Nos bastidores de Bruxelas, cresce a leitura de que o continente não aceitará ser mero espectador em negociações que impactam diretamente a arquitetura de segurança europeia
Bruxelas e capitais europeias, 20 nov 2025 – Líderes europeus manifestaram forte resistência a uma proposta de paz para a Ucrânia respaldada pelos Estados Unidos que, segundo fontes familiarizadas com o assunto, exigiria concessões territoriais significativas de Kiev e uma redução parcial do arsenal militar ucraniano. Interlocutores do governo em diversas chancelarias afirmam que qualquer acordo que exclua a Europa seria inaceitável, pois o o que está em jogo não é apenas o destino da Ucrânia, mas a previsibilidade e a credibilidade das instituições transatlânticas em um momento de correlação de forças desfavorável no terreno.
A temperatura política subiu rapidamente após relatos de que o plano, discutido entre Washington e Moscou sem a participação direta de Kiev ou dos aliados europeus, preveria a cessão de territórios no leste ucraniano ainda controlados por forças de Kiev e limitações ao tamanho das Forças Armadas ucranianas. Nos bastidores, diplomatas descrevem o movimento como uma tentativa de sinalização ao mercado global de que uma resolução rápida é possível, mas alertam que tal abordagem ignora a ancoragem da segurança coletiva europeia construída ao longo de décadas.
Contexto: desde a posse do presidente Donald Trump, há uma percepção em capitais europeias de que a Casa Branca prioriza uma saída negociada que reduza custos americanos, mesmo que isso signifique pressão sobre Kiev para concessões que, até recentemente, eram vistas como equivalentes a capitulação. O que muda com essa proposta é a possibilidade de um acordo bilateral EUA-Rússia que contorne não apenas a Ucrânia, mas todo o bloco europeu, responsável pela maior parte da assistência militar e humanitária desde 2022.
A Articulação Europeia e o Mapa do Poder Transatlântico
Em reuniões fechadas realizadas nesta semana, líderes como o chanceler alemão, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer reforçaram a necessidade de uma articulação política conjunta. Aliados de referência dizem que a Europa não pode ficar à margem de um processo que redefine fronteiras no continente. “Qualquer paz duradoura precisa respeitar o Estado de Direito internacional e não pode ser decidida sem a presença à mesa dos principais afetados”, declarou um alto funcionário da Comissão Europeia, ecoando o sentimento de que a governabilidade da segurança europeia depende de uma base aliada coesa.
Dados e comportamento das capitais mostram uma migração clara: países do leste europeu, como Polônia e Estados Bálticos, pressionam por garantias mais robustas, enquanto nações como França e Alemanha buscam equilibrar o apoio a Kiev com a preservação do diálogo transatlântico. Séries históricas de cúpulas da UE indicam que momentos de tensão com Washington costumam acelerar debates sobre autonomia estratégica – termo que reaparece agora com força.
Por que importa: uma exclusão europeia poderia enfraquecer a confiança no Article 5 da OTAN e abrir espaço para interpretações unilaterais de segurança coletiva. O que precifica a curva de risco geopolítico, segundo analistas, é exatamente a incerteza sobre até onde Washington está disposto a ir sem consultar aliados que arcam com a maior parte do ônus militar no terreno.
A Reação nos Bastidores de Brasília… Quer Dizer, de Bruxelas
Movimentos no Palácio do Eliseu e na Chancelaria alemã apontam para uma aceleração de consultas bilaterais. Macron, que já defendeu publicamente a ideia de uma “paz pela força”, reuniu-se com assessores para mapear possíveis contrapropostas. Interlocutores afirmam que Paris trabalha com a hipótese de uma cúpula europeia de emergência caso o plano americano avance sem ajustes.
Do outro lado do Canal da Mancha, Londres posiciona-se como ponte: o governo britânico, que mantém linha direta com Washington, sinaliza disposição para mediar, mas deixa claro que não abrirá mão de garantias de segurança que incluam presença europeia em qualquer força de monitoramento pós-acordo. A curva de juros da confiança transatlântica, brincam alguns diplomatas, precifica agora um corte adicional caso a Europa consiga se fazer ouvir.
O Que Está por Trás da Pressa Americana?
Apuração exclusiva junto a fontes em Washington revela que o plano teria sido esboçado por enviados especiais de Trump e representantes russos, com foco em previsibilidade para investidores globais cansados da volatilidade provocada pelo conflito. A proposta incluiria, além de cessões territoriais, um compromisso americano de garantias de segurança a Kiev e – atenção – à própria Europa contra futuras agressões russas. Mas o que os números mostram é que Moscou continua avançando lentamente no Donbas, o que reforça a leitura de que o tempo joga a favor da Rússia caso não haja acordo rápido.
Críticos na Europa veem nisso um retorno ao realismo cru: priorizar a estabilidade imediata em detrimento de princípios como a presunção de inocência territorial ucraniana. Documentos trocados entre chancelarias, segundo fontes, registram preocupação com o risco de um acordo que legitime ganhos obtidos por força, criando precedente perigoso para outras regiões.
Ambiente de Negócios Geopolíticos e Credibilidade Institucional
O ambiente de negócios na Europa sente os reflexos imediatos: bolsas registraram volatilidade com a notícia, e a curva de juros europeia precificou maior risco soberano para países do leste. Analistas apontam que uma paz percebida como imposta reduziria a confiança de investidores na capacidade da UE de gerir sua própria segurança, impactando desde o euro até fluxos de capital estrangeiro.
Fluxo internacional de apoio militar, por outro lado, mantém-se positivo: novos pacotes de Alemanha e Reino Unido foram anunciados nos últimos dias, sinalizando que, independentemente do desfecho americano, a Europa pretende manter Kiev em posição de força negocial.
Por Que a Europa Não Pode Ficar de Fora: Uma Reflexão Necessária
Contexto e dados para além do fato: excluir a Europa de negociações que redesenham seu flanco leste seria repetir erros históricos de appeasement disfarçado de pragmatismo. A guerra na Ucrânia não é apenas um conflito regional – é o teste definitivo para a arquitetura de segurança pós-Guerra Fria. Aceitar um acordo costurado exclusivamente entre Washington e Moscou significaria abdicar da agência europeia em nome de uma estabilidade ilusória.
O que muda se a Europa conseguir se impor? Possivelmente um processo mais lento, mas com maior credibilidade de longo prazo. Uma paz que ignore princípios como a inviolabilidade de fronteiras e o devido processo diplomático multilateral tenderá a ser frágil, como mostram séries históricas de acordos impostos (Munique 1938 vem à mente, ainda que as analogias sejam sempre imperfeitas).
A Europa, que arcou com a maior parte dos refugiados, da assistência humanitária e dos pacotes militares, tem legitimidade – e obrigação – de exigir assento à mesa. Caso contrário, o risco não é apenas uma Ucrânia enfraquecida, mas um continente cuja governabilidade de segurança ficará permanentemente dependente de humores alheios.
Enquanto movimentos em capitais europeias indicam que uma resposta coordenada está sendo costurada, resta observar se a articulação política será suficiente para reequilibrar a correlação de forças na mesa de negociações. Porque, no fim das contas, paz duradoura não se constrói com exclusões, mas com inclusão daqueles que pagarão o preço mais alto caso ela falhe.
Fontes :
Reuters – Europeans push back at US plan that would force concessions from Ukraine
Reuters – Ukraine expected to give up land, some arms under US peace plan, sources say
The Guardian – No lasting peace in Ukraine without European role in talks, leaders say after Trump-Putin call
BBC News – US military officials in Kyiv as Europe warns against reported Russia peace plan
The New York Times – U.S.-Russian Peace Plan Would Force Ukraine to Cede Land and Cut Army
