A análise do ex-embaixador Thomas Shannon revela que a mudança de postura de Donald Trump em relação ao Brasil foi impulsionada pelo reconhecimento de sua inabilidade em influenciar o caso Bolsonaro e pelos interesses do setor privado americano frente às tarifas.
Uma notável reaproximação diplomática está em curso entre os Estados Unidos e o Brasil, com os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva engajados em gestos públicos e negociações para um futuro encontro presencial. Este alívio nas tensões, observado nas últimas semanas após encontros na ONU, ligações telefônicas e na Cúpula da Asean, é atribuído, segundo o experiente diplomata e ex-embaixador Thomas Shannon, a uma dupla motivação: o reconhecimento por Trump de que suas tentativas de interferência no processo judicial de Jair Bolsonaro eram infrutíferas – um capítulo que o ex-presidente americano agora considera “encerrado” – e a crescente pressão do setor privado americano, afetado pelas tarifas impostas aos produtos brasileiros. Esta virada estratégica sinaliza uma nova fase nas relações bilaterais.
Contexto
As relações entre Estados Unidos e Brasil passaram por um período de significativa volatilidade, especialmente durante as administrações de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Embora houvesse uma aparente afinidade ideológica entre os dois líderes, a dinâmica bilateral não foi imune a tensões e flutuações, culminando, mais recentemente, em uma fase de alta instabilidade diplomática.
A situação se agravou com a imposição de tarifas alfandegárias sobre produtos brasileiros pelo governo americano, impactando diretamente setores econômicos vitais para ambos os países. Essa medida gerou descontentamento e pressão considerável por parte do setor privado dos EUA, que via seus custos aumentarem e sua competitividade comprometida devido às barreiras comerciais.
Nesse cenário de tensões, a figura de Thomas Shannon, ex-embaixador dos EUA no Brasil entre 2009 e 2013 e subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, emergiu como uma peça chave. Atualmente, ele atua como assessor sênior de Política Internacional para o escritório de advocacia Arnold & Porter, contratado pelo governo brasileiro especificamente para negociar a reversão dessas tarifas em Washington. Sua análise, publicada por diversos veículos de imprensa, oferece uma perspectiva interna sobre as motivações por trás da guinada de Trump.
A Virada de Trump e o Fator Bolsonaro
Segundo Shannon, em entrevistas a veículos de imprensa, Donald Trump teria feito uma reavaliação estratégica crucial. O diplomata aposentado afirma que o ex-presidente americano reconheceu o fracasso de suas tentativas de interferir no processo judicial de Jair Bolsonaro. É importante ressaltar que essa afirmação de Shannon é feita sem demonstrar evidências diretas sobre o reconhecimento de Trump, um ponto que deve ser considerado na avaliação de suas declarações.
Para Trump, a questão envolvendo Bolsonaro, especialmente após a condenação e os desdobramentos jurídicos no Brasil, tornou-se uma “página virada”. Esta percepção teria liberado Trump de um alinhamento político que, naquele momento, não oferecia mais benefícios ou caminhos para sua agenda externa, conforme a interpretação de Shannon.
A cronologia da reaproximação aponta para gestos concretos: um encontro entre representantes na Organização das Nações Unidas (ONU), uma ligação telefônica e interações durante a Cúpula da Asean. Esses eventos marcaram o início de um degelo, pavimentando o caminho para um potencial encontro presencial entre os dois líderes.
Impactos da Decisão
A mudança de postura de Donald Trump, tal como descrita por Thomas Shannon, projeta impactos multifacetados nas esferas política, econômica e diplomática para ambos os países. No âmbito político, a suposta desvinculação de Trump da pauta de Bolsonaro realinha o tabuleiro internacional, potencialmente isolando ainda mais o ex-presidente brasileiro no cenário global.
Para Luiz Inácio Lula da Silva, essa reaproximação com uma figura de peso na política americana, mesmo que de oposição ao atual governo Biden, representa uma vitória diplomática. Fortalece a posição do Brasil no cenário internacional e demonstra a capacidade do governo Lula de navegar por diferentes espectros políticos em busca de interesses nacionais.
Economicamente, a pressão do setor privado americano sobre as tarifas impostas ao Brasil é um fator crucial. A reversão dessas tarifas, objetivo da atuação de Thomas Shannon em Washington, poderia injetar um novo fôlego nas relações comerciais. Empresas dos EUA, que dependem da importação de produtos brasileiros, bem como as exportadoras brasileiras, seriam as principais beneficiadas.
Repercussões no Comércio Bilateral
A manutenção ou remoção dessas barreiras alfandegárias afeta diretamente os consumidores em ambos os países, os preços de bens e a competitividade industrial. Uma política tarifária mais flexível ou a completa abolição das taxas representaria um alívio e um estímulo para o comércio bilateral, que é historicamente robusto entre Brasil e Estados Unidos.
O impacto se estende também aos investimentos. Um ambiente de maior estabilidade diplomática e comercial tende a atrair mais capital estrangeiro, beneficiando o desenvolvimento econômico de ambos os lados. A incerteza gerada pelas tarifas, por outro lado, pode desestimular novos empreendimentos e a expansão de negócios já existentes.
Do ponto de vista diplomático, a trégua e a busca por um encontro entre Trump e Lula indicam uma priorização dos interesses estratégicos sobre as afinidades ideológicas. Isso sugere uma maturação nas relações internacionais, onde a pragmática busca por soluções econômicas e políticas supera alinhamentos pessoais ou partidários anteriores.
Próximos Passos
Os próximos meses serão decisivos para consolidar a reaproximação entre Estados Unidos e Brasil. As negociações para um encontro presencial entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva estão em andamento, e a concretização dessa reunião seria um forte sinal de distensão e de uma nova fase nas relações bilaterais.
A pauta para um eventual encontro, embora não confirmada oficialmente, deverá incluir temas cruciais como a revisão das tarifas impostas aos produtos brasileiros, a cooperação em áreas estratégicas como meio ambiente e energia, e a busca por posições conjuntas em foros internacionais. A presença de Thomas Shannon como lobista do governo brasileiro em Washington sublinha a importância da questão tarifária.
Ainda há incerteza sobre os prazos para a completa reversão das tarifas e a formalização de acordos comerciais mais abrangentes. Contudo, a disposição de diálogo por parte de Trump, conforme a análise de Shannon, abre caminhos para que as negociações avancem de forma mais ágil e construtiva.
Desafios e Cenários Futuros
Um dos principais desafios será navegar a política interna americana, especialmente em um ano eleitoral. A pauta de Trump, caso ele venha a ser candidato novamente, pode influenciar a velocidade e o escopo das negociações com o Brasil. A sensibilidade política exigirá habilidade diplomática de ambos os lados.
Além disso, a sustentabilidade dessa reaproximação dependerá de acordos concretos e da percepção de benefícios mútuos. A apenas gestos simbólicos podem não ser suficientes para solidificar uma trégua duradoura, especialmente se as questões econômicas fundamentais, como as tarifas, não forem resolvidas de forma satisfatória para o Brasil.
Observadores internacionais e analistas políticos estarão atentos aos desdobramentos, que podem sinalizar um realinhamento mais amplo das forças políticas no hemisfério ocidental. A capacidade de Brasil e Estados Unidos de superarem divergências e focarem em interesses comuns será um termômetro para a diplomacia global.
Fonte:
BBC News Brasil – Título indisponível. BBC News Brasil
InfoMoney – Trump vê Bolsonaro “página virada”, diz ex-embaixador dos EUA. InfoMoney
Poder360 – Bolsonaro é “página virada” para Trump, diz diplomata dos EUA. Poder360
