Achado colossal de prata, ouro e barras na Baixa Saxônia, mantido em segredo por anos, fascina arqueólogos e impulsiona debate sobre legislação de patrimônio histórico.
Uma descoberta arqueológica de proporções monumentais veio à tona na Baixa Saxônia, Alemanha, revelando um vasto tesouro romano de 450 moedas de prata, um anel de ouro, uma moeda de ouro e várias barras de prata. O achado, ocorrido em 2017 por um indivíduo que utilizava um detector de metais sem permissão, permaneceu em segredo por anos, só sendo oficializado e tornado público em abril deste ano. O caso intriga cientistas pela sua riqueza e pela cronologia peculiar de sua revelação, lançando luz sobre as complexas relações entre o Império Romano e as tribos germânicas há cerca de 2 mil anos, enquanto simultaneamente coloca em pauta a legislação de proteção ao patrimônio.
Contexto
A saga do tesouro começou discretamente em 2017, quando um homem, cuja identidade não foi divulgada, encontrou os artefatos perto de Hildesheim/Borsum, na região da Baixa Saxônia, utilizando um detector de metais. A prospecção de artefatos históricos com detectores de metais é estritamente regulamentada na Alemanha, e a descoberta inicial foi realizada de forma ilegal, resultando no ocultamento do achado por vários anos. Apenas em 2021, o indivíduo decidiu entregar parte do tesouro às autoridades competentes, desencadeando uma investigação arqueológica mais aprofundada.
Após a notificação, o Escritório Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico da Baixa Saxônia (Niedersächsisches Landesamt für Denkmalpflege) assumiu a liderança da apuração. A equipe de arqueólogos realizou uma “investigação arqueológica mais abrangente” no local da descoberta original, que culminou na recuperação das 450 moedas de prata, do anel de ouro, de uma moeda de ouro e de diversas barras de prata. Esse trabalho minucioso foi fundamental para garantir que o contexto arqueológico do tesouro pudesse ser parcialmente reconstruído, apesar da descoberta inicial ter sido feita de maneira informal.
As moedas de prata, em sua maioria, são denários romanos, datando de um período entre 150 a 300 d.C., e trazem efígies de imperadores como Marco Aurélio e Constantino. Este intervalo cronológico é de suma importância para a arqueologia, pois abrange os turbulentos séculos que viram o ápice e o início do declínio do Império Romano, bem como as interações com os povos germânicos. Segundo Sebastian Messal, arqueólogo e chefe regional do caso no Escritório Estadual, em entrevista à Agência Alemã de Imprensa (DPA), este é “a maior descoberta numismática de moedas romanas da Antiguidade Tardia na Baixa Saxônia”, sublinhando sua excepcional relevância científica.
A Relevância Histórica do Achado
O tesouro oferece uma janela sem precedentes para entender a dinâmica econômica e cultural da fronteira do Império Romano. A presença de um volume tão grande de moedas romanas em território germânico sugere intensas relações, que poderiam envolver comércio, pagamentos de tributos ou saques. A análise detalhada de cada peça pode revelar rotas comerciais, influências culturais e até mesmo os movimentos militares da época, aprofundando o conhecimento sobre as tribos germânicas que habitavam a região.
Além das moedas, o anel e a moeda de ouro, junto com as barras de prata, acrescentam camadas de mistério e riqueza à descoberta. A raridade de achados de ouro desse período na região reforça a singularidade do tesouro e a possibilidade de que o conjunto tenha pertencido a uma figura de alta importância ou tenha sido parte de um depósito significativo, talvez para rituais ou ocultamento em tempos de conflito.
Impactos da Decisão
Um dos aspectos mais notáveis e debatidos publicamente sobre esta descoberta diz respeito à decisão do Ministério Público de Hildesheim de arquivar o processo contra o homem que encontrou o tesouro. A justificativa para o arquivamento foi a sua colaboração subsequente na entrega dos artefatos e na indicação precisa do local da descoberta, o que permitiu a realização da investigação arqueológica oficial. Embora a ação inicial de prospecção tenha sido ilegal, a cooperação posterior foi um fator determinante para a não criminalização.
Esta decisão levanta discussões importantes sobre a legislação de proteção ao patrimônio histórico na Alemanha e em outros países. De um lado, há a necessidade de desencorajar a busca ilegal de artefatos, que muitas vezes resulta na perda irreparável do contexto arqueológico, crucial para a interpretação histórica. De outro, a decisão pode ser vista como um incentivo para que outros descobridores ilegais se apresentem, sabendo que a colaboração pode mitigar as consequências legais. O valor científico de um achado intacto, mesmo que descoberto irregularmente, é considerado inestimável.
Para o Escritório Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico da Baixa Saxônia, o impacto principal é a recuperação de um tesouro que agora está sob a guarda pública e à disposição da ciência. A instituição enfatiza que a prioridade é a preservação e o estudo dos objetos, que agora são considerados propriedade do estado alemão. A colaboração do descobridor, ainda que tardia, permitiu que este patrimônio fosse salvo da obscuridade e do possível desmembramento ou venda no mercado negro, onde o valor monetário poderia ofuscar sua importância cultural e histórica.
Desafios e Debates sobre Legislação
- A tensão entre a proteção do patrimônio e a legislação de prospecção amadora continua sendo um desafio global.
- As leis na Baixa Saxônia estipulam que todas as descobertas arqueológicas são propriedade do estado, independentemente de quem as encontre, visando proteger o patrimônio cultural.
- O caso reabre o debate sobre a necessidade de campanhas de conscientização para o público em geral e para a comunidade de detectores de metais sobre a importância de reportar achados e as consequências de ações ilegais.
- A ausência de informações sobre uma possível compensação ao descobridor, dado o caráter ilegal da descoberta, também é um ponto de discussão.
Próximos Passos
Com o tesouro agora sob a custódia do Escritório Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico da Baixa Saxônia, os próximos passos envolvem uma fase intensiva de conservação, catalogação e estudos. Os artefatos passarão por processos cuidadosos de limpeza e estabilização para garantir sua integridade a longo prazo. Especialistas em numismática e arqueologia continuarão a examinar as moedas, anéis e barras, buscando extrair o máximo de informações sobre sua origem, cunhagem e o contexto de seu enterramento.
Uma das expectativas mais aguardadas é a futura exposição pública do tesouro. Embora ainda não haja uma data ou local específico confirmados, é comum que achados de tamanha importância sejam exibidos em museus, permitindo que o público em geral, especialmente os Amantes de História e Arqueologia, possa apreciar de perto esses pedaços da história romana e germânica. Tal exposição seria uma oportunidade para educar sobre a importância da arqueologia e da proteção do patrimônio cultural.
O caso também pode impulsionar um reexame das políticas locais e federais na Alemanha em relação à prospecção com detectores de metais. A necessidade de equilibrar a liberdade de exploração amadora com a salvaguarda de sítios arqueológicos pode levar a novas diretrizes ou a um reforço da fiscalização. A meta é garantir que futuras descobertas contribuam plenamente para o conhecimento histórico, sem a perda de informações valiosas devido a métodos de escavação inadequados ou à ocultação de achados. A conscientização e o engajamento da comunidade são fundamentais para proteger esses bens históricos para as gerações futuras.
Fonte:
Aventuras na História – Homem encontra tesouro romano sem permissão na Alemanha. Aventuras na História
Diário do Centro do Mundo – Homem encontra tesouro romano ilegalmente e guarda por 8 anos; entenda. Diário do Centro do Mundo
Cuiabano News – Homem descobre tesouro ilegalmente com detector de metais e o esconde por 8 anos. Cuiabano News
