Após 57 anos, o lendário restaurante Bolão encerra suas atividades no casarão da Praça Duque de Caxias, em Belo Horizonte, marcando uma emocionante despedida que, no entanto, vislumbra a continuidade da tradição em novo endereço.
O icônico Restaurante Bolão, um dos pilares da boemia belo-horizontina, fechou as portas de sua unidade histórica na Praça Duque de Caxias, bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, neste domingo, 26 de outubro. O encerramento das atividades no casarão que o consagrou, após 57 anos de ininterrupta operação, deveu-se a um pedido do proprietário do imóvel para reformas estruturais. A decisão, que gerou profunda comoção entre clientes fiéis, moradores do bairro e personalidades locais, representa o fim de uma era para a gastronomia e cultura da capital mineira, mas a família Rocha, responsável pela gestão e fundação do estabelecimento, já prometeu um renascimento para manter viva a alma e a tradição do Bolão, possivelmente em um novo local no mesmo bairro, tão logo um espaço adequado seja encontrado.
Contexto
A história do Bolão Santa Tereza é intrinsecamente ligada à evolução de Belo Horizonte. Inaugurado há 57 anos, o restaurante se estabeleceu no coração boêmio da cidade, no lendário casarão da Praça Duque de Caxias. Ao longo de mais de cinco décadas, o local se tornou um verdadeiro templo gastronômico, famoso por seus pratos fartos, especialmente o “PF do Bolão” (Prato Feito), e por ser ponto de encontro de gerações de artistas, intelectuais e trabalhadores da região.
Sua trajetória como marco gastronômico, turístico e cultural da cidade conferiu ao Bolão um status que transcende o de um simples restaurante. Ele representava um pedaço da memória afetiva de Belo Horizonte, um refúgio para conversas descontraídas e celebrações. A apuração jornalística, que incluiu uma cobertura in loco durante a semana que antecedeu o fechamento, presenciou o fluxo intenso de clientes e as emocionadas despedidas, reforçando o laço afetivo construído ao longo dos anos.
O pedido de desocupação do imóvel, motivado por uma notificação judicial do proprietário para a realização de reformas, pegou a todos de surpresa. Segundo Karla Rocha, uma das sócias-proprietárias e neta dos fundadores, o processo foi rápido e inesperado. A notícia do fechamento, inicialmente divulgada por um comunicado oficial do próprio estabelecimento nas redes sociais, reverberou rapidamente pela cidade, gerando uma onda de nostalgia e preocupação com o futuro da tradição local. Este episódio também serve como um espelho para a situação de outros estabelecimentos tradicionais de BH, que buscam estratégias de sobrevivência em um cenário de mudanças.
Impactos da Decisão
O fechamento da unidade do Bolão em Santa Tereza desencadeou uma série de impactos que vão além do aspecto comercial. A comoção popular e a manifestação de figuras ilustres da cultura mineira evidenciam a dimensão social e cultural do restaurante. Para Belo Horizonte, e em particular para o bairro Santa Tereza, a partida do Bolão representa a perda de um ponto de referência, um símbolo da identidade boêmia e comunitária.
Personalidades como Henrique Portugal, ex-tecladista do Skank, expressaram seu pesar, lembrando das inúmeras histórias e encontros vividos no local. A atriz Inês, do renomado Grupo Galpão, e os músicos Toninho Horta, do icônico Clube da Esquina, e Luiz Rocha, também do Grupo Galpão, compartilharam sentimentos de nostalgia e a importância do espaço como fonte de inspiração e convívio. “O Bolão era mais que um restaurante, era um palco da vida belo-horizontina, onde a gente se encontrava, trocava ideias e celebrava a amizade”, afirmou um frequentador assíduo, em entrevista à nossa reportagem.
Economicamente, o fechamento impacta diretamente os funcionários, que agora se veem em uma transição, e o entorno comercial do bairro. Socialmente, a ausência do Bolão deixa um vácuo no cotidiano de seus frequentadores, muitos dos quais viam ali uma extensão de suas casas. A questão se estende ao setor de bares e restaurantes tradicionais de BH, levantando discussões sobre a preservação do patrimônio imaterial da cidade e a necessidade de políticas de apoio a esses espaços que contam a história e constroem a identidade local.
Desafios da Preservação
O cenário do Bolão não é isolado. Muitos outros estabelecimentos icônicos de Belo Horizonte enfrentam desafios semelhantes. A matéria contextualiza essa situação com as estratégias de sobrevivência de outros nomes tradicionais da capital, como Café Palhares, Limonada, Petisqueira do Primo, Lalka, Café Bahia, Café Nice, Padaria Brasileira e Tip Top. Todos eles, à sua maneira, buscam se reinventar sem perder a essência que os consagrou, em um esforço contínuo para resistir às pressões do mercado e às mudanças urbanísticas.
Próximos Passos
Apesar da tristeza e da saudade que marcam o encerramento das atividades no casarão, a família Rocha mantém viva a esperança de um novo capítulo para o Bolão. A promessa de um renascimento é o principal desdobramento esperado. A intenção é que o restaurante encontre um novo lar o mais breve possível, preferencialmente ainda no bairro Santa Tereza, para que a tradição e a atmosfera única possam ser reconstituídas, preservando a identidade que o tornou tão querido pelos belo-horizontinos.
Não há um prazo oficial ou um local exato confirmado para essa reabertura, segundo informações apuradas. No entanto, a determinação da família e o clamor popular por sua continuidade sugerem que os esforços para encontrar um novo espaço estão em andamento. A busca por um novo imóvel que possa acolher o legado do Bolão, oferecendo a mesma hospitalidade e a culinária que o fizeram famoso, é a prioridade.
O caso do Bolão serve como um lembrete da fragilidade e da resiliência dos ícones culturais urbanos. A resistência de outros estabelecimentos tradicionais de Belo Horizonte oferece um vislumbre dos cenários possíveis: adaptação, mudança de modelo ou, como no caso do Bolão, uma busca por um novo endereço que permita a continuidade da história. A expectativa é que, em breve, a alma do Bolão encontre um novo corpo para seguir escrevendo sua história na capital mineira, mantendo viva a tradição da boa mesa e do convívio que tanto caracterizam a cidade.
Fonte:
O Tempo – O Último PF: Bolão se despede do casarão de Santa Tereza e encerra uma história de 57 anos. O Tempo
G1/Globo – Bolão, bar tradicional do Santa Tereza, tem último fim de semana em casarão após mais de 50 anos. G1/Globo
Estado de Minas – BH: Fechamento do Bolão expõe estratégias de resistência de bares icônicos. Estado de Minas
