Ministro surpreende ao solicitar agendamento de sessão virtual extraordinária para ADPF 442 em seu último dia no cargo, reacendendo debate nacional.
O ministro Luís Roberto Barroso, em seu último dia como membro do Supremo Tribunal Federal (STF), surpreendeu ao formalizar um pedido para o agendamento de uma sessão virtual extraordinária. O objetivo é a retomada do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que versa sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A movimentação, que ocorreu antes de sua aposentadoria e o indicativo de que pretende registrar seu voto, promete reacender o intenso debate em todo o Brasil sobre um tema de profunda sensibilidade social, jurídica e política, que estava travado desde 2023.
Contexto
A decisão de Luís Roberto Barroso de pautar novamente a ADPF 442 marca um ponto crucial na história recente do STF. A ação, protocolada em 2017 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), busca que o Supremo declare a inconstitucionalidade dos artigos do Código Penal que criminalizam a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana. O tema, desde então, tem sido objeto de grande controvérsia e polarização na sociedade brasileira.
O julgamento da ADPF 442 teve início em 2023 e foi marcado pelo voto da então relatora, ministra Rosa Weber, que se posicionou favoravelmente à descriminalização. Em seu voto, a ministra argumentou que a criminalização afeta a autonomia e a dignidade das mulheres, além de gerar desigualdades sociais, uma vez que mulheres de baixa renda são as mais prejudicadas pelas proibições. Seu voto abriu o placar em 1 a 0 pela descriminalização.
Após o voto de Rosa Weber, o ministro Luís Roberto Barroso, que agora preside o Supremo Tribunal Federal, havia pedido destaque, um movimento processual que retira a ação do plenário virtual e a leva para o plenário físico ou, como é o caso, para uma sessão virtual extraordinária, permitindo um debate mais aprofundado entre os ministros. Esse pedido de destaque foi feito ainda em 2023, mantendo o julgamento suspenso e sem previsão de retomada. O cancelamento deste pedido, aliado à solicitação de nova sessão, sinaliza a intenção de Barroso de votar antes de seu desligamento da Corte, com a urgência característica de um movimento de última hora.
Histórico Legislativo e Social
A discussão sobre o aborto no Brasil não se restringe ao judiciário, ecoando intensamente no Congresso Nacional e na sociedade civil organizada. Atualmente, o Código Penal permite o aborto apenas em três situações: em casos de estupro, quando a gravidez representa risco à vida da gestante ou em casos de anencefalia fetal, conforme decidido pelo próprio STF. Qualquer outra circunstância é considerada crime, com penas que variam para a gestante e para quem realiza o procedimento. Os movimentos sociais pró-vida e pró-escolha têm travado um embate constante, com manifestações e campanhas em todo o país, evidenciando a complexidade do tema e a paixão das posições defendidas.
Impactos da Decisão
A retomada e eventual conclusão do julgamento da ADPF 442 pelo STF pode gerar impactos profundos e multifacetados no Brasil. No campo social, a descriminalização do aborto até a 12ª semana pode representar uma mudança significativa na saúde pública, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade, que atualmente recorrem a procedimentos clandestinos e inseguros, colocando suas vidas em risco. Entidades de direitos humanos e saúde pública argumentam que a criminalização não impede o aborto, mas o torna mais perigoso, impactando desproporcionalmente as mulheres negras e de baixa renda.
Politicamente, a decisão do STF certamente reacenderá o debate no Congresso Nacional, que historicamente tem se mostrado dividido sobre o tema. Parlamentares de bancadas conservadoras podem intensificar esforços para legislar sobre o aborto, buscando, por exemplo, o fortalecimento de leis que dificultem ainda mais o acesso ou até mesmo revertam os entendimentos da Suprema Corte. Por outro lado, frentes parlamentares progressistas verão na decisão uma oportunidade de avançar em pautas relacionadas aos direitos reprodutivos e à saúde da mulher, segundo analistas políticos.
No âmbito jurídico, uma eventual decisão favorável à descriminalização consolidaria um entendimento que harmoniza a legislação brasileira com padrões internacionais de direitos humanos e saúde reprodutiva, adotados por diversos países. A ausência de uma legislação clara e o debate em torno do tema no país geram insegurança jurídica e dilemas éticos para profissionais de saúde e para as próprias mulheres. A movimentação de Barroso busca, de certa forma, impulsionar o Judiciário a oferecer uma resposta mais definitiva a essa questão, com o potencial de estabelecer um precedente histórico.
Repercussões Econômicas e Sociais
Os impactos de uma decisão do STF sobre a descriminalização do aborto também podem ser observados nas esferas econômica e de segurança pública. Estudos indicam que a criminalização impõe custos elevados ao sistema de saúde devido ao tratamento de complicações de abortos inseguros. A descriminalização poderia, em tese, realocar recursos e focar em saúde preventiva e educação sexual. Além disso, a pauta da saúde reprodutiva é um catalisador para debates mais amplos sobre a autonomia da mulher e a igualdade de gênero, mobilizando diversos setores da sociedade e organizações não governamentais.
Próximos Passos
A solicitação de Barroso para uma sessão virtual extraordinária, ao cancelar seu pedido de destaque, indica uma intenção clara de votar na ADPF 442 antes de sua aposentadoria. O futuro do julgamento, no entanto, depende do agendamento dessa sessão e da concretização dos votos dos demais ministros. Não foi informado, até o momento, a data exata em que esta sessão virtual extraordinária poderá ocorrer, o que mantém um clima de expectativa e incerteza sobre os prazos.
Caso a sessão seja agendada e Barroso registre seu voto, o placar, que hoje está em 1 a 0 (favorável à descriminalização, com o voto de Rosa Weber), será ampliado. A composição do tribunal, após a aposentadoria de Barroso e a chegada de um novo ministro, será um fator decisivo para o desfecho da ADPF 442. A indicação do sucessor de Barroso por parte do Presidente da República e a postura desse novo membro em relação ao tema do aborto poderão ser determinantes para o resultado final do julgamento.
Os próximos passos também incluem a intensa mobilização dos diversos grupos da sociedade civil organizada, tanto os favoráveis quanto os contrários à descriminalização do aborto. Manifestações públicas, campanhas de conscientização e pressão sobre os membros do STF e do Congresso Nacional são esperadas. A decisão final da Corte terá repercussões duradouras, estabelecendo um novo marco legal e social para o país em relação aos direitos reprodutivos e à vida.
Cenários Possíveis para o Julgamento
Com a retomada iminente, alguns cenários se desenham. O STF pode optar pela descriminalização do aborto até a 12ª semana, o que exigiria a reinterpretação dos artigos do Código Penal. Outra possibilidade é a manutenção da criminalização, embora essa opção pareça menos provável considerando o voto da ex-ministra Rosa Weber. Uma terceira via seria a Corte estabelecer parâmetros mais claros para a interpretação da lei, sem necessariamente descriminalizar totalmente, mas buscando reduzir os riscos associados aos procedimentos clandestinos. A complexidade do tema garante que qualquer decisão será alvo de intenso escrutínio e debate público.
Fonte:
Agência Brasil – Barroso pede retomada do julgamento sobre descriminalização do aborto. Agência Brasil
G1/Globo – De saída, Barroso pede sessão virtual extraordinária para análise de ação sobre aborto. G1/Globo
Exemplo.com – Título indisponível. Exemplo.com
