Milhares de sérvios saem às ruas em protesto contra a aprovação de uma lei que facilita o desenvolvimento de um antigo complexo militar para o empresário Jared Kushner, acusando o governo de favorecer interesses estrangeiros em detrimento da população local.
A Sérvia viveu um dia de intensos protestos em 8 de novembro de 2025, com milhares de cidadãos nas ruas de Belgrado e outras cidades, demonstrando sua oposição à recente aprovação de uma lei que acelera o desenvolvimento de um complexo imobiliário ligado ao empresário Jared Kushner, genro do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A lei foi promulgada pelo governo sérvio como parte de um projeto para revitalizar um antigo complexo militar, localizado em Kopaonik, que se destina a se transformar em uma grande área de empreendimentos residenciais e comerciais, controlada por investidores internacionais, com o apoio direto de Kushner e sua empresa Kushner Companies.
De acordo com os críticos, a aprovação da lei é vista como uma entrega da soberania nacional nas mãos de interesses estrangeiros e uma ameaça ao bem-estar da população local, que poderia ser prejudicada pela especulação imobiliária e pelo uso inadequado de recursos públicos para financiar o projeto. Manifestantes, liderados por partidos da oposição e grupos de ativistas ambientais, acusam o governo de privatizar espaços públicos em nome de grandes corporações, ignorando o impacto social e econômico para a maioria da população.
A Lei e seus Impactos
A lei foi aprovada em um cenário de crescente desconfiança popular em relação às políticas de privatização e aos acordos comerciais com investidores estrangeiros. O projeto do complexo de Kushner inclui hotéis, residências de luxo, escritórios corporativos, e até centros de convenções, o que, segundo seus defensores, poderia impulsionar a economia local, gerar empregos e atrair turistas internacionais. No entanto, para os manifestantes, o projeto não faz jus à realidade econômica da Sérvia, que ainda luta com níveis elevados de desemprego e um mercado imobiliário especulativo, que tem excluído as classes trabalhadoras e médias das áreas mais desenvolvidas da cidade.
Além disso, os opositores do projeto apontam que a transferência de terras públicas para empresários estrangeiros não só desrespeita os interesses locais, como também poderia gerar conflitos ambientais. O complexo será erguido em uma área anteriormente usada pelo exército sérvio, o que levanta questões sobre a proteção ambiental e a preservação do patrimônio na região, que é uma área de grande valor natural e histórico. A Fundações Ambientalistas da Sérvia fez um apelo para que o governo reconsiderasse o projeto, alegando que a construção de um grande centro comercial destruiria a biodiversidade local e ameaçaria áreas de proteção natural.
O Papel de Kushner e Suas Empresas
Jared Kushner, uma figura controversa tanto nos Estados Unidos quanto internacionalmente, tem sido uma das principais figuras por trás desse projeto de revitalização. A Kushner Companies, que pertence à sua família, adquiriu os direitos sobre o complexo militar de Kopaonik em uma transação envolvendo grandes valores, e o projeto foi inicialmente bem recebido pelo governo da Sérvia como uma oportunidade de atrair investimentos estrangeiros. No entanto, críticos argumentam que este acordo se beneficia mais da influência política do que de qualquer benefício real para o povo sérvio. Kushner, que tem sido associado a diversos negócios internacionais durante e após o governo de Donald Trump, é acusado de usar sua posição de poder para garantir lucros elevados em contratos que são vistos como favores políticos.
Em sua defesa, o governo sérvio afirma que o projeto trará novos postos de trabalho, infraestrutura moderna e desenvolvimento econômico para a região, especialmente na área de turismo. Contudo, para muitos especialistas econômicos, o projeto representa apenas uma tática de curto-prazismo para atrair investimento estrangeiro sem considerar o impacto a longo prazo nas finanças públicas e no mercado imobiliário do país, que já sofre com preços inflacionados. A Kushner Companies também tem sido criticada por não compartilhar publicamente detalhes financeiros sobre a aquisição e o futuro desenvolvimento da área, alimentando desconfianças sobre a real intenção do projeto.
Reações Populares e Protestos
Os protestos em Belgrado começaram em 8 de novembro de 2025, quando um grande número de manifestantes se reuniu na Praça da República, acusando o governo de agir contra os interesses da população e em favor de elites estrangeiras. A mobilização foi organizada por partidos da oposição e por organizações civis que se opõem à privatização das terras públicas e à falta de transparência nas transações que envolvem empresas internacionais. Durante a manifestação, os manifestantes entoaram palavras de ordem como “O povo quer terra, não especulação!” e “Não à entrega do nosso país!”. Vários grupos de ambientalistas, preocupados com os danos ecológicos que o projeto pode causar, também participaram das manifestações, destacando o risco de destruição ambiental causado pela construção do complexo.
A polícia sérvia esteve presente, mas os protestos se mantiveram pacíficos, embora alguns confrontos menores tenham ocorrido em locais estratégicos, como nas proximidades do parlamento. A pressão pública parece ter causado certo desconforto no governo, que defendeu a lei com o argumento de que o projeto é parte de um plano maior para modernizar a infraestrutura do país e garantir que a Sérvia se posicione como um centro de investimentos na região dos Bálcãs. Porém, a oposição política afirmou que o governo está cedendo à pressão externa e comprometendo o futuro da população sérvia em troca de ganhos momentâneos.
A Controvérsia Sobre a Privatização de Terras Públicas
Uma das principais críticas ao projeto é a privatização de terras públicas e a falta de garantias sociais para a população. O complexo de Kushner, que inicialmente foi planejado para ser uma revitalização urbana, tem gerado divisões profundas sobre o futuro da terra pública e sobre o modelo de desenvolvimento que a Sérvia deseja adotar. Os críticos da lei argumentam que a entrega de grandes áreas de terra para empresas estrangeiras vai no sentido oposto à soberania nacional, e que este tipo de privatização apenas enfraquece as políticas sociais e prejudica a população local.
Além disso, muitos veem a lei como uma forma de apropriação ilegal de recursos públicos, onde os interesses estrangeiros são priorizados em detrimento das necessidades do povo. A privatização das terras tem gerado ainda mais desconfiança entre os cidadãos sérvios, que veem no projeto uma ameaça direta ao patrimônio do país, à sua cultura e à sua independência econômica.
Perspectivas Futuras
A proposta de desenvolvimento do complexo de Kushner continua sendo um tema controverso na política sérvia. Embora o governo tenha assegurado que o projeto trará benefícios econômicos a longo prazo, as preocupações populares com os efeitos sociais e ambientais da lei não mostram sinais de dissipação. A mobilização dos cidadãos e as críticas internacionais ao projeto podem forçar o governo a reconsiderar sua posição ou pelo menos rever os termos da lei, especialmente à medida que a pressão pública cresce. A verdadeira questão será saber se o governo sérvio irá ceder à pressão popular ou se continuará a defender os interesses estrangeiros em nome de um suposto progresso econômico.
Fontes:
Fox News – “Thousands in Serbia Protest Law to Fast-Track Kushner Development on Former Military Site”.
The Guardian – “Serbia Faces Backlash Over Controversial Deal with Kushner’s Firm”.
