Com a escalada da violência, aumento de facções criminosas e incertezas políticas, o debate sobre segurança pública ganha protagonismo nas eleições de 2026, polarizando ainda mais o cenário eleitoral.
A segurança pública já se consolidou como o principal tema para as eleições presidenciais de 2026, e o debate que se forma a cada novo dia parece prometer uma disputa acirrada entre forças políticas com propostas diametralmente opostas. A escalada da violência urbana, o avanço das facções criminosas e a crescente pressão sobre as forças de segurança pública foram se tornando, de forma gradativa, as maiores preocupações dos eleitores — especialmente nas grandes cidades e nas regiões mais afetadas pelo tráfico de drogas e pela militarização das favelas.
O panorama atual, recheado de desafios econômicos e políticos, leva a segurança pública ao topo das agendas eleitorais. Os indicators de violência são alarmantes: o Brasil, em 2024, atingiu números recordes de homicídios, além de ver uma crescente militarização das polícias estaduais e uma pressão constante por endurecimento penal. O debate, nesse contexto, gira em torno de soluções que, muitas vezes, esbarram nas estruturas de poder e no histórico de ineficiência do sistema de justiça.
Neste cenário, os candidatos à presidência de 2026 já começaram a alinhar suas propostas de segurança pública, refletindo uma divisão clara entre abordagens mais punitivas e repressivas e outras que defendem uma reforma estrutural no sistema de justiça criminal. A crescente polarização política, com movimentos conservadores e liberais de um lado e propostas progressistas de outro, tende a acentuar o caráter ideológico desse debate, tornando-o mais intenso e decisivo para os rumos do Brasil nos próximos anos.
A escalada da violência e as consequências para o eleitorado
Os índices de violência nos últimos anos mostraram que, em algumas regiões, a realidade se tornou insustentável. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de homicídios e o aumento da violência policial nos últimos anos têm sido um fator determinante no voto de milhões de brasileiros. Ao lado disso, a presença de facções criminosas como o PCC e o Comando Vermelho, que dominam vastos territórios urbanos e áreas periféricas, desafia qualquer política pública que busque garantir a ordem e a segurança.
Os governadores dos estados mais afetados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já se preparam para um desgaste político com suas respectivas gestões da segurança. A militarização da segurança pública, proposta como solução imediata pela direita, começa a ser contestada por defensores de direitos humanos, que acusam o Estado de promover uma “guerra contra a população” e de transformar as periferias em campos de batalha, onde a vida de jovens negros e pobres é tratada como descartável. O uso de polícias de choque e o emprego das forças armadas em operações de combate ao tráfico geram uma onda de críticas sobre os métodos de segurança.
A tensão social também se reflete nas eleições de 2026, onde os eleitores exigem um caminho que vá além das soluções de força e busque investimentos em políticas sociais de longo prazo, como educação e saúde, para enfrentar as causas estruturais da violência.
O debate sobre a militarização da segurança pública
Um dos principais pontos de confronto nas eleições será a proposta de militarização da segurança pública, uma bandeira defendida por setores da direita e da extrema direita. Este modelo defende a incorporação das forças armadas em operações de segurança urbana, utilizando os mesmos métodos de controle territorial adotados em zonas de conflito militar. Embora algumas regiões da população apoiem essa abordagem, principalmente em tempos de crise, estudos e relatórios de direitos humanos apontam que a militarização pode ter efeitos colaterais catastróficos, como o aumento das execuções extrajudiciais e a amplificação da violência estatal.
Na contramão dessa proposta, movimentos progressistas e algumas alas do Partido dos Trabalhadores (PT), junto a defensores dos direitos civis, apostam em uma abordagem mais integrada e preventiva. Esses grupos argumentam que o combate à violência não deve se basear na repressão, mas na educação, inclusão social e reforma nas políticas de segurança. Para muitos analistas, a chave está na desmilitarização das polícias e na descentralização da gestão de segurança, transferindo a responsabilidade das operações de combate ao crime para forças civis especializadas, com foco no policiamento comunitário e em um modelo de justiça restaurativa.
A guerra às drogas, aliada à alta taxa de encarceramento e ao aumento da violência policial, será um dos pontos centrais para os candidatos em 2026. Muitos especialistas questionam a eficácia das prisões em massa e a abordagem criminalizante de problemas sociais complexos, sugerindo alternativas como descriminalização das drogas e programas de reintegração social.
As propostas de segurança pública para 2026
Para 2026, as propostas de segurança pública começam a se alinhar de acordo com as tendências políticas do espectro ideológico. De um lado, há a ampliação das penas e o endurecimento das leis de segurança, com foco na punibilidade severa dos criminosos. Esses projetos contam com apoio de setores da direita e de movimentos conservadores, que acreditam que a imunidade do Estado diante da criminalidade deve ser quebrada. Para essa vertente, é necessário estabelecer uma batalha aberta contra as facções, usando todos os recursos disponíveis, incluindo forças armadas e tecnologias de vigilância massiva.
Do outro lado, partidos progressistas e movimentos de direitos humanos defendem uma abordagem mais holística. A ideia é investir na reformulação do sistema de justiça e no fortalecimento de políticas de prevenção à criminalidade, além de promover a reinserção social de ex-detentos e a reabilitação de áreas dominadas por facções. A discussão sobre o controle de armas e a reforma do sistema penitenciário também ganha destaque nas propostas desses grupos, que afirmam que apenas a descriminalização de determinadas condutas e o fortalecimento da cidadania podem reduzir de maneira efetiva as taxas de criminalidade.
O papel da mídia na segurança pública e no processo eleitoral
O papel da mídia será crucial na configuração das propostas de segurança pública para as eleições de 2026. Em um país marcado pela polarização política e pela censura seletiva sobre questões de segurança, as grandes redes de comunicação tendem a focar mais na narrativa do medo do que nas propostas que busquem soluções estruturais. A cobertura da violência tende a explorar o drama das vítimas, mas raramente coloca em pauta os impactos sociais e econômicos de um sistema de segurança pública falido.
Em contrapartida, veículos progressistas e alternativas tentam mudar o tom da discussão, apontando a criminalização da pobreza e a violência sistêmica das políticas de segurança como responsáveis pela manutenção das taxas de violência. Para esses jornalistas e analistas, a informação se torna um campo de disputa, onde a contrainformação pode ser a chave para uma sociedade mais justa e igualitária, onde a segurança seja compreendida como direito coletivo e não apenas como manutenção da ordem autoritária.
Conclusão
As eleições de 2026 serão, sem dúvida, um divisor de águas na maneira como o Brasil lida com sua violência estrutural e suas propostas para segurança pública. A narrativa sobre a segurança, no entanto, ainda pende para a lógica punitivista, com grande parte da população enxergando a repressão como solução imediata. A disputa entre candidatos progressistas e conservadores sobre como enfrentar o crime organizado, seja por meio de reformas estruturais ou pelo endurecimento das penas, refletirá não apenas as questões de segurança, mas também a ideia de soberania nacional, direitos humanos e a efetividade de políticas públicas a longo prazo.
A polarização tende a acirrar esse debate, com a guerra às drogas sendo uma questão central. Será preciso mais do que a militarização das favelas ou prisões em massa. A segurança pública deve ser encarada com uma visão integrada, que leve em conta as causas estruturais da violência e que promova a inclusão, a educação e a justiça social como ferramentas para a verdadeira redução de crimes.
Referências
Reuters – Propostas de segurança pública nas eleições 2026 e suas implicações no Brasil
BBC News – Debate sobre segurança pública no Brasil: entre repressão e prevenção
Folha de S.Paulo – As falácias da guerra às drogas e o impacto nas periferias
Agência Brasil – Segurança pública nas eleições: a polarização do tema e suas implicações sociais
