Aumento da violência urbana eleva a temperatura política em Brasília, com impactos na governabilidade e na correlação de forças entre governo e oposição
Nos bastidores do poder em Brasília, cresce a leitura de que a segurança pública se consolida como o tema dominante para as eleições presidenciais de 2026, influenciando desde a articulação política no Congresso até as sinalizações ao mercado e ao eleitorado. Com o país enfrentando um recrudescimento da violência urbana, exemplificado pela recente operação policial no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortes, partidos e candidatos ajustam suas estratégias para capitalizar essa preocupação pública. Interlocutores do governo afirmam que o Executivo busca fortalecer sua narrativa nessa área, enquanto a oposição pressiona por medidas mais duras, testando a base aliada e a capacidade de montar maiorias estáveis.
O clima no Planalto subiu após pesquisas recentes indicarem que a segurança pública ultrapassou questões econômicas como principal preocupação dos brasileiros. Uma sondagem da Genial/Quaest, divulgada nesta semana, mostra que a aprovação do governo Lula (PT) enfrenta pressões crescentes, com empate técnico em cenários contra opositores como Jair Bolsonaro (PL), e a violência sendo citada como fator decisivo. Pesquisas eleitorais e séries históricas revelam que, nos últimos 12 meses, a preocupação com o crime mais que dobrou, com dados indicando migração de eleitores no Sudeste para pautas mais conservadoras em segurança. O que os números mostram, sem achismo, é uma segmentação do voto onde regiões como Rio de Janeiro e São Paulo, assoladas por confrontos entre facções criminosas, priorizam candidatos com credibilidade nessa agenda. A margem de erro permite variações, mas o viés de resposta reflete um eleitorado cada vez mais sensível a promessas de ordem pública.
Essa movimentos no Palácio do Planalto ocorrem em um contexto de instabilidade crônica na segurança, com o Brasil registrando taxas de homicídios que superam muitos países em conflito armado. Relatórios internacionais, como o do Diálogo Interamericano, questionam se a estratégia atual do governo está tornando o país mais seguro, destacando a persistência do crime organizado e a ineficácia de políticas fragmentadas. O governo Lula, eleito em 2022 com promessas de humanizar a segurança, agora enfrenta críticas por não avançar em reformas como a criação de um Ministério da Segurança Pública, ideia que pode ser retomada para 2026. Aliados de X dizem – no caso, do presidente – que ações como a operação no Rio demonstram compromisso, mas opositores veem oportunismo eleitoral, com o centrão pressionando por mais espaço em negociações sobre projetos antifacções.
No mapa do poder, a correlação de forças favorece quem conseguir monopolizar a pauta. A oposição, liderada por figuras como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-presidente Bolsonaro, posiciona-se com propostas de endurecimento penal, como a equiparação de facções a terroristas, tema que tramita na Comissão de Segurança Pública da Câmara. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), alertou que adiar o PL antifacção para 2026 misturaria o debate com política, travando a tramitação em meio a troca de favores. Do lado governista, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, busca avançar em acordos, mas as negociações travam na repartição de recursos, com o fisiologismo criticado por analistas como entrave à governabilidade.
A agenda econômica intersecciona com a segurança, pois a violência impacta a atividade econômica e o ambiente de negócios. Especialistas do Wilson Center observam que o otimismo econômico do Brasil colide com complexidades políticas, onde a insegurança eleva o risco país e afeta o fluxo internacional de investimentos. O PIB pode sofrer com perdas em turismo e comércio em áreas afetadas, enquanto a inflação pressiona orçamentos estaduais. A curva de juros precifica cortes adicionais se houver previsibilidade em políticas de segurança, mas decisões contraditórias pioram a confiança. No eixo da política monetária, o Banco Central mantém a Selic por cautela, equilibrando desinflação com estímulos necessários para regiões vulneráveis.
Redes de poder explicam parte da pauta: o financiamento de campanhas por setores ligados à segurança, como indústrias de armamento e empresas de vigilância, mapeia influências que moldam relatorias e acordos. Investigação e documentação de relatórios como o da União Africana ou do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram novo arranjo, com estados como Rio e São Paulo centralizando debates. O governador Cláudio Castro (PL-RJ), após a operação no Alemão, busca capitalizar a narrativa de confronto, mas enfrenta críticas por excessos, evocando abuso de autoridade e necessidade de freios e contrapesos.
Em análise equilibrada, o que está em jogo é a capacidade de transcender polarizações. A esquerda, representada pelo PT, enfatiza abordagens sociais e inteligência policial, mas sua credibilidade é questionada por quedas na aprovação de Lula, atribuídas à fragilidade na pauta de segurança. Cientistas políticos como Mayra Goulart, da UFRJ, destacam que o governo precisa de sinalização firme para reconquistar o centro, evitando que o tema seja monopolizado pela direita. Já a oposição, com nomes como Tarcísio e Zema, aposta em endurecimento, mas arrisca acusações de populismo penal, ignorando o Estado de Direito e o garantismo. Crítica ao lavajatismo ressurge em debates sobre operações policiais, defendendo devido processo e presunção de inocência para evitar violações.
Por que importa? Com as eleições a um ano de distância, o Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri) nota que o pleito de 2026 elegerá não só o presidente, mas também o Congresso, onde a base aliada definirá reformas. A segurança pública, como eixo, pode redefinir alianças, com o centrão pragmático em torno de orçamentos para policiamento. Série do PoderData – ou equivalentes como Quaest – aponta estabilidade relativa na intenção de voto, mas com migração no Sudeste para candidatos com guidance conservador em crime. Blogueiros e analistas, como Rovai na Fórum, alertam que pesquisas mostram o tema decidindo o pleito, urgindo ações concretas.
No front jurídico-institucional, propostas como o PL antifacção testam regras do jogo, buscando ancoragem em metas de redução de violência sem comprometer direitos. A Comissão de Segurança Pública vota emendas ao Orçamento de 2026, priorizando recursos para inteligência e treinamento. Mas a negociação no Congresso trava, com governadores como Jorginho Mello defendendo votação imediata para evitar contaminação eleitoral.
O que muda com essa priorização? Para o governo, restaurar credibilidade exige avanços em integração federal-estadual, como prometido por Lula. Para a oposição, capitalizar a insatisfação pode alterar o mapa do poder, atualizando forças no Senado e na Câmara. Analistas do Latin America Bureau destacam o massacre no Rio como sintoma de políticas falhas, com spillover para migrações e economia informal.
Em meio a essa tramitação de crises, a sociedade clama por soluções além da retórica. Enquanto o ambiente de negócios sofre com insegurança, o eleitorado monitora o que precifica a curva de expectativas políticas. Sem previsibilidade, o risco é de polarização extrema, mas com articulação eficaz, a segurança pode pavimentar uma governança mais estável. À medida que 2026 se aproxima, os bastidores indicam que quem melhor sinalizar compromisso prático sairá fortalecido, equilibrando fiscal com social em uma pauta que transcende ideologias.
Fontes
Valor International – Rising violence makes security key issue in 2026 race
The Dialogue – Is Brazil’s Security Strategy Making the Country Safer?
Latin America Bureau – Brazil: the Rio Massacre
Rio Times – The Battle for Public Security in Brazil: Why It Matters for 2026
Wilson Center – Brazil’s Economic Optimism Meets Political Complexity
