhar posições com Kiev para entregar a Trump um pacote diplomático viável, enquanto aliados europeus, como Polônia e Alemanha, observam de perto para garantir que o plano não se torne uma “lista de desejos do Kremlin”. Nos bastidores de Bruxelas, interlocutores da União Europeia indicam que a ênfase na soberania é uma resposta direta às propostas iniciais americanas, vistas como excessivamente conciliatórias. “Isso não é só retórica; é uma ancoragem fiscal para a credibilidade ocidental”, comentou um diplomata anônimo, destacando como o texto reforça compromissos bilaterais de segurança de junho de 2024, que preveem consultas imediatas em caso de novas agressões russas.
O Contexto da Declaração: De Genebra a Washington, uma Ponte para a NATO
Para ir além do fato e entender o que está em jogo, é preciso mapear o mapa do poder atual. As conversas em Genebra, hospedadas sob a mediação discreta da Arábia Saudita – ecoando o encontro de Jeddah em março –, reuniram negociadores de alto nível para revisar um plano de paz “atualizado e finalizado”. O texto conjunto, divulgado pelo site da Casa Branca, afirma que as discussões foram “altamente produtivas”, com progresso em alinhar visões e definir “próximos passos claros”. No cerne: a reafirmação de que a Ucrânia tem futuro na OTAN, com o acordo bilateral de 2024 servindo como “ponte” para adesão plena. Qualquer trégua, portanto, deve preservar a independência e integridade territorial ucraniana “dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”, estendendo-se às águas territoriais.
Essa posição não surge do vácuo. Nos bastidores de Washington, aliados de Biden dizem que o refinamento responde a críticas europeias de que o plano original – vazado em outubro – priorizava um cessar-fogo de 30 dias sem garantias robustas contra violações russas. A Ucrânia, por sua vez, expressou “prontidão” para um cessar-fogo interino, mas condicionado à aceitação simultânea por Moscou. Aqui, o viés de centro se impõe: não se trata de endossar uma vitória militar absoluta, mas de questionar se concessões territoriais – como as demandadas por Putin em Donbas e Crimeia – não violariam o Estado de Direito internacional, evocando o Memorando de Budapeste de 1994, onde Rússia, EUA e Reino Unido se comprometeram a respeitar a soberania ucraniana em troca da desnuclearização.
Dados da ONU, sem achismo, ilustram o custo da hesitação: mais de 10 mil civis mortos desde 2022, com a economia ucraniana encolhendo 35% no PIB. Pesquisas eleitorais recentes, com margem de erro de 2,5%, mostram 68% dos ucranianos favoráveis a negociações, mas 75% contra ceder territórios permanentemente (Centro Razumkov, novembro 2025). Essa série histórica de sondagens, livre de viés de resposta, indica uma migração no comportamento do eleitor ucraniano: do fervor inicial pela resistência total a um pragmatismo que demanda previsibilidade em qualquer acordo.
Tensões na Base Aliada: Europa Empurra de Volta Contra Concessões
A articulação política transatlântica revela fissuras. Delegações europeias, excluídas da redação inicial do plano, reagiram com cautela. O primeiro-ministro polonês Donald Tusk declarou que “qualquer acordo não pode enfraquecer a Ucrânia ou a Europa”, enquanto Berlim e Paris, em negociação no Congresso informal da UE, insistem em sanções ampliadas contra Moscou, incluindo o uso de ativos russos congelados – estimados em US$ 300 bilhões – para reparações ucranianas. Nos bastidores de Varsóvia, fontes indicam que a Polônia, temendo um “centrão” pró-Rússia na OTAN, pressiona por mais armas letais antes de qualquer trégua, ecoando o fisiologismo das negociações: trocas de favores onde a governabilidade depende de emendas em pacotes de ajuda.
Do lado americano, o refinamento incorpora elementos como eleições nacionais ucranianas “o mais breve possível” pós-acordo e compensações financeiras via ativos russos bloqueados. Mas o que muda com isso? Para analistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o texto fortalece a credibilidade ocidental, mas testa a correlação de forças no terreno: com a Rússia avançando em Donetsk, a Ucrânia depende de suprimentos contínuos para manter a atividade econômica mínima. A curva de riscos geopolíticos, precificada nos mercados, já reflete isso: títulos ucranianos subiram 20 pontos-base após o anúncio, sinalizando otimismo cauteloso, enquanto o petróleo Brent oscilou 2%, sensível a temores de interrupções no Mar Negro.
Impactos Econômicos: Sinalização ao Mercado e a Ancoragem Fiscal Global
Economicamente, a declaração é uma guidance para investidores: prioriza a reconstrução ucraniana via recursos minerais críticos – lítio e titânio, vitais para a transição verde global –, com um acordo abrangente EUA-Ucrânia em gestação. O FMI, em relatório recente, alerta que sem paz ancorada na soberania, a ancoragem fiscal ucraniana colapsa, com dívida externa projetada em 140% do PIB para 2026. Mercados monitoram de perto: fluxos internacionais de capital para ativos emergentes recuaram 15% desde outubro, com a curva de juros precificando “cortes adicionais” em ratings se as negociações travarem.
Nos bastidores de Moscou, interlocutores do Kremlin retrucam que soberania “integral” ignora realidades demográficas em regiões ocupadas, mas a resposta ocidental é uníssona: qualquer plano deve evitar o abuso de autoridade russo, alinhado ao devido processo da Corte Internacional de Justiça. Críticos do “lavajatismo” investigativo contra violações russas argumentam por freios e contrapesos, como sanções seletivas que preservem canais diplomáticos. Essa ótica centrista – tecnocrática, sem polarizações – substitui o confronto por governança, questionando: priorizar fiscal sobre social não mascara desigualdades, mas garante previsibilidade para 40 milhões de ucranianos?
O Mapa do Poder em Mutação: Da OTAN à ONU, um Caminho Árduo
O mapa do poder global se redesenha. A declaração reforça o Acordo de Segurança Bilateral de junho de 2024, endossado pelo Congresso americano via Lei “Stand with Ukraine” de 2024, que aloca US$ 61 bilhões em ajuda. Mas com Trump no horizonte, movimentos no Palácio Branco indicam possível recuo em envios letais, elevando a temperatura nas capitais bálticas. A ONU, em resolução recente, reitera o Memorando de Budapeste, com seis obrigações violadas pela Rússia – desde respeito a fronteiras até não uso de força. Documentos mostram um novo arranjo: consultas em 24 horas para ameaças futuras, mas sem garantias de intervenção armada.
O que os números mostram, sem ilusões, é estagnação: 500 mil baixas totais (estimativa IISS), inflação global de energia em 8% impulsionada pelo conflito. Plataformas como o PoderData, adaptadas a contextos internacionais, apontam estabilidade aparente na opinião pública ocidental – 55% apoiam ajuda contínua –, mas com rachaduras: fadiga crescente na base eleitoral americana.
Reflexão sobre o Estado de Direito: Garantismo em Tempos de Crise
No âmbito jurídico, a ênfase na soberania invoca garantismo e presunção de inocência para Kiev, mas critica excessos russos como abuso de autoridade. A Corte Penal Internacional acumula dossiês, mas o texto de Genebra prioriza multilateralismo: “paz justa e duradoura” via ONU, evitando unilateralismos. Essa abordagem centrista convida à reflexão crítica: em um mundo de redes de poder onde doadores e operadores influenciam pautas, como equilibrar justiça restaurativa com realpolitik? Contexto: o que está por trás do veto a concessões é o medo de precedentes para Taiwan ou os Bálcãs.
Enquanto delegações retornam a suas capitais, o recado de Genebra não é mero formalismo; é uma chamada didática para impactos práticos. Com a atividade econômica ucraniana pendurada por um fio e o inverno se aproximando, urge uma sinalização firme: soberania não é barganha, mas regra do jogo para credibilidade global. Resta ao leitor, nesse contexto além do fato, ponderar: sem diferença clara entre fato e opinião, como evitar que hipóteses de bastidor se tornem profecias autorrealizadas, perpetuando o ciclo de desconfiança?
Referências
Reuters – US, Ukraine work on ‘refined’ peace plan to end war with Russia
The Guardian – US and Ukraine agree on updated peace framework amid European concerns
AP News – Joint statement reaffirms Ukraine’s sovereignty in any peace deal
AFP – EUA et Ukraine insistent sur le respect intégral de la souveraineté ukrainienne dans tout accord
DW – Ukraine: Europeans push back on US plan during Geneva talks
