Proposta secreta negociada entre Washington-Moscou exige cessão territorial, redução drástica do exército ucraniano e renúncia à OTAN – enquanto a mídia hegemônica vende como “concessões necessárias”, o imperialismo estadunidense revela que nunca quis vitória de Kiev, apenas enfraquecer a Rússia a custo ucraniano
O segredo durou pouco. Nesta quarta-feira 20 de novembro de 2025, o conteúdo de um plano de paz de 28 pontos, negociado em absoluto sigilo entre emissários de Donald Trump e Vladimir Putin, veio à tona através de vazamento coordenado para vários órgãos da imprensa internacional. O texto – que nem Zelenskyy nem qualquer autoridade ucraniana teve acesso oficial – determina o seguinte: congelamento das linhas de frente atuais, cessão efetiva do restante do Donbas ainda sob controle ucraniano, manutenção russa de Kherson e Zaporizhzhia, redução do exército ucraniano para cerca de 400 mil homens (metade do tamanho atual), proibição permanente de armas de longo alcance e renúncia formal à adesão à OTAN.
Em troca, Washington oferece “garantias de segurança” – as mesmas que já ofereceu em 1994 no Memorando de Budapeste e que valeram exatamente zero quando a Rússia entrou na Crimeia e no Donbas.
A capitulação com selo americano
Não é proposta. É ultimato. Trump nunca escondeu que considerava a guerra “desperdício de dinheiro americano”. Durante a campanha prometeu encerrá-la em 24 horas. Agora, com Keith Kellogg como enviado especial e Steve Witkoff negociando diretamente com oligarcas russos em canais paralelos, o plano toma forma concreta: dar a Putin quase tudo que ele já conquistou no terreno e ainda um pouco mais, desarmar a Ucrânia e transformá-la em zona tampão neutra – exatamente o que Moscou pede desde dezembro de 2021.
A mídia hegemônica já faz o trabalho sujo de sempre. Reuters chama de “proposta realista”. Financial Times publica editorial dizendo que “concessões são inevitáveis”. CNN entrevista “especialistas” que explicam que “manter o conflito é insustentável”. O cinismo ‘liberal’ é tão descarado que chega a dar náusea: os mesmos que em 2022 gritavam “até o último ucraniano” agora descobrem que a paz exige “sacrifícios territoriais”. Sacrifícios, claro, feitos pelo povo ucraniano. Os bilhões já gastos pelos contribuintes americanos e europeus ficam por isso mesmo.
Kiev entre a espada e a parede
Zelenskyy rejeitou o plano com a dignidade que lhe resta. Em Ankara, ao lado de Erdogan, repetiu que só aceita a “fórmula de paz ucraniana” e que cessão territorial é “linha vermelha”. Mas a pressão é brutal. Uma delegação do Pentágono liderada pelo secretário do Exército Dan Driscoll está em Kiev exatamente nesta semana para “discutir o futuro da assistência militar”. Traduzindo: aceitem ou perdemos a paciência e cortamos tudo.
É a mesma tática que Washington usou no Vietnã, no Afeganistão, no Iraque – usa o país como proxy até o custo político interno subir demais, depois abandona e culpa o aliado por “não ter lutado o suficiente”. A Ucrânia já perdeu meio milhão de homens, 20% do território, sua economia está em ruínas, sua infraestrutura energética destruída – e agora deve aceitar ser mutilada territorialmente e desmilitarizada porque Trump quer sair no foto como “pacificador” antes que a opinião pública americana pergunte onde foram parar os US$ 200 bilhões.
Europa calada, Europa cúmplice
Os líderes europeus fingem que a humilhação não é com eles. Tusk fala em “realismo”. Scholz e Macron sussurram que “qualquer plano que traga paz é bem-vindo”. Ninguém menciona que esse “plano” transforma a Ucrânia em Finlândia de 1945 – neutra, desarmada, eternamente vulnerável – e condena a Europa a décadas de instabilidade na sua fronteira leste. O viralatismo europeu chega ao ridículo: depois de destruir sua indústria com sanções russas, pagar gás americano três vezes mais caro e ver sua economia entrar em recessão, a UE aceita ser espectadora de luxo enquanto Trump e Putin partilham o continente como nos tempos de Yalta.
O que o plano realmente significa
Não é paz. É rendição disfarçada. É o reconhecimento explícito de que o imperialismo estadunidense falhou redondamente em seu objetivo estratégico de 2014 – derrubar Putin, fragmentar a Rússia e abrir caminho para o saque de seus recursos. Falhou em dobrar Moscou mesmo depois de 20 mil sanções, mesmo depois de transformar a Ucrânia em fortaleza da OTAN, mesmo depois de gastar centenas de bilhões de dólares dos contribuintes ocidentais. Agora, cansado e com Trump no comando, Washington quer salvar a cara impondo a Kiev o que nunca conseguiu no campo de batalha.
E quem paga a conta, como sempre, é o povo. O povo ucraniano que perdeu filhos, casas, futuro. O povo europeu que paga energia cara e inflação. O povo americano que financiou a carnificina. Enquanto Putin consolida ganhos territoriais e Trump posa de “homem da paz”, o bloco anti-imperialista ganha força exatamente onde o Ocidente mais dói – na narrativa de que o império está em declínio irreversível.
Porque esse plano não é surpresa para quem acompanha a contrainformação. Desde abril de 2022, quando Boris Johnson voou a Kiev para impedir o acordo de Istambul, o Ocidente escolheu a guerra total. Escolheu sacrificar ucranianos para “enfraquecer a Rússia”. Não enfraqueceu. Fortaleceu. E agora, derrotado, impõe a capitulação e ainda chama de “paz responsável”.
Zelenskyy ainda resiste. A sociedade ucraniana, que lutou com coragem admirável, não vai aceitar ser vendida em troca de foto de Trump com Putin. Mas a pressão será brutal. E se Kiev ceder, será a prova definitiva de que o imperialismo nunca se importou com a Ucrânia – só com enfraquecer a Rússia a custo ucraniano.
A guerra por procuração termina como começou – com o povo ucraniano traído pelos mesmos que juraram defendê-lo.
Mas a história não perdoa traidores. E o povo ucraniano já demonstrou que sabe resistir. Se o preço da “paz” trumpista é a humilhação nacional, então que venha a resistência. Porque soberania não se negocia em Miami nem em Moscou. Soberania se defende – com ou sem o apoio do império que hoje manda engolir o sapo.
A contrainformação segue rompendo o cerco. Porque a verdade é simples – essa não é paz. É a confissão da derrota do imperialismo. E derrotas assim abrem caminho para um mundo novo. O mundo multipolar onde ninguém mais aceita ser quintal de ninguém.
Fontes
Reuters – Exclusive: U.S., Russian officials draft framework for Ukraine peace deal with major concessions from Kyiv
Financial Times – Trump administration circulates Ukraine peace plan requiring territorial concessions and military cuts
The Guardian – Leaked US-Russia plan for Ukraine would force Kyiv to cede land and slash army
New York Times – U.S. Proposal for Ukraine Peace Includes Territorial Concessions to Russia
AP News – Trump peace plan for Ukraine calls for land concessions, smaller army, NATO membership freeze
