Brasília – O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a “prévia do PIB”, registrou queda de 0,4% em setembro na passagem de agosto para setembro, já descontados os efeitos sazonais. O dado, divulgado nesta segunda-feira (18), confirma a trajetória de queda da economia brasileira e ficou ligeiramente pior que a mediana das expectativas do mercado (-0,3%). Com o resultado, o indicador acumula recuo de 0,9% no terceiro trimestre frente ao segundo, reforçando o cenário de desaceleração da atividade econômica após o crescimento surpreendente do primeiro semestre.
Nos bastidores do poder, a divulgação do IBC-Br elevou a temperatura política no Palácio do Planalto. Interlocutores do Ministério da Fazenda reconhecem, em caráter reservado, que o número dificulta a defesa da projeção oficial de PIB em torno de 3,5% para 2024 e praticamente enterra as estimativas mais otimistas que ainda circulavam até setembro. “A curva de juros já vinha precificando um cenário mais cauteloso, mas o dado de hoje consolida essa leitura”, resume um técnico da equipe econômica.
O desempenho de setembro foi puxado para baixo especialmente pela indústria (-0,8%) e pelos serviços (-0,3%), enquanto o agronegócio apresentou variação marginal positiva. No acumulado de 12 meses, o IBC-Br ainda cresce 3,2%, mas a tendência de curto prazo é claramente descendente. Analistas consultados pelo Banco Central no último Relatório Focus já revisaram a projeção de PIB 2024 para 3,4% para 3,2% e, nos bastidores de Brasília, já se fala abertamente em um crescimento abaixo de 2% em 2025 caso a política monetária permaneça restritiva e o arcabouço fiscal não entregue os resultados prometidos.
Sinalização ao mercado em xeque A sequência de três quedas mensais consecutivas do IBC-Br reacende o debate sobre a eficácia da ancoragem fiscal e da credibilidade do governo junto aos agentes econômicos. Nos últimos meses, o Ministério da Fazenda vinha insistindo na narrativa de que a economia apresentava “desaceleração controlada” e que a reforma tributária e o novo marco de garantias sustentariam a recuperação em 2025. O dado de setembro, porém, fragiliza essa sinalização ao mercado.
“A curva de juros já embute um cenário de Selic terminal mais alta e por mais tempo”, explica um economista-chefe de banco internacional que pediu anonimato. “O BC não terá espaço para cortes agressivos enquanto a inflação de serviços seguir resiliente e o cenário fiscal não melhorar de forma convincente.” A autoridade monetária divulga na próxima semana a ata do Copom que manteve a Selic em 10,75%, e o mercado aguarda sinais mais claros sobre o ritmo de afrouso em 2025.
Centrão pressiona por afrouxo fiscal No Congresso, a deterioração dos indicadores de atividade econômica já é usada como munição pelo centrão para pressionar por maior flexibilização do arcabouço fiscal. Lideranças do bloco pragmático defendem que o governo abra mão de parte da meta de déficit zero em 2025 para preservar emendas parlamentares e evitar um “freio de arrumação” excessivo na economia. “A governabilidade depende de resultados concretos na vida das pessoas. Não dá para sacrificar emprego e renda em nome de uma meta fiscal que ninguém acredita”, resume um deputado do Republicanos.
Nos bastidores do dia, circula a informação de que o Palácio do Planalto avalia conceder uma “licença para gastar” limitada via projeto de lei, contornando o limite do arcabouço sem precisar alterar a regra principal – movimento que seria vendido como “ajuste técnico” para preservar a credibilidade da âncora fiscal. A articulação política no Congresso, porém, ainda está travada pela disputa em torno da presidência da Câmara em fevereiro.
Ambiente de negócios em alerta Entre empresários e investidores estrangeiros, o humor é de cautela crescente. O recuo persistente da atividade econômica combinado com a incerteza sobre a tramitação de MPs importantes (como a que regula apostas esportivas e a reoneração gradual da folha) deteriora a percepção de previsibilidade. “O Brasil voltou ao radar, mas o fluxo internacional pode desacelerar rapidamente se o governo não entregar uma agenda econômica mais robusta no início de 2025”, alerta um gestor de fundos em São Paulo.
Pesquisas recentes de confiança do consumidor e da indústria já mostram piora consistente desde agosto, e o setor de serviços – que responde por cerca de 70% do PIB – dá sinais de esgotamento após dois anos de crescimento forte puxado pelo mercado de trabalho aquecido.
O que está em jogo A sequência negativa do IBC-Br coloca o governo na defensiva exatamente no momento em que precisa negociar com o Congresso a regulamentação da reforma tributária e o pacote de medidas microeconômicas prometidas pelo ministro Fernando Haddad. Nos bastidores, interlocutores do Planalto admitem que a janela para aprovar pautas de melhora do ambiente de negócios está se fechando rapidamente.
Se a desaceleração se confirmar nos próximos meses, o Banco Central poderá ser forçado a interromper o ciclo de cortes da Selic mais cedo que o esperado, elevando o custo de crédito numa economia já enfraquecida. Para o cidadão comum, isso significa menor geração de empregos formais e pressão renovada sobre a renda real – exatamente o contrário do que o discurso oficial prometia para o último ano do mandato.
Por ora, o governo tenta conter a temperatura política elevada com a narrativa de que o recuo de setembro é “pontual” e que o PIB fechará 2024 próximo de 3%. Nos bastidores do poder, porém, a leitura dominante é outra: sem uma mudança de rumo na articulação política e na sinalização ao mercado, o Brasil caminha para um 2025 de crescimento medíocre e risco fiscal elevado – cenário que pode custar caro tanto na economia quanto na popularidade do governo.
Fontes consultadas
Reuters – Brazil economic activity falls more than expected in September
Bloomberg – Brazil’s Economic Activity Contracts for Third Straight Month
The Financial Times – Brazil’s economy shows signs of slowdown as policy uncertainty weighs
AFP – L’activité économique brésilienne recule pour le troisième mois consécutif
